Lembrei hoje do meu livro predileto dos meus vinte anos: O Mundo de Acordo com Garp. Nunca comprei uma edição decente desse livro. A que eu tenho até hoje é um papel jornal com a capa remendada. A lombada também foi recauchutada por mim. Tanto estrago é porque levava o livro para tudo quanto é lugar. Lia e relia. Nunca procurei explicar para mim mesmo porque gosto tanto desse livro. Acho que se eu racionalizar esse gostar, boa parte do encanto se perderá, sou um sentimental suspersticioso.
No livro de John Irving, Garp é um jovem escritor que consegue publicar um único livro de sucesso. Numa das passagens mais interessantes, Irving mostra qual era o método que o editor de Garp utilizava para detectar se o livro seria um sucesso de público. O sorrateiro editor deixava manuscritos para a faxineira da editora. Se a velhinha gostasse, ele sabia que o livro seria um best-seller. Para o editor de Garp, aquela velhinha faxineira era o leitor ideal daquele escritor.
Stephen King em On Writing(ainda não acabei) também fala em leitor ideal. Para ele, o leitor ideal é a esposa, Tabitha. Para Hitchcok, também a esposa era a leitora/espectadora ideal. King conta que foi ela que avisou Hitchcok para não lançar Psicose antes de corrigir a cena do chuveiro, porque Janet Leigh "engolia" quando supostamente deveria estar morta. Mas escrever para a esposa não é uma regra. Tem gente que escreve para os filhos. Tem gente que escreve para os pais. Bom, é só olhar a dedicatória, né?
Mas eles falam de escrever literatura. Nenhum fala da escrita de "posts", para a Internet. E eu fiquei pensando, poxa, para quem eu escrevo aqui? Para a minha kombi de leitores, é claro. E quem é essa kombi? Tem sujeitos bem diferentes ali dentro. E é claro também escrevo para mim. E para a minha mulher e filhos. E assim as respostas são insatisfatórias, porque é impossível ter tanta gente na cabeça quando se escreve. Pelo menos do jeito que eu escrevo. Para mim, escrever é como dizer um monte de coisas para uma só pessoa. É um diálogo ou monólogo. Ou talvez eu vá mudando de interlocutor na minha cabeça, pensei.
Mas aí de repente uma coisa mais plausível se apresentou. Eu descobri o óbvio que já estava ali, desde que comecei o blog, a quase 860 posts atrás. É simples.
Eu escrevo para quem se disponha a ficar alguns minutos debaixo dessa falsa peruca de Careca e ver o mundo com os meus olhos.
2 comentários:
só deveria colocar um aviso, para quem chega... seu blog vicia, acabo entrando todo dia.
Guilhermino, venha mesmo, procuro atualizar todos os dias.
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