Em "A Invenção da Solidão", Paul Auster escreve um longo capítulo que no final gira em torno de uma foto. Aparentemente é uma foto comum, que mostra a avó do escritor cercada pelos filhos e filhas. Uma daquelas crianças é o pai do escritor.
Subitamente, Auster chama a atenção para detalhes da foto que passam desapercebidos para quem olha com os olhos preguiçosos, de quem já viu muitas fotos de famílias do início do século vinte. E os comentários e observações obrigam você a recuar algumas páginas e olhar a foto novamente. Como o autor, você também se sente ridículo por não ter observado os detalhes significativos da foto. Os parágrafos de Auster revelam uma nova foto, muito mais importante. É uma peça-chave para a tarefa que o escritor se impõe de revelar a si mesmo na história que escreve sobre a vida de outros.
A maior qualidade de Paul Auster é sua capacidade de enfiar o dedo na ferida e rodar. Thomas Bernard também é um craque em sofrimento. Tibor Fischer também faz isso, ao mesmo tempo em que faz rir. E ninguém se compara ao Dostoiévsky. Mas Auster tem classe. E um distanciamento penoso. Paul Auster é fera, neném.
Como acontece todas as vezes que leio um livro envolvente, fico meio sorumbático. O dia passa depressa, quero mergulhar de novo na leitura quando chego do trabalho. Acho que sou um leitor, com L maiúsculo. Tenho ritmo e concentração. Sou incapaz de pular páginas. Presto atenção. Leio as dedicatórias. Sigo a ordem correta das páginas. Sou um consumidor de livros. Às vezes acho que sou tão bom em ler livros que deveria ser pago para isso. Mas aí me toco de que também adoro café.
Ler livros como A Invenção da Solidão reforçam a minha sensação de estar passando batido pelo que é realmente importante. Toda vez que leio Paul Auster acabo encurtando o meu sono. Acordo de madrugada. Acho que perco o meu tempo. Descubro negligências. Reforço a minha atenção para o que estou desatento.
Paul Auster me deixa deprimido, mas também reforça o moral. Em um momento do livro, Auster deixa bem claro que predomina no mundo a oração de São Francisco cantada por Darth Wader.
Quando uma pessoa se aproxima e fala "olha, não me agrada nem um pouco dizer isso", a verdade é que aquilo a agrada mais do que qualquer outra coisa. Quando alguém diz "desculpa qualquer coisa", ela na verdade não está se desculpando coisa nenhuma e ainda por cima vai te espezinhar. E quando alguém diz "pensei muito antes disso que vou dizer" pode sair correndo, que vem aí disparate ou agressão verbal pesada.
Fazer o contrário do discurso é mais comum do que se pensa. Mas não é uma regra. Na hora de discutir a relação, por exemplo, observe se a pessoa está vestida e não está emitindo sinais libidinosos.
quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
A invenção da solidão
O livro do Paul Auster não caiu novamente sobre a minha cabeça. Mas eu o encontrei. Chama-se "A Invenção da Solidão".
Na escola, meus filhos também estão escolhendo os livros do Clube do Livro deles. São cerca de vinte livros de cada sala, que vão rodar por todos os alunos neste semestre.
A coincidência estranha é que minha filha escolheu um livro chamado "O cavalinho solitário".
Perguntei a ela se sabia o que isso queria dizer.
_É a história de um cavalo sozinho, paiê.
_Parece triste - eu disse.
_Não, paiê, ficar sozinho às vezes é bom.
Minha filha é uma sábia.
Na escola, meus filhos também estão escolhendo os livros do Clube do Livro deles. São cerca de vinte livros de cada sala, que vão rodar por todos os alunos neste semestre.
A coincidência estranha é que minha filha escolheu um livro chamado "O cavalinho solitário".
Perguntei a ela se sabia o que isso queria dizer.
_É a história de um cavalo sozinho, paiê.
_Parece triste - eu disse.
_Não, paiê, ficar sozinho às vezes é bom.
Minha filha é uma sábia.
segunda-feira, 29 de março de 2010
À procura de Paul Auster
Comecei um novo livro de Paul Auster. Na verdade foi o livro que começou comigo, pois caiu sobre a minha cabeça quando eu mexia na estante, hoje cedo. As coisas que acontecem por acaso são apenas coisas que acontecem por acaso, se a gente quiser. Obviamente, eu acredito em mensagens do além, em iluminação instantânea e coincidências decisivas que modificam a existência. Por isso, acabei levando o livro para meu local de leitura mais constante, o banheiro.
É mais um livro de Paul Auster que me fisga a partir do primeiro parágrafo. Li com rapidez e envolvimento fantástico umas quinze páginas. Quase perdi a hora. Tive que correr no banho de chuveiro e nem fiz a barba, para não atrasar as crianças. E cometi um erro crasso, ó minha kombi de leitores!, pois esqueci de disfarçar que estava lendo aquele livro do Paul Auster.
Rose, a secretária-faxineira-babá-cozinheira-graduanda-de-assistência-social daqui de casa, guarda todos os livros que estão sozinhos. Ela só não guarda os pares de livros, os livros acompanhados, porque presume que um deles é o da minha mulher. A minha esposa já disse várias vezes para a Rose não mexer nos livros dela e ela não esquece o que a minha mulher diz. Eu também já disse, mas a Rose tem apenas uma vaga lembrança do que eu digo para ela. Não é má fé. Ela não faz por mal. Ela esquece mesmo.
Eu sei que a única maneira de acabar com esse problema é pedindo para a minha mulher dizer para a Rose não guardar nenhum livro que estiver no banheiro. Mas eu sempre esqueço de pedir para a minha mulher. Ou talvez eu tenha algum tipo de travação de pedir coisas para a minha mulher. Uma espécie de bloqueio mental de petição.
Conheço muitos caras que não pedem favor nenhum para ninguém. Eu mesmo admito que isso às vezes me incomoda. Então, para não ficar incomodado, prefiro não pedir nada. Nem informação na rua. Reconheço que isso me traz uma série de dissabores. Mas não é orgulho besta. É preguiça de ficar incomodado e também de incomodar os outros. Informação na rua, por exemplo, é um pedido que não adianta nada porque ninguém sabe ensinar caminho direito. O melhor é ir na base da tentativa e do erro. Além disso, qualquer sujeito com um mínimo de neurônios sabe que a intuição masculina é o melhor de todos os guias. E também que seguir o próprio nariz é mais do que uma máxima, é um dos aspectos mais indissociáveis do homem moderno que não dá o braço a torcer nem que a vaca tussa.
Sim, minha querida kombi, pensei em tudo isso ainda pouco, logo depois de chegar do trabalho e verificar, in loco, que o livro do Paul Auster havia desaparecido do banheiro. Pensei em esquecer essa minha travação peticional e partir para a humildade rebaixadora e humilhante do "benhê, me ajuda a achar o livro do Paul Auster". Mas pensei melhor. Pensei inclusive que nem me lembro do título do livro. Pensei com clareza e me deu uma preguiça danada de contar para minha mulher que aquelas 15 páginas que eu li hoje cedo foram sensacionais e me serviram de incentivo adicional para começar essa semana animado e de bem com a vida. Pensei melhor e resolvi o melhor.
Amanhã de manhã bem cedo, vou remexer na estante como fiz hoje. Se esse livro quiser mesmo ser lido, tenho certeza de que voltará a cair sobre a minha cabeça.
É mais um livro de Paul Auster que me fisga a partir do primeiro parágrafo. Li com rapidez e envolvimento fantástico umas quinze páginas. Quase perdi a hora. Tive que correr no banho de chuveiro e nem fiz a barba, para não atrasar as crianças. E cometi um erro crasso, ó minha kombi de leitores!, pois esqueci de disfarçar que estava lendo aquele livro do Paul Auster.
Rose, a secretária-faxineira-babá-cozinheira-graduanda-de-assistência-social daqui de casa, guarda todos os livros que estão sozinhos. Ela só não guarda os pares de livros, os livros acompanhados, porque presume que um deles é o da minha mulher. A minha esposa já disse várias vezes para a Rose não mexer nos livros dela e ela não esquece o que a minha mulher diz. Eu também já disse, mas a Rose tem apenas uma vaga lembrança do que eu digo para ela. Não é má fé. Ela não faz por mal. Ela esquece mesmo.
Eu sei que a única maneira de acabar com esse problema é pedindo para a minha mulher dizer para a Rose não guardar nenhum livro que estiver no banheiro. Mas eu sempre esqueço de pedir para a minha mulher. Ou talvez eu tenha algum tipo de travação de pedir coisas para a minha mulher. Uma espécie de bloqueio mental de petição.
Conheço muitos caras que não pedem favor nenhum para ninguém. Eu mesmo admito que isso às vezes me incomoda. Então, para não ficar incomodado, prefiro não pedir nada. Nem informação na rua. Reconheço que isso me traz uma série de dissabores. Mas não é orgulho besta. É preguiça de ficar incomodado e também de incomodar os outros. Informação na rua, por exemplo, é um pedido que não adianta nada porque ninguém sabe ensinar caminho direito. O melhor é ir na base da tentativa e do erro. Além disso, qualquer sujeito com um mínimo de neurônios sabe que a intuição masculina é o melhor de todos os guias. E também que seguir o próprio nariz é mais do que uma máxima, é um dos aspectos mais indissociáveis do homem moderno que não dá o braço a torcer nem que a vaca tussa.
Sim, minha querida kombi, pensei em tudo isso ainda pouco, logo depois de chegar do trabalho e verificar, in loco, que o livro do Paul Auster havia desaparecido do banheiro. Pensei em esquecer essa minha travação peticional e partir para a humildade rebaixadora e humilhante do "benhê, me ajuda a achar o livro do Paul Auster". Mas pensei melhor. Pensei inclusive que nem me lembro do título do livro. Pensei com clareza e me deu uma preguiça danada de contar para minha mulher que aquelas 15 páginas que eu li hoje cedo foram sensacionais e me serviram de incentivo adicional para começar essa semana animado e de bem com a vida. Pensei melhor e resolvi o melhor.
Amanhã de manhã bem cedo, vou remexer na estante como fiz hoje. Se esse livro quiser mesmo ser lido, tenho certeza de que voltará a cair sobre a minha cabeça.
domingo, 28 de março de 2010
Tom e Jerry no domingo de manhã bem cedo
Encontrei dois vídeos numa promoção do supermercado. Um vídeo do Bob Esponja e outro uma coletânea dos melhores desenhos do Tom e Jerry. O vídeo do Bob Esponja se transformou num mega-hit assim que entrou em casa. O vídeo do Tom e Jerry só deslanchou na preferência do meu público mirim, minha filha e meu filho, depois de algumas semanas. Agora toca direto. Especialmente aos domingos de manhã bem cedo.
Os desenhos são muito educativos. Uma das coisas que meu filho aprendeu com Jerry, o rato, foi aquele jeito de levantar as sobrancelhas com um olhar de espertinho, toda vez que faz alguma artimanha. E minha filha, de cinco anos, aprendeu a fazer coro com o Bob Esponja em todas as partes do desenho em que há um pedaço de música. Meu filho também canta, mas ele é mais tímido com essas coisas de cantar. Mas em geral, os desenhos desenvolvem o senso crítico e o senso de humor, ensinam os meninos e meninas a dar risada.
Para mim, os melhores desenhos animados são aqueles que eu via quando era menino, que nem sempre eram da minha geração. Em geral, eram desenhos dos anos 60. Devem ser bons mesmo, porque as TVs vivem repetindo esses desenhos. Mas de vez em quando paro e sento com eles para ver desenhos animados novos. Alguns do Batman são sensacionais. Teen Titans também é um barato, com um rockinho de entrada muito legal.
Mas o bom mesmo é o Lobo Bobo, Pernalonga, Tom e Jerry, Ligeirinho, Frajola e Piu Piu. São esses que fazem as crianças rolar de rir no sofá da sala. Junto comigo.
Os desenhos são muito educativos. Uma das coisas que meu filho aprendeu com Jerry, o rato, foi aquele jeito de levantar as sobrancelhas com um olhar de espertinho, toda vez que faz alguma artimanha. E minha filha, de cinco anos, aprendeu a fazer coro com o Bob Esponja em todas as partes do desenho em que há um pedaço de música. Meu filho também canta, mas ele é mais tímido com essas coisas de cantar. Mas em geral, os desenhos desenvolvem o senso crítico e o senso de humor, ensinam os meninos e meninas a dar risada.
Para mim, os melhores desenhos animados são aqueles que eu via quando era menino, que nem sempre eram da minha geração. Em geral, eram desenhos dos anos 60. Devem ser bons mesmo, porque as TVs vivem repetindo esses desenhos. Mas de vez em quando paro e sento com eles para ver desenhos animados novos. Alguns do Batman são sensacionais. Teen Titans também é um barato, com um rockinho de entrada muito legal.
Mas o bom mesmo é o Lobo Bobo, Pernalonga, Tom e Jerry, Ligeirinho, Frajola e Piu Piu. São esses que fazem as crianças rolar de rir no sofá da sala. Junto comigo.
sábado, 27 de março de 2010
Para quem escrevo aqui
Lembrei hoje do meu livro predileto dos meus vinte anos: O Mundo de Acordo com Garp. Nunca comprei uma edição decente desse livro. A que eu tenho até hoje é um papel jornal com a capa remendada. A lombada também foi recauchutada por mim. Tanto estrago é porque levava o livro para tudo quanto é lugar. Lia e relia. Nunca procurei explicar para mim mesmo porque gosto tanto desse livro. Acho que se eu racionalizar esse gostar, boa parte do encanto se perderá, sou um sentimental suspersticioso.
