terça-feira, 24 de julho de 2012

Três mulheres e o Mensalão



Kitty, Daisy & Lewis - 'Messing With My Life'

A Liberdade é bela. Sempre. Delacroix não teve dúvidas e a colocou guiando o povo com os peitos de fora no célebre quadro de 1830.  Cinqüenta anos depois a França presenteou os Estados Unidos com uma estátua da Liberdade inspirada naquela moça do quadro, só que mais vestida, mas ainda muito bonita, um mulherão.  Nós achamos tão bonita que pegamos seu rosto como efígie da nossa República. É o nosso bem maior e desde a proclamação está gravada nas nossas moedas e dinheiros.  Ela tem uma voz que se escuta até durante as lutas e tempestades e abre as asas sobre nós.  Para cantá-la se fizeram milhares de hinos.  Os políticos adoram a Liberdade que têm, que é bem maior que a minha e a sua.  Eles fazem questão de deixá-las bem felizes e exageradas, com silicone e viagens à Europa à custa dos cofres públicos, é claro.

 A Verdade não tem a mesma sorte da Liberdade.  Aparentemente, a Verdade nua e crua só pode ser horrível. Ela não tem rosto. Não tem cor. Ninguém sabe se cheira bem. Não se sabe se é grande, pequena, diminuta ou  enorme. Ninguém põe a mão no fogo por ela. Para evocá-la, homens e mulheres juram e perjuram sobre a Bíblia e a Constituição, depois dizem que estavam de dedos cruzados.  Ninguém a defende. Não me lembro de música nenhuma em sua homenagem. Nem do Chico. A Verdade quase sempre é um risco.  Deve ser por isso que a grande maioria dos políticos nem de leve a mencionam. Muitos nunca a viram, nem durante a campanha, é claro. 

Todos dizem que amam a Justiça, que é mulher de respeito, de espada no colo.  Mas isso é conversa, todos se aproveitam da mulher que é cega, coitada. Longe dos seus ouvidos, os homens e as mulheres a traem. Com o tempo, ciumenta que é, a Justiça passa a desconfiar de todas. Mas sem a Verdade, a Justiça, vira uma chifruda enlouquecida que só pensa em auxílio-paletó, mordomias e em viajar para a Europa para intercâmbios. Com a Verdade, que seja dita, nossa Justiça também não faz muita coisa, estamos cheios de histórias tristes e trágicas por aí. Os políticos adoram a Justiça, desde que ela lhes seja favorável, é claro. 

E então apareceu Mensalão, o bem dotado.

Passados sete anos, o Mensalão ainda é bicho-papão para muitos políticos do país. Mas ainda que a Justiça faça alguma coisa, Verdade seja dita, não vai se mudar nada. Essa turma nunca vai perder a Liberdade.  
 

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