sexta-feira, 5 de março de 2010

Poesia e batatas

Ouvi de um sujeito
um tipo bem lento
depois de dois copos de aguardente
a poesia é só sentimento

Então eu fiquei tranquilo,
porque eu não era poeta

Eu não sentia nada importante
E achava poesia e poeta um saco

Eu gostava mesmo era de batatas

Depois me disseram
a poesia é puro trabalho
Coisa difícil e dura
Exige escrita com rigor
Idéia apurada, frase ardente, primor

Aí relaxei, acendi um cigarro,
Minhas rimas baratas já haviam fugido,
e meus versos sentidos,
que já eram raros,
sumiram de vez

Comi mais batatas

Minhas palavras só queriam saber
de travesseiro macio

Versos malhados e musculosos
de tanto exercício
nem passavam pela minha cachola,

Rimas tristonhas
dormiam sonolentas sobre
a minha língua
e roncavam cheias de preguiça

Mas eu não sou bobo

Para agradar as moças,
de vez em quando,
eu bancava o poeta

Fazia uma voz bonita,
declamava

Eu trouxe um laço de fita
Para a menina bonita
que olhar pra mim
pagarei a birita

E tome batata

Hoje de manhã bem cedo
Descobri um poeta escondido no espelho
Era feito um rato, o coitado
um caco fraco e doente

Acabei com ele com um golpe
de pano de prato
Não tive dó

Pena que as batatas acabaram

Nenhum comentário:

Frase do dia