No livro de John Irving, Garp é um jovem escritor que consegue publicar um único livro de sucesso. Numa das passagens mais interessantes, Irving mostra qual era o método que o editor de Garp utilizava para detectar se o livro seria um sucesso de público. O sorrateiro editor deixava manuscritos para a faxineira da editora. Se a velhinha gostasse, ele sabia que o livro seria um best-seller. Para o editor de Garp, aquela velhinha faxineira era o leitor ideal daquele escritor.
Stephen King em On Writing(ainda não acabei) também fala em leitor ideal. Para ele, o leitor ideal é a esposa, Tabitha. Para Hitchcok, também a esposa era a leitora/espectadora ideal. King conta que foi ela que avisou Hitchcok para não lançar Psicose antes de corrigir a cena do chuveiro, porque Janet Leigh "engolia" quando supostamente deveria estar morta. Mas escrever para a esposa não é uma regra. Tem gente que escreve para os filhos. Tem gente que escreve para os pais. Bom, é só olhar a dedicatória, né?
Mas eles falam de escrever literatura. Nenhum fala da escrita de "posts", para a Internet. E eu fiquei pensando, poxa, para quem eu escrevo aqui? Para a minha kombi de leitores, é claro. E quem é essa kombi? Tem sujeitos bem diferentes ali dentro. E é claro também escrevo para mim. E para a minha mulher e filhos. E assim as respostas são insatisfatórias, porque é impossível ter tanta gente na cabeça quando se escreve. Pelo menos do jeito que eu escrevo. Para mim, escrever é como dizer um monte de coisas para uma só pessoa. É um diálogo ou monólogo. Ou talvez eu vá mudando de interlocutor na minha cabeça, pensei.
Mas aí de repente uma coisa mais plausível se apresentou. Eu descobri o óbvio que já estava ali, desde que comecei o blog, a quase 860 posts atrás. É simples.
Eu escrevo para quem se disponha a ficar alguns minutos debaixo dessa falsa peruca de Careca e ver o mundo com os meus olhos.
No livro de John Irving, Garp é um jovem escritor que consegue publicar um único livro de sucesso. Numa das passagens mais interessantes, Irving mostra qual era o método que o editor de Garp utilizava para detectar se o livro seria um sucesso de público. O sorrateiro editor deixava manuscritos para a faxineira da editora. Se a velhinha gostasse, ele sabia que o livro seria um best-seller. Para o editor de Garp, aquela velhinha faxineira era o leitor ideal daquele escritor.
Stephen King em On Writing(ainda não acabei) também fala em leitor ideal. Para ele, o leitor ideal é a esposa, Tabitha. Para Hitchcok, também a esposa era a leitora/espectadora ideal. King conta que foi ela que avisou Hitchcok para não lançar Psicose antes de corrigir a cena do chuveiro, porque Janet Leigh "engolia" quando supostamente deveria estar morta. Mas escrever para a esposa não é uma regra. Tem gente que escreve para os filhos. Tem gente que escreve para os pais. Bom, é só olhar a dedicatória, né?
Mas eles falam de escrever literatura. Nenhum fala da escrita de "posts", para a Internet. E eu fiquei pensando, poxa, para quem eu escrevo aqui? Para a minha kombi de leitores, é claro. E quem é essa kombi? Tem sujeitos bem diferentes ali dentro. E é claro também escrevo para mim. E para a minha mulher e filhos. E assim as respostas são insatisfatórias, porque é impossível ter tanta gente na cabeça quando se escreve. Pelo menos do jeito que eu escrevo. Para mim, escrever é como dizer um monte de coisas para uma só pessoa. É um diálogo ou monólogo. Ou talvez eu vá mudando de interlocutor na minha cabeça, pensei.
Mas aí de repente uma coisa mais plausível se apresentou. Eu descobri o óbvio que já estava ali, desde que comecei o blog, a quase 860 posts atrás. É simples.
Eu escrevo para quem se disponha a ficar alguns minutos debaixo dessa falsa peruca de Careca e ver o mundo com os meus olhos.
sexta-feira, 26 de março de 2010
De um energúmeno
Uma das coisas mais desagradáveis de se observar na disputa eleitoral, que começou lá por 2008, é o proto-candidato Neves. O Neves é demais. O Neves é fogo. O Neves é um contra-senso político movido pela vaidade absoluta e ambição rasteira. Neves é a caveira de burro do maior partido da oposição. Com Neves, ninguém anda. Sem Neves, ninguém vai.
Neves nunca chegou a 15% nas pesquisas de intenção de voto. O outro candidato do partido, nunca teve menos de 30% nas pesquisas. Mesmo assim, Neves sempre se colocou no páreo como cabeça-de-chapa. Aliás, não teve hombridade para isso. Neves é dissimulado. Ele mantém sua vontade escondida sob um dialeto obscuro, que não diz nem revela o que quer. Neves não profere frases completas e claras. Ele quer ser lido em plenitude pelo que não escreve. Neves exala. Neves é o supremo tucano. É transcendental. Faz surdina oposição à oposição. É uma carta na manga no avesso do forro falso.
Neves não diz que deseja ser convidado a vice. Neves não diz que deseja ser o candidato. Neves é o campeão das frases enigmáticas. Está onde sempre esteve. Neves torra o saco. Quer dar nó em pingo d´água. É macaco ladino e esquizofênico, acha que é raposa: desdenha do queijo na boca do corvo.
É extraordinário que seja levado a sério. Em qualquer partido, se uma pessoa tem o dobro de chances da outra de vencer uma disputa, é essa pessoa que vai disputar. Porque é óbvio que mais chances de vencer. Mas o Neves é o rei da urdidura. Acha que é o ungido. Então ele desconstrói e implode. Quer dar bom dia com o chapéu alheio. Neves atrapalha quando diz que quer ajudar. E atrapalha quando efetivamente atrapalha. Neves não diz para o que veio. Quer ser aclamado. Busca a apoteose do reconhecimento unânime. Não chuta a lata nem desocupa.
Serra, que na outra eleição foi engolido por um picolé de xuxu, colocou as barbas de molho. Aposto como teve que ficar colando caco-de-vidro por onde Neves fez suas brejeiras macaquices. Não sei se fez certo ou errado de demorar tanto a se dizer candidato. Mas errará feio se deixar de responder, tintim por tintim, todas as chacotas que lhe forem feitas. Se posar de príncipe altaneiro não subirá no cavalo. Se continuar com a postura de sabe-tudo, de rei da parafuseta, vai perder de lavada.
A greve dos professores em São Paulo é o melhor teste para Serra. O partido dele é governo em São Paulo há quanto tempo, 16 anos? Faz um bom tempo. O salário inicial de um professor de lá é de R$ 1,8 mil. Não dá pra nada. É uma merreca indiscutível. Tem que aumentar. E tem que cortar outros gastos. Só depois é que terá condições de discutir avaliação, rendimento, cobrança. Mas Serra empurra com a barriga. Desconversa. Se sair candidato sem resolver direitinho essa pendenga, já sairá perdido.
Em outros tempos, Covas foi à luta, olhou no olho, levou porrada. Mas deu a cara a tapa quando precisou dizer não. Isso requer coragem. Ao invés disso, Serra xingou um professor de energúmeno. Não precisava. Bancou o janota atrás dos seguranças. Quando se baixa o nível, o melhor é usar dissílabos, viu? Bobão. Jeca. Bocó.
Outro cara chato de se observar nessa campanha eleitoral é um que de vez em quando faz par com o Neves. É o Gomez. O “z” é de propósito. Gomez parece o herói mexicano de si mesmo. É um Cantinflas sem bigode, o Gomez. E de vez em quando põe bigode. Finge que tem arroubos messiânicos, de que vai salvar a Pátria. Mas é um finório calculista. Entra sempre para dividir. Depois apóia quem acha que vai vencer. Cobra caro o segundo turno. É o burro da fábula do Esopo. Faz parceria com leão doente. Ele se contenta com uma parte do butim. Aí percebe que o leão não vai dar mais nada, o otário. E zurra.
Gomez acha que tem uma grande virtude. Ele pensa que é o único cara na campanha que não tem medo de palanque e nem de bravata. Ele acredita que é o único que encara uma bola dividida. Ele é o rei da cotovelada e do perdigoto. Só perde para Itamar Franco o título de “Campeão do Fogo Amigo”.
Sobre as mulheres candidatas falarei pouco. As duas seguem seus ideais com determinação e garra. Nenhuma me fala ao coração. Confesso que uma me parece mais simpática do que a outra. Mas acho as duas ranzinzas e tristes. Como o Serra, são lutadoras de olheiras grandes e escuras.
Aliás, nenhum candidato, até agora, tem aparência saudável. Todos parecem personagens sombrios e caricatos de um episódio dos Simpsons. Nenhum traz no rosto a esperança de renovação, de mudança. Nenhum é alegre. Nenhum me empolga. Nenhum tem o sorriso aberto e franco. Todos parecem estar fechados em copas, nas suas trincheiras, com suas raivinhas e chiliques. Nenhum deles, até agora, me parece capaz de unir e congregar os brasileiros. Só vejo figuras divisoras. Jogadores de pôquer, ardilosos, estrategistas.
Mais uma vez, essa será uma campanha vazia de projetos, de idéias. Ainda que alguns digam ter projetos aos montes. Se têm mesmo, é projetinho de gaveta. Nenhum ganhou as ruas. Nenhum empolga multidões. Será nova disputa de personalidades, um BBB da política. A verdade, minha querida Kombi, é que faz muito tempo não se discute um projeto para o País. Será que não sabemos mais qual é o país que queremos? Talvez só saibamos arrombar a festa. Tudo parou na reconquista da democracia, mal iniciamos o fortalecimento das instituições. Somos mesmo jecas caipiras.
E só faltam setenta e poucos dias para a Copa. Com sorte, sopraremos a taça com vuvuzelas. Mas continuaremos jecas energúmenos e apedeutas.
Neves nunca chegou a 15% nas pesquisas de intenção de voto. O outro candidato do partido, nunca teve menos de 30% nas pesquisas. Mesmo assim, Neves sempre se colocou no páreo como cabeça-de-chapa. Aliás, não teve hombridade para isso. Neves é dissimulado. Ele mantém sua vontade escondida sob um dialeto obscuro, que não diz nem revela o que quer. Neves não profere frases completas e claras. Ele quer ser lido em plenitude pelo que não escreve. Neves exala. Neves é o supremo tucano. É transcendental. Faz surdina oposição à oposição. É uma carta na manga no avesso do forro falso.
Neves não diz que deseja ser convidado a vice. Neves não diz que deseja ser o candidato. Neves é o campeão das frases enigmáticas. Está onde sempre esteve. Neves torra o saco. Quer dar nó em pingo d´água. É macaco ladino e esquizofênico, acha que é raposa: desdenha do queijo na boca do corvo.
É extraordinário que seja levado a sério. Em qualquer partido, se uma pessoa tem o dobro de chances da outra de vencer uma disputa, é essa pessoa que vai disputar. Porque é óbvio que mais chances de vencer. Mas o Neves é o rei da urdidura. Acha que é o ungido. Então ele desconstrói e implode. Quer dar bom dia com o chapéu alheio. Neves atrapalha quando diz que quer ajudar. E atrapalha quando efetivamente atrapalha. Neves não diz para o que veio. Quer ser aclamado. Busca a apoteose do reconhecimento unânime. Não chuta a lata nem desocupa.
Serra, que na outra eleição foi engolido por um picolé de xuxu, colocou as barbas de molho. Aposto como teve que ficar colando caco-de-vidro por onde Neves fez suas brejeiras macaquices. Não sei se fez certo ou errado de demorar tanto a se dizer candidato. Mas errará feio se deixar de responder, tintim por tintim, todas as chacotas que lhe forem feitas. Se posar de príncipe altaneiro não subirá no cavalo. Se continuar com a postura de sabe-tudo, de rei da parafuseta, vai perder de lavada.
A greve dos professores em São Paulo é o melhor teste para Serra. O partido dele é governo em São Paulo há quanto tempo, 16 anos? Faz um bom tempo. O salário inicial de um professor de lá é de R$ 1,8 mil. Não dá pra nada. É uma merreca indiscutível. Tem que aumentar. E tem que cortar outros gastos. Só depois é que terá condições de discutir avaliação, rendimento, cobrança. Mas Serra empurra com a barriga. Desconversa. Se sair candidato sem resolver direitinho essa pendenga, já sairá perdido.
Em outros tempos, Covas foi à luta, olhou no olho, levou porrada. Mas deu a cara a tapa quando precisou dizer não. Isso requer coragem. Ao invés disso, Serra xingou um professor de energúmeno. Não precisava. Bancou o janota atrás dos seguranças. Quando se baixa o nível, o melhor é usar dissílabos, viu? Bobão. Jeca. Bocó.
Outro cara chato de se observar nessa campanha eleitoral é um que de vez em quando faz par com o Neves. É o Gomez. O “z” é de propósito. Gomez parece o herói mexicano de si mesmo. É um Cantinflas sem bigode, o Gomez. E de vez em quando põe bigode. Finge que tem arroubos messiânicos, de que vai salvar a Pátria. Mas é um finório calculista. Entra sempre para dividir. Depois apóia quem acha que vai vencer. Cobra caro o segundo turno. É o burro da fábula do Esopo. Faz parceria com leão doente. Ele se contenta com uma parte do butim. Aí percebe que o leão não vai dar mais nada, o otário. E zurra.
