Ouvi de um sujeito
um tipo bem lento
depois de dois copos de aguardente
a poesia é só sentimento
Então eu fiquei tranquilo,
porque eu não era poeta
Eu não sentia nada importante
E achava poesia e poeta um saco
Eu gostava mesmo era de batatas
Depois me disseram
a poesia é puro trabalho
Coisa difícil e dura
Exige escrita com rigor
Idéia apurada, frase ardente, primor
Aí relaxei, acendi um cigarro,
Minhas rimas baratas já haviam fugido,
e meus versos sentidos,
que já eram raros,
sumiram de vez
Comi mais batatas
Minhas palavras só queriam saber
de travesseiro macio
Versos malhados e musculosos
de tanto exercício
nem passavam pela minha cachola,
Rimas tristonhas
dormiam sonolentas sobre
a minha língua
e roncavam cheias de preguiça
Mas eu não sou bobo
Para agradar as moças,
de vez em quando,
eu bancava o poeta
Fazia uma voz bonita,
declamava
Eu trouxe um laço de fita
Para a menina bonita
que olhar pra mim
pagarei a birita
E tome batata
Hoje de manhã bem cedo
Descobri um poeta escondido no espelho
Era feito um rato, o coitado
um caco fraco e doente
Acabei com ele com um golpe
de pano de prato
Não tive dó
Pena que as batatas acabaram
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