quinta-feira, 18 de março de 2010

O conselho de bate pronto

Sempre tive no meu pai a certeza de uma opinião equilibrada. E com esse bom exemplo em mente, procuro ser para os meus filhos um pouco como o meu pai é para mim. Correto e claro. Mas às vezes sei que escorrego legal quando não paro para pensar.

É a minha mania de bate-pronto. Para quem não sabe, bate-pronto é uma jogada de futebol. O jogador chuta sem pensar, de primeira, com puro e apurado reflexo. É a jogada do craque por excelência, porque o craque acerta de bate-pronto na maioria das vezes. E faz o gol, porque batendo na bola de bate-pronto, sem amortecer e ajeitar, quase sempre surpreende o goleiro.

Meu pai nem sempre tem a resposta na ponta da língua. Mas é um craque em bate-pronto. Na maioria das vezes, ele é certeiro. Eu não. Erro pra caramba. E faço pior. Enrolo no reconhecimento do erro. Receio ter errado há algumas semanas, quando o meu filho chegou reclamando de um menino na escola alternativa nem tão alternativa assim.

Ele, que em abril fará sete anos, me contou que um outro menino estava muito implicante e agressivo. De imediato, eu disse que ele tem todo o direito do mundo de se defender. E também que ele nunca deveria deixar outro menino bater nele. Disse que é importante ficar atento para não deixar que nenhuma pessoa o agredisse. E que se uma pessoa agride você é perfeitamente natural gritar, reagir, revidar e até mesmo correr. De bate-pronto também disse que a gente nunca deve aceitar agressões calado. É muito importante fazer barulho nessas situações. Também falei que é perfeitamente legítimo se defender de qualquer agressor.

Ele entendeu. E acho que não dei nenhum conselho esdrúxulo até aí. Mas o meu problema é que além de ser pouco reflexivo nos meus conselhos, eu sou muito verborrágico e estrago as coisas por excesso de palavras. Eu achei que faltava alguma coisa. Então eu disse:

_Meninos maus e cachorros maus são muito parecidos. Se um cachorro vier te morder, tente acertar um tapa bem forte no focinho dele. Tum! Ele vai recuar. Mas não tire os olhos do cachorro. Se ele voltar, acerte outro tapa no focinho dele, mais forte ainda. Com os meninos maus, se eles vierem te bater, faça igualzinho. Mire no nariz e bata com toda força. Assim, pode ser até com a mão aberta.

Depois de tudo isso, procurei na minha memória para ver se meu pai alguma vez me deu um conselho parecido. E é lógico que não. Mas os tempos eram outros. Os meninos não faziam taekwendô aos seis anos. E meu irmão mais velho impunha um bocado de respeito na meninada. Talvez até tenha sido ele que me ensinou sobre a melhor forma de se livrar de um cachorro mau.

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