Gomez acha que tem uma grande virtude. Ele pensa que é o único cara na campanha que não tem medo de palanque e nem de bravata. Ele acredita que é o único que encara uma bola dividida. Ele é o rei da cotovelada e do perdigoto. Só perde para Itamar Franco o título de “Campeão do Fogo Amigo”.
Sobre as mulheres candidatas falarei pouco. As duas seguem seus ideais com determinação e garra. Nenhuma me fala ao coração. Confesso que uma me parece mais simpática do que a outra. Mas acho as duas ranzinzas e tristes. Como o Serra, são lutadoras de olheiras grandes e escuras.
Aliás, nenhum candidato, até agora, tem aparência saudável. Todos parecem personagens sombrios e caricatos de um episódio dos Simpsons. Nenhum traz no rosto a esperança de renovação, de mudança. Nenhum é alegre. Nenhum me empolga. Nenhum tem o sorriso aberto e franco. Todos parecem estar fechados em copas, nas suas trincheiras, com suas raivinhas e chiliques. Nenhum deles, até agora, me parece capaz de unir e congregar os brasileiros. Só vejo figuras divisoras. Jogadores de pôquer, ardilosos, estrategistas.
Mais uma vez, essa será uma campanha vazia de projetos, de idéias. Ainda que alguns digam ter projetos aos montes. Se têm mesmo, é projetinho de gaveta. Nenhum ganhou as ruas. Nenhum empolga multidões. Será nova disputa de personalidades, um BBB da política. A verdade, minha querida Kombi, é que faz muito tempo não se discute um projeto para o País. Será que não sabemos mais qual é o país que queremos? Talvez só saibamos arrombar a festa. Tudo parou na reconquista da democracia, mal iniciamos o fortalecimento das instituições. Somos mesmo jecas caipiras.
E só faltam setenta e poucos dias para a Copa. Com sorte, sopraremos a taça com vuvuzelas. Mas continuaremos jecas energúmenos e apedeutas.
quinta-feira, 25 de março de 2010
Um trote as avessas
_Alô, boa noite!? É da casa do Seu Careca?
_Pois não?
_É da casa do Seu Careca?
_É sim, quem deseja falar?
_O Seu Careca está?
_Sim, quem deseja falar?
_Aqui é do ...
_Edu? É você Edu?
_Não, Seu Careca, aqui é do...
_Não é o Dudu? Então quem é?
_Aqui é o Raimundo, Seu Careca, do banco...
_É o Rái?
_Sim, Seu Careca, aqui é o Raimundo, do banco...
_Fala Rái, quanto tempo, hein?
_Seu Careca, eu acho que...
_Tem bem uns três anos que a gente não se fala, né Rái?
_Seu Careca, está havendo um terrível...
_Já está na hora de me pagar, né Rái?
_Espera aí, Seu Careca, eu sou do banco...
_Te aceitaram de volta? Eu não sabia que estelionatário...
_Peraí, peraí, Seu Careca, meu nome é Raimundo mas eu sou trabalhador.
_Não é o Rái?
_Não, Seu Careca, aqui é outro Raimundo, o do banco.
_Então desculpe, Raimundo, foi engano.
(Clic)
_Alô, boa noite!? É da casa do Seu Careca?
_Sim, é da residência do Seu Careca, pois não?
_Seu Careca, aqui é do...
_O Seu Careca não está. Aqui é o mordomo.
_Mordomo?
_É, ao seu dispor. Quer deixar recado?
_A que horas eu posso falar com o Seu Careca?
_Que horas são?
_Hã? São oito e dez.
_Amanhã, então, nesse mesmo horário.
(Clic)
_Alô, boa noite!? É da Residência do Seu Careca?
_Rái? É você?
_Desculpe, é da Residência do Seu Careca?
_Você quer falar com quem?
_Eu poderia falar com o Seu Careca?
_Eu poderia saber quem está falando?
_Seu Careca, aqui quem fala é ...
_Aqui não é o Seu Careca, é o mordomo dele.
_O Seu Careca está?
_Está.
_Eu poderia falar com ele?
_Não.
_Desculpe, mas o Seu Careca está?
_Está.
_E porque eu não posso falar com ele?
_Porque ele me demitiu.
_Como?
_O Seu Careca me demitiu, mas nem me importo, ele é um patrão horroroso, nunca me pagou décimo-terceiro, não me dava férias e eu tinha que tirar a passagem do salário, mas ele vai ver só, porque vou entrar na justiça e ...alô?
(clic)
_Pois não?
_É da casa do Seu Careca?
_É sim, quem deseja falar?
_O Seu Careca está?
_Sim, quem deseja falar?
_Aqui é do ...
_Edu? É você Edu?
_Não, Seu Careca, aqui é do...
_Não é o Dudu? Então quem é?
_Aqui é o Raimundo, Seu Careca, do banco...
_É o Rái?
_Sim, Seu Careca, aqui é o Raimundo, do banco...
_Fala Rái, quanto tempo, hein?
_Seu Careca, eu acho que...
_Tem bem uns três anos que a gente não se fala, né Rái?
_Seu Careca, está havendo um terrível...
_Já está na hora de me pagar, né Rái?
_Espera aí, Seu Careca, eu sou do banco...
_Te aceitaram de volta? Eu não sabia que estelionatário...
_Peraí, peraí, Seu Careca, meu nome é Raimundo mas eu sou trabalhador.
_Não é o Rái?
_Não, Seu Careca, aqui é outro Raimundo, o do banco.
_Então desculpe, Raimundo, foi engano.
(Clic)
_Alô, boa noite!? É da casa do Seu Careca?
_Sim, é da residência do Seu Careca, pois não?
_Seu Careca, aqui é do...
_O Seu Careca não está. Aqui é o mordomo.
_Mordomo?
_É, ao seu dispor. Quer deixar recado?
_A que horas eu posso falar com o Seu Careca?
_Que horas são?
_Hã? São oito e dez.
_Amanhã, então, nesse mesmo horário.
(Clic)
_Alô, boa noite!? É da Residência do Seu Careca?
_Rái? É você?
_Desculpe, é da Residência do Seu Careca?
_Você quer falar com quem?
_Eu poderia falar com o Seu Careca?
_Eu poderia saber quem está falando?
_Seu Careca, aqui quem fala é ...
_Aqui não é o Seu Careca, é o mordomo dele.
_O Seu Careca está?
_Está.
_Eu poderia falar com ele?
_Não.
_Desculpe, mas o Seu Careca está?
_Está.
_E porque eu não posso falar com ele?
_Porque ele me demitiu.
_Como?
_O Seu Careca me demitiu, mas nem me importo, ele é um patrão horroroso, nunca me pagou décimo-terceiro, não me dava férias e eu tinha que tirar a passagem do salário, mas ele vai ver só, porque vou entrar na justiça e ...alô?
(clic)
quarta-feira, 24 de março de 2010
A lógica de arrumação do Careca e o kit remendo
Outro dia o pneu de uma das bicicletas estava vazio. Eu não consegui encontrar o kit de cola e remendo de pneu que eu comprei. Rose(a secretária graduanda que também é cozinheira, babá e faxineira) utiliza o método de entulhar todas as coisas que estão fora do lugar nos armários. Desse modo, se você esquecer alguma coisa fora da ordem aqui em casa é provável que não encontre nunca, a não ser que pergunte para a Rose. Ela acha tudo o que esconde, pelo menos isso. Mas o kit remendo ela não encontrou, sinal de que eu mesmo é que devo ter guardado.
Eu tinha um bom método de guardar as coisas. Eu deixava à vista, nas prateleiras vazadas, fora de gavetas. O grande problema é que desde que a minha mulher planejou, executou e fez tudo sozinha na reforma do apê, aqui em casa não tem mais prateleiras. Quer dizer, só tem prateleira em armário. Fechado. Nada fica à vista. Eu não encontro nada.
As minhas prateleiras ficavam em volta do computador. Sabiamente e ao longo de vários anos, eu fui arquitetando uma série de prateleiras num canto da varanda que eu usava como escritório. Não era muito bonito de se ver, mas funcionava. Se eu precisasse de uma tesoura, estava ali, ao alcance da mão e dos olhos. Se eu quisesse uma resma, ali estava. Se eu sentisse vontade de pegar na minha coleção de tampinhas de refrigerante, pronto. Remédio? Óculos reserva? Fio dental? Lupa? Estava tudo ali. Era só esticar o braço.
Desde o ano passado a coisa mudou. Com o sumiço das minhas prateleiras, tive que adaptar a minha lógica de arrumação para o mobiliário restante. A estante aberta teve usucapião requerido e objetivado pela minha mulher, só consegui uma prateleirazinha de nada. O armário novo, um colosso que demorei seis horas para montar, passou a abrigar todas as minhas quincalharias cuidadosamente entulhadas pela minha mulher e pela secretária graduanda. Um horror, não acho mais nada.
Às vezes eu abro a porta do armário e me lembro dos dias felizes, onde eu conseguia encontrar uma caixa de clips, da minha coleção de caixas de clips. Hoje eu passo uns bons minutos para encontrar qualquer coisa. Demora tanto que às vezes eu esqueço o que eu estou procurando e fecho a porta do armário. Por isso desenvolvi uma nova técnica para encontrar coisas nos armários entulhados daqui de casa. Fico resmungando em ritmo hipnótico. É uma repetição tipo mantra do que estou procurando, para não esquecer o que procuro. Tipo assim:
_Kit remendo, kiiit remeendooo, kiiiiiiit reeeemmmeeeenddddoooo.
E na maioria das vezes funciona para lembrar as coisas. Mas a repetição mântrica hipnótica não é uma panacéia para todos os esquecimentos. A verdade é que para encontrar mesmo alguma coisa, eu tenho que pedir a ajuda de São Longuinho. No mínimo, três vezes. Além disso, repetir provoca profundos efeitos colaterais, minha mulher e meus filhos escutam os meus mantras xamânicos lembrativos e acham que eu estou virando um resmungão. Nem tento fazê-los mudar de idéia, porque vai parecer mais resmungo.
terça-feira, 23 de março de 2010
Conversa no trabalho
_Eu não quero assistir ao julgamento do casal suspeito de infanticídio. Eu não quero detalhes do crime, das atrocidades, das acusações e da defesa. Eu não quero - diz uma colega minha, no trabalho.
_Eu não acredito que a exposição das maldades dos outros produza algum tipo de benefício - diz outra pessoa.
_Eu gosto mesmo é de Big Brother - diz outra colega.
_E você, Careca? - me perguntam.
_Eu não tenho opinião formada sobre esse assunto - eu digo.
_Qual assunto?
_Qualquer assunto.
_Pô, Careca, tá parecendo aquele candidato que não diz que é candidato.
_Ué, ele ainda não disse? - eu digo.
_Disse, mas não exatamente.
_Como foi isso? - eu pergunto.
_Ele deu a entender que é candidato, mas não disse isso desse jeito.
_E como ele disse?
_Ele disse que daqui a uns dias vai anunciar que será candidato.
_Ah, bom. Eu acho - eu digo.
_E você vai votar em quem, Careca?
_Ainda não decidi.
_Ainda não?
_É, preciso formar a minha opinião sobre isso.
_E em quem você não vota?
_Em quem é corrupto.
segunda-feira, 22 de março de 2010
Pelos poderes de Crânio Cinza
domingo, 21 de março de 2010
Dor de ouvido no domingo
Em Brasília, o atendimento médico para as crianças é uma merda. Se o seu filho está com uma dor de ouvido, como aconteceu hoje, domingo, dia 21 de março de 2010, não existe atendimento médico decente em lugar nenhum do plano piloto. Nem em hospital público e nem nas clínicas e hospitais particulares. Em qualquer situação, é preciso esperar horas e horas para uma palavrinha rápida com o doutor. Se for alguma coisa mais grave, prepare-se para muito sofrimento.
Fizeram uma matéria vagabunda sobre o problema naquele jornal vagabundo que tem aqui em Brasília. Os médicos reclamaram que os planos de saúde não repassavam o suficiente para a consulta pediátrica. Os hospitais endossaram a reclamação dos médicos e simplesmente eliminaram as alas pediátricas dos hospitais. E tudo ficou por isso mesmo.
Isso é mau caratismo generalizado. Os pulhas pediátricos estão traindo um juramento que fizeram quando ainda eram estudantes. Os hospitais e seus administradores devem estar contrariando todas as regras que disciplinam a prestação de serviços para a sociedade. Os planos de saúde, a gente sabe, são geridos por sujeitos que deveriam ser fatiados em lâminas bem fininhas ainda vivos, começando pelo nariz. Os gerentes públicos que deveriam fiscalizar essa turma toda também deveriam receber chibatadas pela qualidade dos serviços que não prestam.
O Distrito Federal tem as despesas com educação, segurança e saúde custeadas pelo Governo Federal. Mas se você deixa o seu filho na escola pública está arriscando o futuro do garoto. É raríssimo ver polícia na rua. E nos hospitais, qualquer um, público ou privado, você só encontra filas, filas e mais filas.
O único cidadão que não pode reclamar de nada da porcaria do sistema no Distrito Federal, porque tem tudo, é justamente o cara que mais tem reclamado. Isso mesmo, é o governador que pega boladas de bufunfa, que segura maços de notas de grana de propina e diz que é para comprar panetone. Ele recebe visitas médicas todos os dias e está cercado de policiais.
