segunda-feira, 29 de março de 2010

À procura de Paul Auster

Comecei um novo livro de Paul Auster. Na verdade foi o livro que começou comigo, pois caiu sobre a minha cabeça quando eu mexia na estante, hoje cedo. As coisas que acontecem por acaso são apenas coisas que acontecem por acaso, se a gente quiser. Obviamente, eu acredito em mensagens do além, em iluminação instantânea e coincidências decisivas que modificam a existência. Por isso, acabei levando o livro para meu local de leitura mais constante, o banheiro.

É mais um livro de Paul Auster que me fisga a partir do primeiro parágrafo. Li com rapidez e envolvimento fantástico umas quinze páginas. Quase perdi a hora. Tive que correr no banho de chuveiro e nem fiz a barba, para não atrasar as crianças. E cometi um erro crasso, ó minha kombi de leitores!, pois esqueci de disfarçar que estava lendo aquele livro do Paul Auster.

Rose, a secretária-faxineira-babá-cozinheira-graduanda-de-assistência-social daqui de casa, guarda todos os livros que estão sozinhos. Ela só não guarda os pares de livros, os livros acompanhados, porque presume que um deles é o da minha mulher. A minha esposa já disse várias vezes para a Rose não mexer nos livros dela e ela não esquece o que a minha mulher diz. Eu também já disse, mas a Rose tem apenas uma vaga lembrança do que eu digo para ela. Não é má fé. Ela não faz por mal. Ela esquece mesmo.

Eu sei que a única maneira de acabar com esse problema é pedindo para a minha mulher dizer para a Rose não guardar nenhum livro que estiver no banheiro. Mas eu sempre esqueço de pedir para a minha mulher. Ou talvez eu tenha algum tipo de travação de pedir coisas para a minha mulher. Uma espécie de bloqueio mental de petição.

Conheço muitos caras que não pedem favor nenhum para ninguém. Eu mesmo admito que isso às vezes me incomoda. Então, para não ficar incomodado, prefiro não pedir nada. Nem informação na rua. Reconheço que isso me traz uma série de dissabores. Mas não é orgulho besta. É preguiça de ficar incomodado e também de incomodar os outros. Informação na rua, por exemplo, é um pedido que não adianta nada porque ninguém sabe ensinar caminho direito. O melhor é ir na base da tentativa e do erro. Além disso, qualquer sujeito com um mínimo de neurônios sabe que a intuição masculina é o melhor de todos os guias. E também que seguir o próprio nariz é mais do que uma máxima, é um dos aspectos mais indissociáveis do homem moderno que não dá o braço a torcer nem que a vaca tussa.

Sim, minha querida kombi, pensei em tudo isso ainda pouco, logo depois de chegar do trabalho e verificar, in loco, que o livro do Paul Auster havia desaparecido do banheiro. Pensei em esquecer essa minha travação peticional e partir para a humildade rebaixadora e humilhante do "benhê, me ajuda a achar o livro do Paul Auster". Mas pensei melhor. Pensei inclusive que nem me lembro do título do livro. Pensei com clareza e me deu uma preguiça danada de contar para minha mulher que aquelas 15 páginas que eu li hoje cedo foram sensacionais e me serviram de incentivo adicional para começar essa semana animado e de bem com a vida. Pensei melhor e resolvi o melhor.

Amanhã de manhã bem cedo, vou remexer na estante como fiz hoje. Se esse livro quiser mesmo ser lido, tenho certeza de que voltará a cair sobre a minha cabeça.

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