De manhã bem cedo eu gosto de um café, com um pouco de leite. Em geral, acompanhado de um pão com manteiga. Minha mulher deixa no forninho para dourar um pouco. O pão fica mais crocante e gostoso. O cheiro de pão com manteiga e o cheiro do café são deliciosos. Eu não tenho muito olfato, por causa dos anos de cigarro. Só de vez em quando ele parece funcionar. E quando sinto esses cheiros gostosos de manhã bem cedo, em geral tenho um bom dia.
Estamos no meio de uma cruzada difícil, ultimamente. É a Batalha do Apetite Matinal. As crianças olham para o prato e não comem. Só enrolam. Ficam lembrando de histórias da escola. Inventam assuntos. Fazem manha. E não comem. Todos os dias inventam uma desculpa diferente. Minha mulher varia os pães. Troca a fruta, põe maçã, banana, laranja, mexirica, abacate e melancia. Nada parece funcionar.
Lembro da minha mãe. Ela colocava um chinelo sobre a mesa. Era um sistema bem persuasivo. Minha mulher barganha com o horário de video-game. Em dois dias, a barganha está esgotada. Então eu caio na besteira de falar na "máquina de bater no bumbum".
_O quê, paiê?
_A máquina de bater no bumbum. Já achei na internet. Vou comprar com o cartão de crédito e vão me mandar. É uma máquina importada dos Estados Unidos.
_Isso não existe, paiê - diz a minha menina, com os olhos assustados. Ela está mesmo em dúvida se a engenhoca existe ou não.
_Existe. Ela tem uma luva de borracha e uma corda emborrachada, assim ó. E também tem cinco velocidades de tapas no bumbum. Quanto maior o número, maior a velocidade. Dizem que na velocidade cinco seu bumbum fica vermelho igual ao quimono do Papai Noel.
_Ai, dedéu - diz o meu filho.
_Ai, caramba - diz a minha filha.
_Ai, ai, ai, ai, ai. Na velocidade cinco não se consegue falar outra coisa. Dói a beça - eu digo.
E para espantar as dúvidas, eu desenho a máquina de bater no bumbum. Nesse dia as crianças comem tudo no café da manhã. É como dizem, inovação e tecnologia são imprescindíveis.
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