Fizeram uma matéria vagabunda sobre o problema naquele jornal vagabundo que tem aqui em Brasília. Os médicos reclamaram que os planos de saúde não repassavam o suficiente para a consulta pediátrica. Os hospitais endossaram a reclamação dos médicos e simplesmente eliminaram as alas pediátricas dos hospitais. E tudo ficou por isso mesmo.
Isso é mau caratismo generalizado. Os pulhas pediátricos estão traindo um juramento que fizeram quando ainda eram estudantes. Os hospitais e seus administradores devem estar contrariando todas as regras que disciplinam a prestação de serviços para a sociedade. Os planos de saúde, a gente sabe, são geridos por sujeitos que deveriam ser fatiados em lâminas bem fininhas ainda vivos, começando pelo nariz. Os gerentes públicos que deveriam fiscalizar essa turma toda também deveriam receber chibatadas pela qualidade dos serviços que não prestam.
O Distrito Federal tem as despesas com educação, segurança e saúde custeadas pelo Governo Federal. Mas se você deixa o seu filho na escola pública está arriscando o futuro do garoto. É raríssimo ver polícia na rua. E nos hospitais, qualquer um, público ou privado, você só encontra filas, filas e mais filas.
O único cidadão que não pode reclamar de nada da porcaria do sistema no Distrito Federal, porque tem tudo, é justamente o cara que mais tem reclamado. Isso mesmo, é o governador que pega boladas de bufunfa, que segura maços de notas de grana de propina e diz que é para comprar panetone. Ele recebe visitas médicas todos os dias e está cercado de policiais.
Faça a coisa certa
Vi no blog Coisas que andam no ar.
E achei o maior barato um cara que toca tudo sozinho.
Do Right
Juzzie Smith
sábado, 20 de março de 2010
Passeio no shopping
Um passeio no shopping pode ser complicado.
_Pai,compra isso? - diz o menino.
_Paiê, compra aquilo? - fala a menina.
_Pai, compra isso aqui?
_Paiê, eu quero que você compre aquilo pra mim.
_Pai...
_Eu não vou comprar nada - eu digo.
_Pôxa, paiê.
_Se vocês quiserem muito essas coisas, é só escrever para o Papai Noel.
_Mas pai, ainda tá longe pro Natal.
_Isso é melhor ainda, porque ele vai ter mais tempo para achar o presente.
_Não, paiê, é o Papai Noel que faz o presente, na fábrica dele.
_Ele não dá conta de fazer tudo. Tem muita criança no mundo. O Papai Noel já terceirizou a fábrica - eu digo.
_Não, pai, os duendes ajudam.
_Sim, existem duendes no mundo inteiro. Tem muito na China e na Índia - eu digo.
_E na África.
_É, na África eles fazem os bichos de brinquedo.
_Tem elefante.
_Tem zebra.
_Cadê será a sua mãe?
_Pai, compra isso?
_Paiê, compra aquilo?
Eu penso na música Help, dos Beatles.
_Pai,compra isso? - diz o menino.
_Paiê, compra aquilo? - fala a menina.
_Pai, compra isso aqui?
_Paiê, eu quero que você compre aquilo pra mim.
_Pai...
_Eu não vou comprar nada - eu digo.
_Pôxa, paiê.
_Se vocês quiserem muito essas coisas, é só escrever para o Papai Noel.
_Mas pai, ainda tá longe pro Natal.
_Isso é melhor ainda, porque ele vai ter mais tempo para achar o presente.
_Não, paiê, é o Papai Noel que faz o presente, na fábrica dele.
_Ele não dá conta de fazer tudo. Tem muita criança no mundo. O Papai Noel já terceirizou a fábrica - eu digo.
_Não, pai, os duendes ajudam.
_Sim, existem duendes no mundo inteiro. Tem muito na China e na Índia - eu digo.
_E na África.
_É, na África eles fazem os bichos de brinquedo.
_Tem elefante.
_Tem zebra.
_Cadê será a sua mãe?
_Pai, compra isso?
_Paiê, compra aquilo?
Eu penso na música Help, dos Beatles.
sexta-feira, 19 de março de 2010
Um grande moleskine
Vi pela Internet, achei legal e comprei um Moleskine Folio A3. Já faz uns dois meses. É a minha primeira aquisição pela Amazon. Meu amigo Cabeça, que já compra coisas via Amazon há anos, disse para mim que o negócio agora é esquecer.
_Não adianta criar expectativa. Demora mesmo uns dois ou três meses. Mas chega. Os Correios mandam uma notificação de que a encomenda está na agência. E aí é só pagar o que tiver que pagar e pegar.
Mas até hoje ainda não chegou. Já passamos da metade do mês de março. Até o Serra admitiu que é candidato. Mas até hoje a minha encomenda não chegou.
Quando chegar eu ainda preciso decidir o que vou fazer com um Folio A3. Acostumei a desenhar em caderninho A5, que é metade da metade de um A3.
_Não adianta criar expectativa. Demora mesmo uns dois ou três meses. Mas chega. Os Correios mandam uma notificação de que a encomenda está na agência. E aí é só pagar o que tiver que pagar e pegar.
Mas até hoje ainda não chegou. Já passamos da metade do mês de março. Até o Serra admitiu que é candidato. Mas até hoje a minha encomenda não chegou.
Quando chegar eu ainda preciso decidir o que vou fazer com um Folio A3. Acostumei a desenhar em caderninho A5, que é metade da metade de um A3.
quinta-feira, 18 de março de 2010
O conselho de bate pronto
Sempre tive no meu pai a certeza de uma opinião equilibrada. E com esse bom exemplo em mente, procuro ser para os meus filhos um pouco como o meu pai é para mim. Correto e claro. Mas às vezes sei que escorrego legal quando não paro para pensar.
É a minha mania de bate-pronto. Para quem não sabe, bate-pronto é uma jogada de futebol. O jogador chuta sem pensar, de primeira, com puro e apurado reflexo. É a jogada do craque por excelência, porque o craque acerta de bate-pronto na maioria das vezes. E faz o gol, porque batendo na bola de bate-pronto, sem amortecer e ajeitar, quase sempre surpreende o goleiro.
Meu pai nem sempre tem a resposta na ponta da língua. Mas é um craque em bate-pronto. Na maioria das vezes, ele é certeiro. Eu não. Erro pra caramba. E faço pior. Enrolo no reconhecimento do erro. Receio ter errado há algumas semanas, quando o meu filho chegou reclamando de um menino na escola alternativa nem tão alternativa assim.
Ele, que em abril fará sete anos, me contou que um outro menino estava muito implicante e agressivo. De imediato, eu disse que ele tem todo o direito do mundo de se defender. E também que ele nunca deveria deixar outro menino bater nele. Disse que é importante ficar atento para não deixar que nenhuma pessoa o agredisse. E que se uma pessoa agride você é perfeitamente natural gritar, reagir, revidar e até mesmo correr. De bate-pronto também disse que a gente nunca deve aceitar agressões calado. É muito importante fazer barulho nessas situações. Também falei que é perfeitamente legítimo se defender de qualquer agressor.
Ele entendeu. E acho que não dei nenhum conselho esdrúxulo até aí. Mas o meu problema é que além de ser pouco reflexivo nos meus conselhos, eu sou muito verborrágico e estrago as coisas por excesso de palavras. Eu achei que faltava alguma coisa. Então eu disse:
_Meninos maus e cachorros maus são muito parecidos. Se um cachorro vier te morder, tente acertar um tapa bem forte no focinho dele. Tum! Ele vai recuar. Mas não tire os olhos do cachorro. Se ele voltar, acerte outro tapa no focinho dele, mais forte ainda. Com os meninos maus, se eles vierem te bater, faça igualzinho. Mire no nariz e bata com toda força. Assim, pode ser até com a mão aberta.
Depois de tudo isso, procurei na minha memória para ver se meu pai alguma vez me deu um conselho parecido. E é lógico que não. Mas os tempos eram outros. Os meninos não faziam taekwendô aos seis anos. E meu irmão mais velho impunha um bocado de respeito na meninada. Talvez até tenha sido ele que me ensinou sobre a melhor forma de se livrar de um cachorro mau.
É a minha mania de bate-pronto. Para quem não sabe, bate-pronto é uma jogada de futebol. O jogador chuta sem pensar, de primeira, com puro e apurado reflexo. É a jogada do craque por excelência, porque o craque acerta de bate-pronto na maioria das vezes. E faz o gol, porque batendo na bola de bate-pronto, sem amortecer e ajeitar, quase sempre surpreende o goleiro.
Meu pai nem sempre tem a resposta na ponta da língua. Mas é um craque em bate-pronto. Na maioria das vezes, ele é certeiro. Eu não. Erro pra caramba. E faço pior. Enrolo no reconhecimento do erro. Receio ter errado há algumas semanas, quando o meu filho chegou reclamando de um menino na escola alternativa nem tão alternativa assim.
Ele, que em abril fará sete anos, me contou que um outro menino estava muito implicante e agressivo. De imediato, eu disse que ele tem todo o direito do mundo de se defender. E também que ele nunca deveria deixar outro menino bater nele. Disse que é importante ficar atento para não deixar que nenhuma pessoa o agredisse. E que se uma pessoa agride você é perfeitamente natural gritar, reagir, revidar e até mesmo correr. De bate-pronto também disse que a gente nunca deve aceitar agressões calado. É muito importante fazer barulho nessas situações. Também falei que é perfeitamente legítimo se defender de qualquer agressor.
Ele entendeu. E acho que não dei nenhum conselho esdrúxulo até aí. Mas o meu problema é que além de ser pouco reflexivo nos meus conselhos, eu sou muito verborrágico e estrago as coisas por excesso de palavras. Eu achei que faltava alguma coisa. Então eu disse:
_Meninos maus e cachorros maus são muito parecidos. Se um cachorro vier te morder, tente acertar um tapa bem forte no focinho dele. Tum! Ele vai recuar. Mas não tire os olhos do cachorro. Se ele voltar, acerte outro tapa no focinho dele, mais forte ainda. Com os meninos maus, se eles vierem te bater, faça igualzinho. Mire no nariz e bata com toda força. Assim, pode ser até com a mão aberta.
Depois de tudo isso, procurei na minha memória para ver se meu pai alguma vez me deu um conselho parecido. E é lógico que não. Mas os tempos eram outros. Os meninos não faziam taekwendô aos seis anos. E meu irmão mais velho impunha um bocado de respeito na meninada. Talvez até tenha sido ele que me ensinou sobre a melhor forma de se livrar de um cachorro mau.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Porque rabisco aqui
Outro dia um amigo me perguntou porque eu mantenho esse blog. Eu expliquei que o blog é o meu aquecimento diário, que virou noturno. Escrever aqui é uma forma de manter a minha caixa de ferramentas mais ou menos afiada. É o meu recurso para exercitar a minha disciplina de escrever todos os dias e com prazer. É como o cara que toca violão. Tem que tocar diariamente para não enferrujar. E também porque não se consegue ficar sem tocar violão. Quanto menos se toca, pior.
Não me preocupo muito com a qualidade do que escrevo aqui. Embora algumas vezes eu tenha pedido desculpas por uma idéia ou outra exageradamente preconceituosa. Ou errada. Raramente reviso o texto. E desde que comecei a escrever somente à noite, escrevo diretamente na caixa de postagem do blog. Quando termino, leio mais uma vez os cinco ou seis parágrafos e clico em publicar postagem.
Muito raramente volto aos textos. Isso só acontece quando alguém coloca um comentário. Respondo a todos os comentários e só não publiquei uns poucos por causa do excesso de palavrões recebidos. Mas, em geral, as pessoas fazem comentários generosos e gentis. Algumas vezes, ninguém comenta. Não vejo nenhum problema nisso. Eu também não comento todos os posts que eu leio. E, na maioria das vezes, eu só vou ler outros blogs depois de ter atualizado o Caminho do Careca.
É impossível escrever se você não lê. E é importante ler os caras que são do primeiro time, os sujeitos que fisgam você do primeiro ao último parágrafo. Eu leio todos os dias. Quanto mais eu leio, mais vontade eu tenho de escrever. E vice-versa. Houve uma época em que eu só gostava de ler ficção. Quanto mais delirante, melhor. Em outro período, fiquei lendo só romance policiais. Teve outro tempo em que eu só pegava escritor cerebral, com pouco diálogo. E depois teve um tempo longo em que eu lia só o que não me incomodava. Num período bem curto, eu li um monte de livros pesados e tristes de escritores irlandeses, alemães e austríacos, quase fiquei doido.
Sempre amei ler. É a minha atividade predileta desde a infância. E desde a minha infância tenho procurado me cercar de livros e de coisas ligadas aos livros.
Durante um período curto e infeliz, fiquei longe dos livros. Foi um tempo amargurado e acomodado. Nesse tempo também fiquei sem escutar música, sem procurar me inteirar das coisas. Essa época da minha vida é como se fosse uma fita magnética apagada. Um vazio de ruídos. Não me lembrar desse tempo me dá sempre uma tristeza grande, que não quero que se repita.
Não me preocupo muito com a qualidade do que escrevo aqui. Embora algumas vezes eu tenha pedido desculpas por uma idéia ou outra exageradamente preconceituosa. Ou errada. Raramente reviso o texto. E desde que comecei a escrever somente à noite, escrevo diretamente na caixa de postagem do blog. Quando termino, leio mais uma vez os cinco ou seis parágrafos e clico em publicar postagem.
