domingo, 22 de julho de 2012

Aos domingos



Jully Black - Seven Day Fool

As crianças gostam de acordar cedo aos sábados e domingos. É para brincar mais tempo. Eu acordo quase sempre no mesmo horário, é uma questão biológica. Gosto de começar o dia varrendo a varanda, coberta de folhas e flores do flamboyant e das outras plantas da pérgula. Não é preciosismo. Durante o dia ocorrem algumas rajadas de vento. Sem a varrição, tudo acaba no fundo da piscina, o que é bem mais difícil de limpar. Depois de varrer, vou ao fundo do quintal para aguar os quatro canteiros da pequena horta. Temos alfaces, cebolinha, cenoura, tomate, pimenta, manjericão e um canteiro exclusivo para as couves. Aproveito para molhar um pouco as plantas da cerca(framboesa, maracujá e xuxu), o pé de limão-china(ou cravo)e a jabuticabeira. Os brotos das flores da jabuticaba já começaram a surgir, prenúncio de mais uma grande safra. Depois de molhar as plantas, dou comida e água para o Rafa. Ele é exigente. Tenho que lavar as tijelas antes de colocar novo alimento. Do contrário, ele se afasta sem se alimentar. Quando as aulas recomeçarem, voltarei a caminhar com o Rafa pelo quarteirão.

Aos domingos não podemos demorar muito para nos aprontar, pois as crianças fazem equitação. É um luxo, é claro. Elas adoram e sempre ficam muito contentes depois de cavalgar. Vamos todos juntos para a hípica. Um dia ainda vou ceder à vontade de montar também, mas por enquanto eu e a minha mulher esperamos pacientemente pelo retorno da dupla. É um lugar agradável. Aproveitamos o tempo para ler. Também uso o tempo para desenhar. Isso sempre atrai a atenção de outras crianças ou até mesmo de adultos. Ficam sempre curiosas com o que posso estar desenhando. Em geral não tenho uma idéia pré-concebida. Desenho o que me dá na telha. Um arbusto. Um cavalo. Uma pena. Um brinquedo. Um rosto. Um sapato. Qualquer coisa. Às vezes levamos o Rafa, ele gosta de passear por lá e não tem medo dos cavalos.

O passeio na hípica pode ser um pouco chato, porque existem alto-falantes no local e o DJ adora música sertaneja brega pop universitário, qualquer porcaria assim. Mas algumas vezes o DJ não vai, o que é uma delícia. Nesses dias, você escuta os cavalos galopando, o som abafado das patas batendo no chão. Há sempre alguém saltando obstáculos, treinando pesado para as competições. E tombos também. Mas raramente alguém se machuca.

Hoje chuviscou um pouco e por isso as crianças foram ao picadeiro, um grande retângulo coberto com chão de saibro e serragem. Já sabem os nomes de muitos cavalos, têm suas preferências, comentam orgulhosos que estão trotando e até galopando. Depois fomos embora, para a casa dos avós.

Aos domingos nós gostamos de encontrar as pessoas da família, de colocar as novidades em dia, de rir um pouco, de experimentar a caipirinha, de aproveitar a cerveja gelada e a boa companhia. Mas também falamos da estupidez, das arbitrariedades e injustiças dos poderosos. Estamos à mercê de pessoas escrotas, infelizmente. E então nós agradecemos pelo alimento recebido e por estarmos juntos e em paz, desejando o bem para os que nos cercam. E depois disso sempre acontece muita coisa, mas eu não fico sabendo, porque vou cochilar um pouco. Gosto muito dos domingos.

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