Uma das coisas mais desagradáveis de se observar na disputa eleitoral, que começou lá por 2008, é o proto-candidato Neves. O Neves é demais. O Neves é fogo. O Neves é um contra-senso político movido pela vaidade absoluta e ambição rasteira. Neves é a caveira de burro do maior partido da oposição. Com Neves, ninguém anda. Sem Neves, ninguém vai.
Neves nunca chegou a 15% nas pesquisas de intenção de voto. O outro candidato do partido, nunca teve menos de 30% nas pesquisas. Mesmo assim, Neves sempre se colocou no páreo como cabeça-de-chapa. Aliás, não teve hombridade para isso. Neves é dissimulado. Ele mantém sua vontade escondida sob um dialeto obscuro, que não diz nem revela o que quer. Neves não profere frases completas e claras. Ele quer ser lido em plenitude pelo que não escreve. Neves exala. Neves é o supremo tucano. É transcendental. Faz surdina oposição à oposição. É uma carta na manga no avesso do forro falso.
Neves não diz que deseja ser convidado a vice. Neves não diz que deseja ser o candidato. Neves é o campeão das frases enigmáticas. Está onde sempre esteve. Neves torra o saco. Quer dar nó em pingo d´água. É macaco ladino e esquizofênico, acha que é raposa: desdenha do queijo na boca do corvo.
É extraordinário que seja levado a sério. Em qualquer partido, se uma pessoa tem o dobro de chances da outra de vencer uma disputa, é essa pessoa que vai disputar. Porque é óbvio que mais chances de vencer. Mas o Neves é o rei da urdidura. Acha que é o ungido. Então ele desconstrói e implode. Quer dar bom dia com o chapéu alheio. Neves atrapalha quando diz que quer ajudar. E atrapalha quando efetivamente atrapalha. Neves não diz para o que veio. Quer ser aclamado. Busca a apoteose do reconhecimento unânime. Não chuta a lata nem desocupa.
Serra, que na outra eleição foi engolido por um picolé de xuxu, colocou as barbas de molho. Aposto como teve que ficar colando caco-de-vidro por onde Neves fez suas brejeiras macaquices. Não sei se fez certo ou errado de demorar tanto a se dizer candidato. Mas errará feio se deixar de responder, tintim por tintim, todas as chacotas que lhe forem feitas. Se posar de príncipe altaneiro não subirá no cavalo. Se continuar com a postura de sabe-tudo, de rei da parafuseta, vai perder de lavada.
A greve dos professores em São Paulo é o melhor teste para Serra. O partido dele é governo em São Paulo há quanto tempo, 16 anos? Faz um bom tempo. O salário inicial de um professor de lá é de R$ 1,8 mil. Não dá pra nada. É uma merreca indiscutível. Tem que aumentar. E tem que cortar outros gastos. Só depois é que terá condições de discutir avaliação, rendimento, cobrança. Mas Serra empurra com a barriga. Desconversa. Se sair candidato sem resolver direitinho essa pendenga, já sairá perdido.
Em outros tempos, Covas foi à luta, olhou no olho, levou porrada. Mas deu a cara a tapa quando precisou dizer não. Isso requer coragem. Ao invés disso, Serra xingou um professor de energúmeno. Não precisava. Bancou o janota atrás dos seguranças. Quando se baixa o nível, o melhor é usar dissílabos, viu? Bobão. Jeca. Bocó.
Outro cara chato de se observar nessa campanha eleitoral é um que de vez em quando faz par com o Neves. É o Gomez. O “z” é de propósito. Gomez parece o herói mexicano de si mesmo. É um Cantinflas sem bigode, o Gomez. E de vez em quando põe bigode. Finge que tem arroubos messiânicos, de que vai salvar a Pátria. Mas é um finório calculista. Entra sempre para dividir. Depois apóia quem acha que vai vencer. Cobra caro o segundo turno. É o burro da fábula do Esopo. Faz parceria com leão doente. Ele se contenta com uma parte do butim. Aí percebe que o leão não vai dar mais nada, o otário. E zurra.
Gomez acha que tem uma grande virtude. Ele pensa que é o único cara na campanha que não tem medo de palanque e nem de bravata. Ele acredita que é o único que encara uma bola dividida. Ele é o rei da cotovelada e do perdigoto. Só perde para Itamar Franco o título de “Campeão do Fogo Amigo”.
Sobre as mulheres candidatas falarei pouco. As duas seguem seus ideais com determinação e garra. Nenhuma me fala ao coração. Confesso que uma me parece mais simpática do que a outra. Mas acho as duas ranzinzas e tristes. Como o Serra, são lutadoras de olheiras grandes e escuras.
Aliás, nenhum candidato, até agora, tem aparência saudável. Todos parecem personagens sombrios e caricatos de um episódio dos Simpsons. Nenhum traz no rosto a esperança de renovação, de mudança. Nenhum é alegre. Nenhum me empolga. Nenhum tem o sorriso aberto e franco. Todos parecem estar fechados em copas, nas suas trincheiras, com suas raivinhas e chiliques. Nenhum deles, até agora, me parece capaz de unir e congregar os brasileiros. Só vejo figuras divisoras. Jogadores de pôquer, ardilosos, estrategistas.
Mais uma vez, essa será uma campanha vazia de projetos, de idéias. Ainda que alguns digam ter projetos aos montes. Se têm mesmo, é projetinho de gaveta. Nenhum ganhou as ruas. Nenhum empolga multidões. Será nova disputa de personalidades, um BBB da política. A verdade, minha querida Kombi, é que faz muito tempo não se discute um projeto para o País. Será que não sabemos mais qual é o país que queremos? Talvez só saibamos arrombar a festa. Tudo parou na reconquista da democracia, mal iniciamos o fortalecimento das instituições. Somos mesmo jecas caipiras.
E só faltam setenta e poucos dias para a Copa. Com sorte, sopraremos a taça com vuvuzelas. Mas continuaremos jecas energúmenos e apedeutas.
2 comentários:
Estou contigo e não abro,Careca. Essa eleição está tão apetitosa quanto um tabule sem hortelã.
Mário, torço para melhorar.
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