Muito raramente volto aos textos. Isso só acontece quando alguém coloca um comentário. Respondo a todos os comentários e só não publiquei uns poucos por causa do excesso de palavrões recebidos. Mas, em geral, as pessoas fazem comentários generosos e gentis. Algumas vezes, ninguém comenta. Não vejo nenhum problema nisso. Eu também não comento todos os posts que eu leio. E, na maioria das vezes, eu só vou ler outros blogs depois de ter atualizado o Caminho do Careca.
É impossível escrever se você não lê. E é importante ler os caras que são do primeiro time, os sujeitos que fisgam você do primeiro ao último parágrafo. Eu leio todos os dias. Quanto mais eu leio, mais vontade eu tenho de escrever. E vice-versa. Houve uma época em que eu só gostava de ler ficção. Quanto mais delirante, melhor. Em outro período, fiquei lendo só romance policiais. Teve outro tempo em que eu só pegava escritor cerebral, com pouco diálogo. E depois teve um tempo longo em que eu lia só o que não me incomodava. Num período bem curto, eu li um monte de livros pesados e tristes de escritores irlandeses, alemães e austríacos, quase fiquei doido.
Sempre amei ler. É a minha atividade predileta desde a infância. E desde a minha infância tenho procurado me cercar de livros e de coisas ligadas aos livros.
Durante um período curto e infeliz, fiquei longe dos livros. Foi um tempo amargurado e acomodado. Nesse tempo também fiquei sem escutar música, sem procurar me inteirar das coisas. Essa época da minha vida é como se fosse uma fita magnética apagada. Um vazio de ruídos. Não me lembrar desse tempo me dá sempre uma tristeza grande, que não quero que se repita.
terça-feira, 16 de março de 2010
Arrudão, meu kit de voodoo
No ano passado, depois de ver uns vídeos que mostravam uns corruptos recebendo maços de dinheiro de outro corrupto, comprei um The Mini Voo Doo Kit, de um tal de Voodoo Lou. É feito na China, mas você encontra nas melhores livrarias. E nas piores também. Nesse kit vem um boneco moldável de borracha e dois alfinetes. É um balão verde recheado de uma coisa bem espetável.
Em função dos acontecimentos em Brasília, resolvi apelidar o boneco de Arrudão.
No dia 11 de fevereiro, eu recortei uma cela de papelão. Colei uma plaquinha em cima, onde escrevi “Cela Especial”. Desenhei barras na cela de papelão, que pintei de preto. Na porta, coloquei um outro boneco, de um outro kit de Voo Doo para Escritório. É um boneco de terno e gravata, com óculos escuros. É mesmo a cara de um advogado de porta de cadeia. Do tipo que defende contumazes pedófilos, bicheiros e traficantes de drogas. Chamei esse outro boneco de Melião Facão.
Desde 11 de fevereiro, todos os dias eu espeto o Arrudão com os meus alfinetes de voodoo. A julgar pelo que sai nos jornais, a mandinga não está dando certo. Já Arrudão, meu boneco de voodoo, parece estar cada vez mais verde. Embora não haja nada de errado com o joelho, nem com o colesterol. Nem poderia. Arrudão não tem nada disso. Pelo que já vi, pelos buraquinhos de onde espetei os alfinetes, Arrudão tem uma espécie de massinha por dentro.
O outro, aquele que bota a mão na massa de dinheiro, não tem massinha. Mas toda vez que eu olho as agências de notícias, parece que ele está com alguém na cela especial. Nunca vi um preso receber tanta visita de médico e fazer tanto exame. O cara parece colecionar exames. E quem será que paga esse monte de consulta e exame? Licenciado sem justificativa tem médico particular, custeado pelo plano de saúde do governo? Ou o preso pediu licença médica?
Aí eu vi na internet que o sujeito flagrado em vídeo com aquele bolo de dinheiro de panetone está com alguma coisa no coração. Será que é excesso de açúcar do panetone? Seja como for, o sujeito que pegou um monte de dinheiro de propina e é investigado pela Polícia Federal não é mais governador. Acaba de ser cassado pelo TRE-DF. Veja chamada abaixo.
16/03/2010 - 20h37
TRE aprova perda de mandato de Arruda; defesa recorre ao TSE
Camila Campanerut
Do UOL Notícias
Em Brasília
Atualizada às 20h42
Por quatro votos a três, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) aprovou a ação do Ministério Público Eleitoral (MPE) de perda de mandato do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM). (...)
Mesmo assim, vou continuar a espetar o Arrudão.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Meus kits no escritório
No meu cubículo, no escritório, eu tenho um kit de festa, que eu uso para espantar pensamentos tristes, de vez em quando. Também tenho um kit de voodoo, que é bem legal. Tem um boneco verde, moldável, e dois alfinetes de cabeça grande. De vez em quando espeto ele. Coloquei esse boneco verde dentro de uma caixa de papelão recortado e escrevi em cima: "Cela Especial". Chamo esse boneco de Arrudão. Fica sobre o HD.
Também tenho um kit de cócegas, uma garra para coçar as costas e um kit de espantar corujas. A garra de coçar as costas perdeu o indicador. O kit de espantar corujas eu nunca usei.Para completar, tenho um relógio de papel especialmente desenhado para marcar a hora da auto-sabotagem.
Os meus períodos de auto-sabotagem começam a diminuir os ciclos. Não sei dizer se isso é bom. Parece que sim. Tenho observado que tenho diminuído o tempo de intervalo entre as coisas que faço contra mim mesmo. Uma dessas coisas, talvez a principal, é a minha mania de postergar projetos.
As minhas postergações de projetos não diminuíram, mas começam a acontecer mais vezes, em espaços de tempo cada vez mais curtos. Espero que seja uma espécie de aceleração final antes da parada definitiva. Obviamente, sei que a postergação não acontece sozinha, mas às vezes é confortador imaginar que eu estou no meio de uma roda viva, sem muito controle sobre o que acontece.
Isso não é verdade, mas demorei muito tempo para descobrir. Ninguém, ou quase ninguém, é tão todo-poderoso sobre o que acontece consigo mesmo. Mas ninguém é totalmente zero à esquerda. Qualquer um pode exercer controle sobre o que faz para si mesmo. Aliás, de fato, essa busca de auto-controle deveria ser o meu principal projeto desde que me entendo por gente. Mas eu falhei miseravelmente com ele durante muitos anos. Falhei tanto que nem reconheci esse projeto como realmente importante. E talvez nem exista outro projeto.
Também parei de me auto-sabotar em reuniões de pais na escola. Eu sempre fui muito falante nessas reuniões. Já me emocionei. Também contei vantagens sobre os progressos do aprendizado dos meus filhos. Na época da escola alternativa bem alternativa cheguei a levar milho cozido e pipoca numa reunião. Gaguejei. Ri com as piadas de outros pais. Fiquei feliz pelos pais de outras crianças, que finalmente começavam a controlar a vontade de ir ao banheiro.
Mas hoje entrei mudo e saí calado da primeira reunião com a nova professora na escola alternativa nem tão alternativa do meu filho. Ouvi tudo com muita atenção. E aprendi algumas coisas interessantes sobre as técnicas de ensino da escola.
No meio da reunião uma das mães presentes disse uma coisa legal sobre falar demais. De como as crianças falam muito. E de como falamos mais ainda, pedindo para que nos ouçam.
_Gente, o silêncio é bom - ela disse.
Tenho que concordar com ela, pensei com meus botões. Mas não tive coragem de abrir a boca.
Nessas reuniões de pais na escola eles sempre projetam um monte de fotos das crianças fazendo mil atividades em poses bem bobocas, em flagrantes mal enquadrados, com uma musiquinha bem irritante. O tipo da coisa piegas que, na hora, faz o olho lacrimejar e dá cócegas no nariz. Felizmente, o projetor deu problema. Mesmo assim, quando cheguei ao escritório abri o kit para espantar corujas e soprei uma cornetinha. Não fez nenhum barulho.
Também tenho um kit de cócegas, uma garra para coçar as costas e um kit de espantar corujas. A garra de coçar as costas perdeu o indicador. O kit de espantar corujas eu nunca usei.Para completar, tenho um relógio de papel especialmente desenhado para marcar a hora da auto-sabotagem.
Os meus períodos de auto-sabotagem começam a diminuir os ciclos. Não sei dizer se isso é bom. Parece que sim. Tenho observado que tenho diminuído o tempo de intervalo entre as coisas que faço contra mim mesmo. Uma dessas coisas, talvez a principal, é a minha mania de postergar projetos.
As minhas postergações de projetos não diminuíram, mas começam a acontecer mais vezes, em espaços de tempo cada vez mais curtos. Espero que seja uma espécie de aceleração final antes da parada definitiva. Obviamente, sei que a postergação não acontece sozinha, mas às vezes é confortador imaginar que eu estou no meio de uma roda viva, sem muito controle sobre o que acontece.
Isso não é verdade, mas demorei muito tempo para descobrir. Ninguém, ou quase ninguém, é tão todo-poderoso sobre o que acontece consigo mesmo. Mas ninguém é totalmente zero à esquerda. Qualquer um pode exercer controle sobre o que faz para si mesmo. Aliás, de fato, essa busca de auto-controle deveria ser o meu principal projeto desde que me entendo por gente. Mas eu falhei miseravelmente com ele durante muitos anos. Falhei tanto que nem reconheci esse projeto como realmente importante. E talvez nem exista outro projeto.
Também parei de me auto-sabotar em reuniões de pais na escola. Eu sempre fui muito falante nessas reuniões. Já me emocionei. Também contei vantagens sobre os progressos do aprendizado dos meus filhos. Na época da escola alternativa bem alternativa cheguei a levar milho cozido e pipoca numa reunião. Gaguejei. Ri com as piadas de outros pais. Fiquei feliz pelos pais de outras crianças, que finalmente começavam a controlar a vontade de ir ao banheiro.
Mas hoje entrei mudo e saí calado da primeira reunião com a nova professora na escola alternativa nem tão alternativa do meu filho. Ouvi tudo com muita atenção. E aprendi algumas coisas interessantes sobre as técnicas de ensino da escola.
No meio da reunião uma das mães presentes disse uma coisa legal sobre falar demais. De como as crianças falam muito. E de como falamos mais ainda, pedindo para que nos ouçam.
_Gente, o silêncio é bom - ela disse.
Tenho que concordar com ela, pensei com meus botões. Mas não tive coragem de abrir a boca.
Nessas reuniões de pais na escola eles sempre projetam um monte de fotos das crianças fazendo mil atividades em poses bem bobocas, em flagrantes mal enquadrados, com uma musiquinha bem irritante. O tipo da coisa piegas que, na hora, faz o olho lacrimejar e dá cócegas no nariz. Felizmente, o projetor deu problema. Mesmo assim, quando cheguei ao escritório abri o kit para espantar corujas e soprei uma cornetinha. Não fez nenhum barulho.
domingo, 14 de março de 2010
Leite adoidado
Foi aniversário do meu cunhado e ele mandou um convite para todos nós, da família. Na mensagem ele dava a entender que ao invés de presentes, ele gostaria de receber doações de litros de leite longa vida.
"O leite será doado para uma instituição de caridade" - ele explicou por e-mail.
Achei o gesto de desprendimento bonito e nobre. Ao invés de ganhar presentes, ele deu a entender que seria melhor levarmos doações. Bacana.
Por outro lado, ele contava que receberia presentes.
Aquele Careca com chifrinhos e tridente imediatamente mandou uma resposta a todos os que tinham recebido a mensagem, com exceção, é claro, do meu cunhado. Na mensagem, eu escrevi assim:
_Pessoal, tendo em vista a proximidade do meu aniversário(XX de outubro) e dentro do mesmo espírito fraterno que todos têm demonstrado nos convites da família, estou enviando em anexo o carnêzinho da campanha "Ajude o Careca a se esbaldar durante uma semana em Paris". Com o apoio de todos, mensalmente, tenho certeza de que farei essa trip de primeira classe acompanhado de uma garrafa de Romané Conti. Salut!
Em trinta segundos recebi a primeira resposta, da minha irmã, que é casada com o outro cunhado.
_Careca, levarei leite pra você!
Meu irmão mandou outra em seguida:
_Pessoal, meu aniversário está na beira, só faltam 90 dias, aceito doações de cimento e areia - disse meu irmão, que está reformando a casa.
Minha irmã mandou mensagem para ele, com cópia para mim:
_Não se preocupe. Levarei leite pra você também!
E hoje eu e meu irmão recebemos, cada um, num belo embrulho com laço de fita e cartão, um litro de leite longa vida.
"O leite será doado para uma instituição de caridade" - ele explicou por e-mail.
Achei o gesto de desprendimento bonito e nobre. Ao invés de ganhar presentes, ele deu a entender que seria melhor levarmos doações. Bacana.
Por outro lado, ele contava que receberia presentes.
Aquele Careca com chifrinhos e tridente imediatamente mandou uma resposta a todos os que tinham recebido a mensagem, com exceção, é claro, do meu cunhado. Na mensagem, eu escrevi assim:
_Pessoal, tendo em vista a proximidade do meu aniversário(XX de outubro) e dentro do mesmo espírito fraterno que todos têm demonstrado nos convites da família, estou enviando em anexo o carnêzinho da campanha "Ajude o Careca a se esbaldar durante uma semana em Paris". Com o apoio de todos, mensalmente, tenho certeza de que farei essa trip de primeira classe acompanhado de uma garrafa de Romané Conti. Salut!
Em trinta segundos recebi a primeira resposta, da minha irmã, que é casada com o outro cunhado.
_Careca, levarei leite pra você!
Meu irmão mandou outra em seguida:
_Pessoal, meu aniversário está na beira, só faltam 90 dias, aceito doações de cimento e areia - disse meu irmão, que está reformando a casa.
Minha irmã mandou mensagem para ele, com cópia para mim:
_Não se preocupe. Levarei leite pra você também!
E hoje eu e meu irmão recebemos, cada um, num belo embrulho com laço de fita e cartão, um litro de leite longa vida.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Glauco
Geraldão, para mim, é o melhor personagem criado pelo Glauco. Disparado. Na minha forma chinfrim de analisar as coisas, Geraldão era a síntese da loucura que o brasileiro classe média possui. Com deboche e exagero. Geraldão era a exposição dessa loucura da maneira mais escrachada e risível. No início da minha vida adulta, eu ri muito com as historinhas do Geraldão. Ainda tenho um monte de revistas do Glauco guardadas em algum lugar.
Mas o melhor de Glauco eram as charges. Sua capacidade de síntese era única. Sua crítica era feroz, forte.
Vai fazer muita falta.
Mas o melhor de Glauco eram as charges. Sua capacidade de síntese era única. Sua crítica era feroz, forte.
Vai fazer muita falta.
quinta-feira, 11 de março de 2010
A máquina de bater no bumbum
De manhã bem cedo eu gosto de um café, com um pouco de leite. Em geral, acompanhado de um pão com manteiga. Minha mulher deixa no forninho para dourar um pouco. O pão fica mais crocante e gostoso. O cheiro de pão com manteiga e o cheiro do café são deliciosos. Eu não tenho muito olfato, por causa dos anos de cigarro. Só de vez em quando ele parece funcionar. E quando sinto esses cheiros gostosos de manhã bem cedo, em geral tenho um bom dia.
Estamos no meio de uma cruzada difícil, ultimamente. É a Batalha do Apetite Matinal. As crianças olham para o prato e não comem. Só enrolam. Ficam lembrando de histórias da escola. Inventam assuntos. Fazem manha. E não comem. Todos os dias inventam uma desculpa diferente. Minha mulher varia os pães. Troca a fruta, põe maçã, banana, laranja, mexirica, abacate e melancia. Nada parece funcionar.
Lembro da minha mãe. Ela colocava um chinelo sobre a mesa. Era um sistema bem persuasivo. Minha mulher barganha com o horário de video-game. Em dois dias, a barganha está esgotada. Então eu caio na besteira de falar na "máquina de bater no bumbum".
_O quê, paiê?
_A máquina de bater no bumbum. Já achei na internet. Vou comprar com o cartão de crédito e vão me mandar. É uma máquina importada dos Estados Unidos.
_Isso não existe, paiê - diz a minha menina, com os olhos assustados. Ela está mesmo em dúvida se a engenhoca existe ou não.
_Existe. Ela tem uma luva de borracha e uma corda emborrachada, assim ó. E também tem cinco velocidades de tapas no bumbum. Quanto maior o número, maior a velocidade. Dizem que na velocidade cinco seu bumbum fica vermelho igual ao quimono do Papai Noel.
_Ai, dedéu - diz o meu filho.
_Ai, caramba - diz a minha filha.
_Ai, ai, ai, ai, ai. Na velocidade cinco não se consegue falar outra coisa. Dói a beça - eu digo.
E para espantar as dúvidas, eu desenho a máquina de bater no bumbum. Nesse dia as crianças comem tudo no café da manhã. É como dizem, inovação e tecnologia são imprescindíveis.
Estamos no meio de uma cruzada difícil, ultimamente. É a Batalha do Apetite Matinal. As crianças olham para o prato e não comem. Só enrolam. Ficam lembrando de histórias da escola. Inventam assuntos. Fazem manha. E não comem. Todos os dias inventam uma desculpa diferente. Minha mulher varia os pães. Troca a fruta, põe maçã, banana, laranja, mexirica, abacate e melancia. Nada parece funcionar.
Lembro da minha mãe. Ela colocava um chinelo sobre a mesa. Era um sistema bem persuasivo. Minha mulher barganha com o horário de video-game. Em dois dias, a barganha está esgotada. Então eu caio na besteira de falar na "máquina de bater no bumbum".
_O quê, paiê?
_A máquina de bater no bumbum. Já achei na internet. Vou comprar com o cartão de crédito e vão me mandar. É uma máquina importada dos Estados Unidos.
_Isso não existe, paiê - diz a minha menina, com os olhos assustados. Ela está mesmo em dúvida se a engenhoca existe ou não.
_Existe. Ela tem uma luva de borracha e uma corda emborrachada, assim ó. E também tem cinco velocidades de tapas no bumbum. Quanto maior o número, maior a velocidade. Dizem que na velocidade cinco seu bumbum fica vermelho igual ao quimono do Papai Noel.
_Ai, dedéu - diz o meu filho.
_Ai, caramba - diz a minha filha.
_Ai, ai, ai, ai, ai. Na velocidade cinco não se consegue falar outra coisa. Dói a beça - eu digo.
E para espantar as dúvidas, eu desenho a máquina de bater no bumbum. Nesse dia as crianças comem tudo no café da manhã. É como dizem, inovação e tecnologia são imprescindíveis.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Mea culpa
É difícil pedir desculpas. É preciso engolir o orgulho. É preciso admitir que você não sabe tudo. Que não é perfeito. Que comete erros. E que, poxa, você vacilou.
Eu mesmo tenho grande dificuldade em admitir tudo isso e bater a mão no peito quando faço besteira, quando dou uma mancada, quando digo mais do que o dizível. Em geral, peço desculpas em voz baixa, bem miúda. E se não considerar a falta grave, talvez enrole e nem peça nada.
Em algumas ocasiões, quando pedir desculpas é algo muito constrangedor, mas necessário para a minha paz interior, eu chego perto da pessoa a quem devo desculpas e quase deixo cair alguma coisa, como se fosse desajeitado. Dou uma tossida, cóf, cóf, digo “desculpe” e sigo adiante. Se a pessoa não entender aquilo como um pedido de desculpas é problema dela, que não tem sensibilidade para entender pedidos de perdão. Eu, humanamente, fiz a minha parte.
Às vezes eu uso uma tática parecida, mas com uma diferença crucial. Eu uso um outro assunto como subterfúgio para encaixar um pedido de desculpas no meio. Assim eu pareço estar pedindo desculpas para uma pessoa, quando na verdade estou pedindo desculpas para a pessoa a quem estou contando a história. Parece complicado, mas é simples. Eu finjo que peço perdão para um, quando o pedido é dirigido para outro.
Algumas vezes, dei mancada, não pedi desculpas e esqueci o assunto, sem pensar que a sensação de culpa poderia me incomodar novamente. Mas algumas faltas, mesmo as mais idiotas, atormentam a consciência. Essas faltinhas são muito cruéis, às vezes nos assaltam de madrugada e roubam o sono dos justos. E o meu também.
A maior parte das minhas mancadas tem a ver com a escolha errada de palavras. Já escrevi aqui que a produção de um blog diário como este e a manutenção da minha rotina exigem que eu seja rápido. Se eu pensar muito, o blog fica sem texto novo. Ou então vou dormir de madrugada e tenho um péssimo dia seguinte.
Mas não é a pressa que me faz escolher as palavras erradas. Eu produzo rápido. O que me faz escolher errado é teimosia. Às vezes tenho uma idéia que não evolui satisfatoriamente para um post, é como um esboço ruim, e insisto nela. O ideal é desistir logo dessa coisa amorfa e partir para outra. Mas a minha preguiça aparece e me faz teimoso. É como dar murro em ponta de faca. A idéia ruim puxa as palavras e frases ruins. É pura insistência no erro.
Esse enorme preâmbulo é dirigido a todas as mulheres pelo péssimo post de outro dia, pelo Dia Internacional da Mulher. Cóf, cóf. Falei?
Eu mesmo tenho grande dificuldade em admitir tudo isso e bater a mão no peito quando faço besteira, quando dou uma mancada, quando digo mais do que o dizível. Em geral, peço desculpas em voz baixa, bem miúda. E se não considerar a falta grave, talvez enrole e nem peça nada.
Em algumas ocasiões, quando pedir desculpas é algo muito constrangedor, mas necessário para a minha paz interior, eu chego perto da pessoa a quem devo desculpas e quase deixo cair alguma coisa, como se fosse desajeitado. Dou uma tossida, cóf, cóf, digo “desculpe” e sigo adiante. Se a pessoa não entender aquilo como um pedido de desculpas é problema dela, que não tem sensibilidade para entender pedidos de perdão. Eu, humanamente, fiz a minha parte.
Às vezes eu uso uma tática parecida, mas com uma diferença crucial. Eu uso um outro assunto como subterfúgio para encaixar um pedido de desculpas no meio. Assim eu pareço estar pedindo desculpas para uma pessoa, quando na verdade estou pedindo desculpas para a pessoa a quem estou contando a história. Parece complicado, mas é simples. Eu finjo que peço perdão para um, quando o pedido é dirigido para outro.
Algumas vezes, dei mancada, não pedi desculpas e esqueci o assunto, sem pensar que a sensação de culpa poderia me incomodar novamente. Mas algumas faltas, mesmo as mais idiotas, atormentam a consciência. Essas faltinhas são muito cruéis, às vezes nos assaltam de madrugada e roubam o sono dos justos. E o meu também.
A maior parte das minhas mancadas tem a ver com a escolha errada de palavras. Já escrevi aqui que a produção de um blog diário como este e a manutenção da minha rotina exigem que eu seja rápido. Se eu pensar muito, o blog fica sem texto novo. Ou então vou dormir de madrugada e tenho um péssimo dia seguinte.
Mas não é a pressa que me faz escolher as palavras erradas. Eu produzo rápido. O que me faz escolher errado é teimosia. Às vezes tenho uma idéia que não evolui satisfatoriamente para um post, é como um esboço ruim, e insisto nela. O ideal é desistir logo dessa coisa amorfa e partir para outra. Mas a minha preguiça aparece e me faz teimoso. É como dar murro em ponta de faca. A idéia ruim puxa as palavras e frases ruins. É pura insistência no erro.
Esse enorme preâmbulo é dirigido a todas as mulheres pelo péssimo post de outro dia, pelo Dia Internacional da Mulher. Cóf, cóf. Falei?
terça-feira, 9 de março de 2010
segunda-feira, 8 de março de 2010
As mulheres legais cor de rosa choque
Neste ano eu resolvi não fazer uma homenagem especial ao Dia Internacional da Mulher. É porque acho essa data muito hummm... genérica, eu diria. Eu não acho que todas as mulheres merecem homenagem. Tem muita mulher bacana no mundo, algumas até bem jeitosinhas, mas acho um exagero homenagear todo um gênero. Até porque não acho que todos os homens mereçam homenagem. Tem muita Lucrécia Bórgia e homem ruim por aí, essa generalização banaliza uma data especial.
Repara que há sempre um corte, um sub-conjunto especialmente homenageado em data internacional. Dia Mundial Sem Cigarro. Dia Mundial da Árvore. Dia Internacional da Preservação da Água Potável. Dia Mundial de Andar a Pé. Dia Mundial de Andar de Bicleta de Costas Mascando Chiclete e Chupando Cana.
Por isso, eu também resolvi fazer um corte no Dia Internacional das Mulheres. Para mim é o Dia Internacional das Mulheres Legais.
E na minha opinião, todas as mulheres legais merecem uma viagem a Paris.
Sei que isso não é politicamente correto, mas as mulheres que não são legais bem que poderiam se reunir numa conferência de longa duração, num lugar bem remoto, que tivesse um vulcão prestes a entrar em erupção. Dizem que é lindo. As mulheres que não são legais poderiam, inclusive, chamar os homens que não são legais para ir com elas.
Se eu pudesse, no Dia Internacional da Mulher eu decretaria que todas as mulheres com TPM têm direito a ficar em casa. Meditando, comendo chocolate, vendo TV, fazendo o que desse na veneta, mas longe de aporrinhar os outros seres humanos. Mulher com TPM, em geral, não é legal. Essa é uma generalização perigosa, eu sei, mas tirante aqueles mulheres dos comerciais, quem você já viu naqueles dias especiais sair pela rua vestida de branco apertado, cantarolando que a sua avó é que ficava incomodada?
Não sei porque, mas toda vez que penso em mulher com TPM eu lembro de uma escritora baixinha, enfezada, invocada, tatuada, de cabelos curtos e pronta para sair na porrada.
Em geral, uma mulher com TPM afirma, com unhas e dentes, que a TPM não existe e é apenas um mito criado por porcos chauvinistas determinados a manter a supremacia masculina castradora.
Homens casados sabem que a TPM existe, mas sabem também que jamais devem mencionar a sua existência. Homens solteiros com namoradas também. Homens separados ou solteiros não têm que passar por isso uma vez por mês.
Mas homens são homens. Alguns, eu incluído, cheios de chatices e aporrinhações várias vezes ao mês, em períodos imprevisíveis. E também cheios de inveja por não ter um Dia Internacional para ganhar flores na rua e no trabalho. E nem programação especial no rádio e na TV. Suspiro.
domingo, 7 de março de 2010
Trocando a faixa com Bruce Lee
O sábado foi marcado pela cerimônia de troca de faixa do meu filho no judô. Ele conquistou a faixa cinza. Não falamos muito sobre o assunto “Faixa” durante esta semana, mas a troca era uma coisa esperada desde a virada do ano. Na verdade, a troca de faixa é uma coisa era ansiosamente desejada pelo meu primogênito desde que ele entrou no judô, no semestre passado. No final do ano, alguns dias depois que ele iniciou o esporte, houve uma cerimônia de troca de faixa na academia. Eu não vi. Foi minha mulher que me contou. Mas os olhos do menino brilharam durante aquela troca de faixa, especialmente quando um garoto do mesmo tamanho foi agraciado com uma faixa azul escuro.
Desde então, meu filho sonha com uma troca de faixa. A fantasia rola solta nessa hora, como nos desenhos da TV. Meu filho imagina que o mestre perceberá seu extraordinário poder judoca durante um exercício rotineiro, de rolar e bater o braço, e então deixará, discretamente, a faixa azul escuro sobre o seu quimono. Ou então, durante uma luta, uma faixa mágica azul escuro se amarrará sozinha em sua cintura e fará dele o campeão dos campeões. Ou ainda, depois de beber água durante um intervalo, a força do sensei da fonte secreta fará com que ele vença as lutas com todos os carinhas da academia, inclusive o sensei que, derrotado, lhe dá a faixa azul escuro. Por causa disso, azul escuro passa a ser a maior faixa do judô.
Eu também criei expectativa, é lógico. Na minha cabeça, imaginei a cerimônia com jeito de “Operação Dragão”, do Bruce Lee. Uma dezena de mestres e senseis faixas pretas em posição de ioguim, num dojo enorme, com uns trezentos judocas enfileirados e em posição de Karatê Kid, lutando como loucos. É lógico que foi bem diferente. Para começar, Bruce Lee nunca foi judoca. E o Karatê Kid era tudo, menos Kid. E a academia é pequenininha. Mas fomos todos, eu, minha filha, minha mulher e o campeão de sonhos judocas para a cerimônia.
Foi comovente. O mestre do judô é um jovem ex-campeão sul-americano chamado Gui, que é de uma humildade impressionante. O cara também é tímido à beça e não termina nenhuma das frases que articula. Ao invés disso, ele mexe os braços e olha para baixo, como se tivesse vergonha de concluir um assunto. Sozinho e desajeitado, ele tentava colar umas letras no espelho “Confraternização de Troca de Faixa”. Era uma frase enorme, mesmo para alguém com padrões diferentes do Mestre Gui. As letras de papel cartão laranja evidentemente não haviam sido recortadas por ele. Aquilo era bom demais para ser verdade. Aquilo era trabalho de mãe. Mestre Gui então foi socorrido por um monte de instrutoras da academia. Acho que o ex-campeão é solteiro e as moças devem sonhar em ser imobilizadas por ele em outros tatames. Elas fizeram um bom trabalho.
Com a máquina fotográfica, tirei um monte de fotos do meu filho fazendo poses de lutador de kung fu em frente ao espelho com as letras laranja. Num instante, um monte de pais e mães, avós, tios e sobrinhos lotaram a sala de judô da academia. O ar condicionado teve que ser colocado no máximo. Os meninos foram chamados para o tatame e organizados em fila. Todos tinham uma aparência muito séria e compenetrada, inclusive meu filho. Sem prática com discurso, Mestre Gui passou a palavra ao seu “sensei” e a outro convidado faixa-preta. Não guardei os nomes dos caras. Mas eram grandões, bem articulados. Os tipos falaram sobre as virtudes do judô, da formação de caráter, da organização do Estado, da cotação do dólar, das falhas do nosso sistema educacional, do nosso empresariado medíocre, da importância da luta contra a corrupção, televisão, quem merecia ganhar o Oscar, álcool, drogas, silicone, aborto e, como não poderia deixar de ser, do BBB. Foi um blá-blá-blá tão educativo quanto um jingle.Na minha cabeça, Bruce Lee , que nunca foi judoca, dava aqueles gritos agudos antes de aplicar sopapos no sensei grandalhão que discursava. Registrei alguns momentos com a máquina fotográfica.
Depois da peroração, Mestre Gui permitiu que as crianças brincassem um pouco. Busquei posições bem estratégicas para tirar fotos sensacionais. Em seguida, todos começaram a fazer exercícios de judô e a lutar. Mais fotos sensacionais.
Chegou, enfim, a hora da troca de faixa. As crianças estavam a mil por hora, mas o Mestre Gui, com a sua fantástica dicção, restabeleceu a ordem com um grunhido rouco, um pouco mais alto.
_Grrrrrruuuunnnnnt! – e todos os meninos e meninas se perfilaram com a postura mais correta desse mundo. Confesso que me deu uma inveja danada daquele grunhido. Aqui em casa de vez em quando eu berro e não adianta nada.
Quando começou a distribuição de faixas e diplomas, eu me preparei para tirar uma foto sensacional do meu filho vestido em seu quimono, com a nova faixa cinza. Mas só consegui tirar uma única foto, meio de longe, porque a bateria da máquina acabou na hora. Essas coisas vivem acontecendo.
Desde então, meu filho sonha com uma troca de faixa. A fantasia rola solta nessa hora, como nos desenhos da TV. Meu filho imagina que o mestre perceberá seu extraordinário poder judoca durante um exercício rotineiro, de rolar e bater o braço, e então deixará, discretamente, a faixa azul escuro sobre o seu quimono. Ou então, durante uma luta, uma faixa mágica azul escuro se amarrará sozinha em sua cintura e fará dele o campeão dos campeões. Ou ainda, depois de beber água durante um intervalo, a força do sensei da fonte secreta fará com que ele vença as lutas com todos os carinhas da academia, inclusive o sensei que, derrotado, lhe dá a faixa azul escuro. Por causa disso, azul escuro passa a ser a maior faixa do judô.
Eu também criei expectativa, é lógico. Na minha cabeça, imaginei a cerimônia com jeito de “Operação Dragão”, do Bruce Lee. Uma dezena de mestres e senseis faixas pretas em posição de ioguim, num dojo enorme, com uns trezentos judocas enfileirados e em posição de Karatê Kid, lutando como loucos. É lógico que foi bem diferente. Para começar, Bruce Lee nunca foi judoca. E o Karatê Kid era tudo, menos Kid. E a academia é pequenininha. Mas fomos todos, eu, minha filha, minha mulher e o campeão de sonhos judocas para a cerimônia.
Foi comovente. O mestre do judô é um jovem ex-campeão sul-americano chamado Gui, que é de uma humildade impressionante. O cara também é tímido à beça e não termina nenhuma das frases que articula. Ao invés disso, ele mexe os braços e olha para baixo, como se tivesse vergonha de concluir um assunto. Sozinho e desajeitado, ele tentava colar umas letras no espelho “Confraternização de Troca de Faixa”. Era uma frase enorme, mesmo para alguém com padrões diferentes do Mestre Gui. As letras de papel cartão laranja evidentemente não haviam sido recortadas por ele. Aquilo era bom demais para ser verdade. Aquilo era trabalho de mãe. Mestre Gui então foi socorrido por um monte de instrutoras da academia. Acho que o ex-campeão é solteiro e as moças devem sonhar em ser imobilizadas por ele em outros tatames. Elas fizeram um bom trabalho.
Com a máquina fotográfica, tirei um monte de fotos do meu filho fazendo poses de lutador de kung fu em frente ao espelho com as letras laranja. Num instante, um monte de pais e mães, avós, tios e sobrinhos lotaram a sala de judô da academia. O ar condicionado teve que ser colocado no máximo. Os meninos foram chamados para o tatame e organizados em fila. Todos tinham uma aparência muito séria e compenetrada, inclusive meu filho. Sem prática com discurso, Mestre Gui passou a palavra ao seu “sensei” e a outro convidado faixa-preta. Não guardei os nomes dos caras. Mas eram grandões, bem articulados. Os tipos falaram sobre as virtudes do judô, da formação de caráter, da organização do Estado, da cotação do dólar, das falhas do nosso sistema educacional, do nosso empresariado medíocre, da importância da luta contra a corrupção, televisão, quem merecia ganhar o Oscar, álcool, drogas, silicone, aborto e, como não poderia deixar de ser, do BBB. Foi um blá-blá-blá tão educativo quanto um jingle.Na minha cabeça, Bruce Lee , que nunca foi judoca, dava aqueles gritos agudos antes de aplicar sopapos no sensei grandalhão que discursava. Registrei alguns momentos com a máquina fotográfica.
Depois da peroração, Mestre Gui permitiu que as crianças brincassem um pouco. Busquei posições bem estratégicas para tirar fotos sensacionais. Em seguida, todos começaram a fazer exercícios de judô e a lutar. Mais fotos sensacionais.
Chegou, enfim, a hora da troca de faixa. As crianças estavam a mil por hora, mas o Mestre Gui, com a sua fantástica dicção, restabeleceu a ordem com um grunhido rouco, um pouco mais alto.
_Grrrrrruuuunnnnnt! – e todos os meninos e meninas se perfilaram com a postura mais correta desse mundo. Confesso que me deu uma inveja danada daquele grunhido. Aqui em casa de vez em quando eu berro e não adianta nada.
Quando começou a distribuição de faixas e diplomas, eu me preparei para tirar uma foto sensacional do meu filho vestido em seu quimono, com a nova faixa cinza. Mas só consegui tirar uma única foto, meio de longe, porque a bateria da máquina acabou na hora. Essas coisas vivem acontecendo.
sexta-feira, 5 de março de 2010
Poesia e batatas
Ouvi de um sujeito
um tipo bem lento
depois de dois copos de aguardente
a poesia é só sentimento
Então eu fiquei tranquilo,
porque eu não era poeta
Eu não sentia nada importante
E achava poesia e poeta um saco
Eu gostava mesmo era de batatas
Depois me disseram
a poesia é puro trabalho
Coisa difícil e dura
Exige escrita com rigor
Idéia apurada, frase ardente, primor
Aí relaxei, acendi um cigarro,
Minhas rimas baratas já haviam fugido,
e meus versos sentidos,
que já eram raros,
sumiram de vez
Comi mais batatas
Minhas palavras só queriam saber
de travesseiro macio
Versos malhados e musculosos
de tanto exercício
nem passavam pela minha cachola,
Rimas tristonhas
dormiam sonolentas sobre
a minha língua
e roncavam cheias de preguiça
Mas eu não sou bobo
Para agradar as moças,
de vez em quando,
eu bancava o poeta
Fazia uma voz bonita,
declamava
Eu trouxe um laço de fita
Para a menina bonita
que olhar pra mim
pagarei a birita
E tome batata
Hoje de manhã bem cedo
Descobri um poeta escondido no espelho
Era feito um rato, o coitado
um caco fraco e doente
Acabei com ele com um golpe
de pano de prato
Não tive dó
Pena que as batatas acabaram
um tipo bem lento
depois de dois copos de aguardente
a poesia é só sentimento
Então eu fiquei tranquilo,
porque eu não era poeta
Eu não sentia nada importante
E achava poesia e poeta um saco
Eu gostava mesmo era de batatas
Depois me disseram
a poesia é puro trabalho
Coisa difícil e dura
Exige escrita com rigor
Idéia apurada, frase ardente, primor
Aí relaxei, acendi um cigarro,
Minhas rimas baratas já haviam fugido,
e meus versos sentidos,
que já eram raros,
sumiram de vez
Comi mais batatas
Minhas palavras só queriam saber
de travesseiro macio
Versos malhados e musculosos
de tanto exercício
nem passavam pela minha cachola,
Rimas tristonhas
dormiam sonolentas sobre
a minha língua
e roncavam cheias de preguiça
Mas eu não sou bobo
Para agradar as moças,
de vez em quando,
eu bancava o poeta
Fazia uma voz bonita,
declamava
Eu trouxe um laço de fita
Para a menina bonita
que olhar pra mim
pagarei a birita
E tome batata
Hoje de manhã bem cedo
Descobri um poeta escondido no espelho
Era feito um rato, o coitado
um caco fraco e doente
Acabei com ele com um golpe
de pano de prato
Não tive dó
Pena que as batatas acabaram
quinta-feira, 4 de março de 2010
Amigos na Internet
the WHO- "WHO ARE YOU" from vince keng on Vimeo.
The Who - Who are you
Dois grandes amigos de muitos anos de estrada estão presentes na Internet. Um deles é o Mário Salimon (http://terceirobotao.ning.com/), que colocou um vídeo bem legal no site dele. É um show que fez com a Another Blues Band na Esplanada dos Ministérios. O outro também é artista, meu amigo Nilton Franzoni. Acho que o Niltão cansou de ganhar dinheiro como economista e virou pintor. Ele agora expõe as obras virtualmente. Links para o Mário e o Nilton estão aqui ao lado, na lista de blogs legais que estou juntando.
É uma lista preguiçosa. Faz tempo que não cresce. Outro dia dei uma arrumada e coloquei lá no alto o blog da Franka. Fiz que nem a gente faz com santo, né? Coloquei a Franka lá em cima. Achei que era pouco porque se não fosse a Franka e o bom humor dela, eu teria parado de blogar rapidinho. E também lembrei que o goró pro santo a gente joga pra baixo. E a Franka já disse numas crônicas dela que se amarra em vinho. Então coloquei também um link para o site da Franka lá em baixo. Vai que alguém curte a Franka tanto quanto eu, então é só clicar no site que ela fez, que era super-legal e tem um monte de crônicas sensacionais.
Mesmo assim, parecia pouco para a Franka, que colocou fotinha , link e tarja no blog dela para o meu blog. Então eu coloquei um outro link para o blog dela bem no meio da minha lista, em letras MAIÚSCULAS. Agora estou pensando se não seria melhor e mais adequado colocar uma fotinha da Franka, com tarja, na lateral do blog. É mais fácil clicar em fotinha, né?
Outra novidade da minha lista é o link para o meu outro blog, o de ilustrações. Botei o nome de Careca no Caminho. Resolvi que é melhor deixar as ilustrações só num lugar, sem textos. É pura imitação da Maria Eugênia, a ilustradora genial que eu admiro e adoro desde que passei os olhos num dos muitos livros que ela aquarelou. Ainda vou melhorar o visual desse meu blog de desenhos, mas vou fazer isso aos poucos, sem pressa.
Nunca vi a Franka e nem a Maria Eugênia pessoalmente, mas me considero amigo das duas. Assim como considero a M.J., o Paulo Bono, o Rodrigo Café com Pop, as Redatoras, a Mawa, as Flores e o Edson Gravetos. Tudo amizade cibernética, de comentário nos respectivos blogs. O Mário e o MWho faz tempo que não vejo. Mas de vez em quando visito os blogs de ambos e é como tomar um café virtual e cumprimentar os amigos.
Quem é você? Quem sou eu?
Acho que nós somos um pouco como as pessoas que gostamos de chamar de amigos.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Uma ida ao aeroporto
Minha mulher me avisa que terá que acordar de madrugada para levar os pais ao aeroporto.
_Mas não se preocupe. Estarei de volta para ajudar a arrumar as crianças para ir pra escola – disse.
Eu não estava preocupado. Mas achei bom assim mesmo.
De madrugada, ela acorda quase sem fazer barulho e eu finjo que nem acordei. Mas na verdade eu já havia acordado antes. Ainda estou maluco com o fim do horário de verão. Às vezes acordo às três horas pensando que já são seis e volto a dormir. Aí acordo de meia em meia hora, o que não é muito bom. Bom mesmo é dormir até as oito e meia, nove horas. Especialmente se você for dormir à meia noite. Mas isso é impossível, então esqueço.
Mais tarde, com as crianças à mesa para o café da manhã, ela me conta o que aconteceu.
_Foi uma confusão. Cheguei às cinco e meia, como havia prometido. Eles já estavam saindo de casa, mas aquela gata da minha mãe, a Vic, fugiu. Ficamos tentando pegar o bicho, mas ela acabou indo para o quintal do vizinho. Foi um desespero porque minha mãe gosta muito daquela siamesa e não suportaria deixar o bicho fora de casa, sem teto e sem segurança. Nós chamamos, sem fazer muito barulho, para não incomodar o vizinho, mas nada adiantou. Então eu disse que voltaria depois para buscar a gata e colocar dentro de casa. Foi o único jeito, minha mãe aceitou. Finalmente saímos correndo para o aeroporto, com os dois bem nervosos. Deixei os meus pais no desembarque e voltei depressa para pegar a Vic. Quando finalmente consegui pegar aquela gata danada, vejo um táxi parar na frente da casa. Era o meu pai. Tinha esquecido a carteira com os documentos e as passagens.
_Caramba! E aí vocês correram para o aeroporto?
_Não, meu pai não quis que eu levasse. Já tinha combinado a corrida com o motorista do táxi.
Minha mulher tem uma rotina dura, que inclui aulas noturnas para os alunos de graduação na faculdade. Durante muitos anos eu trabalhei durante a noite e sei o quanto isso é difícil, especialmente se você também trabalha durante o dia. O corpo confunde os horários e você fica mais facilmente irritado. O sono se manifesta com mais força. Você tende a deixar frases pela metade, a fitar o vazio. Seu ritmo está em descompasso com o das outras pessoas, ou acelerado ou mais lento. Mas com a minha mulher não acontece nada disso. Ela mantém o foco.
E enquanto conversamos com as crianças, para saber das coisas pequenas que engrandecem a vida da gente, eu observo a minha mulher.
Às vezes eu tenho ilusões de grandeza, de que estou a trilhar um caminho aberto a golpes de facão, no peito e na raça. Mas sem minha mulher talvez não levantasse meus braços, não movesse os pés, quem sabe só ficasse sentado à beira da estrada. E nem é difícil para a minha vaidade admitir isso. O mais complicado é fazer com que esse reconhecimento não seja expresso apenas com os "eu te amos", abraços e carinhos, como cantavam as canções românticas da bossa nova. O mais complicado é mesmo fazer as coisas com o coração aberto, sem retórica, sem dizeres rebuscados. O mais difícil é abrir mão dos pequenos confortos, daquela coisinha besta que fere a suscetibilidade, que diminui o humor. Uma coisa como perder uma hora de sono sem muxoxo. De repetir um caminho, só para não deixar um gato fora de casa. De ser gentil e prestativo, mesmo quando não é nem um pouco e nem de longe absolutamente necessário.
terça-feira, 2 de março de 2010
Keep going, Stephen King
Stephen King é um dos melhores escritores de todos os tempos. Leio os livros do cara há muitos anos. É um gênio. Um dos melhores livros que já li dele se chama Pet Sematary, assim mesmo, escrito errado como escrevem as crianças. Virou filme em 1983. Tinha trilha sonora dos Ramones (“I don´t wanna be bury, in a pet cemetery, i don´t wanna live my life again”...). King teve carradas de livros adaptados para o cinema. Ele tem ainda “O iluminado”, “Carrie”(o primeiro a arrebentar) e “À espera de um milagre”, só para ficar nos grandes sucessos do cinema. SK é um gênio vivo, maior do que João Ubaldo. E é um craque que não esconde o jogo.
Stephen tem um livro generoso em que dá bons conselhos para jovens escritores. O nome é “On Writing: A Memoir of the Craft”. É de 2000. Comprei em papel jornal num dia de sorte numa grande livraria da cidade. Li em 2003 pela primeira vez. King não faz mistérios sobre algumas de suas sacadas, lista um monte de mancadas e tempera a autobiografia com histórias da infância e juventude. Ele não enfeita o bolo e nem é metido a modesto. King é cru. Vai direto na jugular.
O livro é cultuado pelos estudantes da América, como descobri depois. Tenho antipatia pelo que vira manual de senso comum, mas para alguns livros é preciso tirar o chapéu. Uma das muitas histórias deliciosas do livro conta de onde King tirou a idéia para aquela que foi a sua primeira história a receber comentário de um editor de revista de mistério. Até aquela vez, King colecionava apenas notas curtas de recusas de manuscritos. Foram dezenas de recusas. E aquilo começou a abalar o jovem autor. Mas daquela vez foi diferente. Era uma história original, totalmente pensada e escrita pelo adolescente King, vagamente calcada numa experiência pessoal. O editor mandou uma carta-resposta, um bilhete com três frases curtas: Você tem talento; Continue a escrever; Não grampeie o manuscrito.
King seguiu aqueles dois conselhos. Continuou a escrever e nunca mais grampeou um manuscrito, nem sei dizer o que é mais importante. Anos mais tarde o tal editor encontrou Stephen King numa noite de autógrafos e pediu a assinatura do escritor sobre o original do manuscrito e a cópia do bilhete. Os dois trocaram sorrisos de compreensão mútua e nunca mais se viram.
King soube identificar em sua longa vida de escritor o bilhete que o fez continuar a escrever. Esquadrinhou os recantos mais sombrios das suas lembranças e descobriu que uma recusa em ser publicado foi o que manteve acesa a chama. Aquele bilhetinho foi o que fez seu Johnny Walker continuar a andar. Keep going, King. Não vá grampear manuscritos, hein? E Stephen continuou.
Pensando bem, se a história é mesmo verídica, talvez aquele editor fosse ainda mais genial e sobrenatural do que o próprio King.
Pensando ainda mais um pouco, o SK mente pra caramba. É um gênio.
Stephen tem um livro generoso em que dá bons conselhos para jovens escritores. O nome é “On Writing: A Memoir of the Craft”. É de 2000. Comprei em papel jornal num dia de sorte numa grande livraria da cidade. Li em 2003 pela primeira vez. King não faz mistérios sobre algumas de suas sacadas, lista um monte de mancadas e tempera a autobiografia com histórias da infância e juventude. Ele não enfeita o bolo e nem é metido a modesto. King é cru. Vai direto na jugular.
O livro é cultuado pelos estudantes da América, como descobri depois. Tenho antipatia pelo que vira manual de senso comum, mas para alguns livros é preciso tirar o chapéu. Uma das muitas histórias deliciosas do livro conta de onde King tirou a idéia para aquela que foi a sua primeira história a receber comentário de um editor de revista de mistério. Até aquela vez, King colecionava apenas notas curtas de recusas de manuscritos. Foram dezenas de recusas. E aquilo começou a abalar o jovem autor. Mas daquela vez foi diferente. Era uma história original, totalmente pensada e escrita pelo adolescente King, vagamente calcada numa experiência pessoal. O editor mandou uma carta-resposta, um bilhete com três frases curtas: Você tem talento; Continue a escrever; Não grampeie o manuscrito.
King seguiu aqueles dois conselhos. Continuou a escrever e nunca mais grampeou um manuscrito, nem sei dizer o que é mais importante. Anos mais tarde o tal editor encontrou Stephen King numa noite de autógrafos e pediu a assinatura do escritor sobre o original do manuscrito e a cópia do bilhete. Os dois trocaram sorrisos de compreensão mútua e nunca mais se viram.
King soube identificar em sua longa vida de escritor o bilhete que o fez continuar a escrever. Esquadrinhou os recantos mais sombrios das suas lembranças e descobriu que uma recusa em ser publicado foi o que manteve acesa a chama. Aquele bilhetinho foi o que fez seu Johnny Walker continuar a andar. Keep going, King. Não vá grampear manuscritos, hein? E Stephen continuou.
Pensando bem, se a história é mesmo verídica, talvez aquele editor fosse ainda mais genial e sobrenatural do que o próprio King.
Pensando ainda mais um pouco, o SK mente pra caramba. É um gênio.
segunda-feira, 1 de março de 2010
Rafa passa mal
Rafa, o cãozinho shi-tsu lá de casa, passou mal nessa segunda-feira. Minha mulher me disse que encontrou o sofá da sala sujo de vômito. Fiquei surpreso de encontrar Rafa ainda vivo, porque minha mulher tem um ciúme danado do sofá da sala. É um sofá bem chique, remonta ao tempo do casamento. Ou seja, é um sofá velho muito amado, que minha mulher mandou cobrir de um tecido e de uma cor que estão super na moda. Está tão na moda que a Mulher do Cabeça também colocou uma capa bem parecida no sofá da varanda do apê dos Cabeça. Aliás, nessa varanda “chez Cabeça” tem também um São Francisco de barro enorme, é quase do tamanho do meu filho de seis anos. Deixei uma moeda de um real pro santo quando estive lá, no último sábado. O Cabeça disse que não precisava, mas com santo, mesmo de barro, o melhor é não vacilar.
Recebi a notícia do vômito do Rafael na hora do almoço, o que não afetou o meu apetite. Mas, como já disse e continuo a dizer, fiquei bem surpreso de encontrar Rafa ainda vivo. Ele sequer estava triste, o que mostra a diferença de tratamento que existe entre cachorros e um macho alfa como o modesto Careca que vos fala. Na última vez em que deixei cair um baconzito em cima daquele sofá quase levei umas duas ou três chineladas. Sem contar as broncas. Mas não gosto de falar nisso, hoje já estou bem treinado.
Tentamos imaginar porque o Rafa passou mal. O meu primeiro palpite teve a ver com o que aconteceu no domingo, na casa da minha sogra. Lá existe uma gata siamesa de uns doze anos de idade chamada Vic, abreviação de Victória. É bem tinhosa, a Vic. Ela tem uma noção de espaço muito bem desenvolvida. E o Rafa acha que é o bam-bam-bam da cocada preta.
A minha teoria é de que o Rafa experimentou a comida da Vic numa hora em que ela não estava olhando. Depois, numa hora em que a Vic estava olhando, Rafa levou umas arranhadas singelas no lombo. Foi salvo pela minha filha, que me chamou para tirar o Rafa das garras da gata. Ele teria se machucado mais se a gata não fosse tão idosa quando o sofá da minha sala e condescendente com a juventude. Vic está meio grisalha e com um ar professoral. Ela está mais para educadora do que gata vingativa. Além disso, a aparência de Floquinho também ajuda o Rafa a se livrar de arranhões. Não é fácil cravar as unhas naquela bola de pêlos.
Pensando bem, Rafa é duplamente felizardo. Não tem medo de experimentar pratos diferentes. Tem o paladar aberto a novas sensações, ainda que elas lhe custem umas bordoadas nas orelhas. E não leva chineladas quando suja o sofá. Bronca não tem jeito, né?
Minha mulher não gosta de tergiversações. Para ela, o Rafa engasgou com alguma coisa. Ela já tirou plástico, papel, indiozinho, batman, boneca de pano, de plástico, gúgou, roda de carrinho, espada, meia, lego, bola de árvore de natal, escova, galho, graveto, tubo de cola e a miniatura da Torre Eiffel que eu trouxe de Paris de dentro da boca do Rafa. (Sim, eu sei que é o cúmulo do exibicionismo, mas um dos motivos de se ter blog é que você pode extravasar a sua vaidade quando der na telha e fingir que você é um cidadão do mundo, rárárá. )
É lógico que eu dei toda razão para a minha mulher. Até porque encontrei a Torre Eiffel atrás do sofá. E só para me exibir mais um pouco, desenhei essa torrinha aí de cima.
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