quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Quantas horas são no seu umbigo?




Antes da reunião de pais começar, na escola alternativa, eu vi um enorme desenho de um carro amarelo grudado numa parede. Foi reunião com as professoras da minha filha, de quatro anos. Já estou habituado às reuniões da escola alternativa.

Agora falo pouco. E também fico um pouco cansado de ouvir depoimentos emocionados. A gente se habitua com tudo e as coisas ficam sem-graça, por mais que você mantenha a mente aberta e o coração alerta.

Uma das professoras tem um prazer evidente em contar as descobertas de nossos filhos. Ela realmente se empolga.

Eu li o relatório das professoras antes de ir para a reunião. A minha menina adora desenhar. Ela desenha cabeças com olhos, nariz, boca, orelhas e cabelos. É uma coisa rara. E ela também gosta de desenhar mãos com dedos. E, de vez em quando, ela risca um risco reto, diz que aquilo é uma barriga e põe um pingo no meio.

_E isso aí é o quê? – eu pergunto.
_Umbigo, oras.
_Dá pra ver as horas no umbigo? Nossa! Quantas horas são no seu umbigo?
_Para, pai!
_No meu umbigo não dá para ver as horas. Aliás, eu nem consigo ver o meu umbigo. Mas agora já é tarde.

Ao final da reunião, somos todos levados para o gigantesco painel de obras de nossos filhos e filhas, no galpão da escola. E lá está o enorme carro amarelo. Na verdade, é uma moldura grande para a história coletiva inventada pela minha filha e seus colegas. “O passeio de carro do ciclo dois”. É uma aventura incrível. Tem seqüestro, tiro de arco e flecha, polícia, resgate e um lanche no final.

Tanta aventura assim é explicada pelo fato da sala da minha filha ter apenas duas meninas e treze meninos. E eu percebo os desenhos da minha filha em todas as folhas emolduradas do carro amarelo. As garatujas com cabelos, olhos, boca e nariz. Os cabelos arrepiados, elétricos. As mãos com dedos gordos, parecendo as luvas do Mickey.

Quando cheguei em casa, depois da reunião, os dois já estavam dormindo.

E agora estou me lembrando da história do umbigo de ver as horas. Lá na escola, dentro do carro amarelo, havia uma cabeça completa, um risco reto e uma bola grande, com risquinhos. Acho que era um umbigo despertador. Ou então era um piercing.

6 comentários:

Mwho disse...

Careca,
Alternativa ou não, a escola boa é a que conhece os nossos filhos!
Meu filho estudava numa escola grande em Brasília. Um dia, fui chamado pela coordenação e, ao chegar, descobri que a coordenadora não tinha a menor idéia de quem era o meu filho. Não tive dúvida, mudei-o de escola. Foi a melhor coisa que fiz e agradeço à desorientação da coordenadora!

Rodrigo Carreiro disse...

Escola alternativa e moderna essa, não?!

Anônimo disse...

Ai que fofa sua princesa desenhando umbigos!!! Precoce a criançada de hoje, né? Meu sobrinho, de dois anos, desenha caminhão. Coloca um pontinho, uma bolinha, dentro da cabine do caminhão. Aí fala que é o papai dele. E aí ele fica tentando arrancar o papai de dentro do caminhão, usando os dedinhos. Faz uma força danada, fica até gemendo, mas o papai não sai de lá. Ele enjoa de tentar tirar o papai e vai cuidar da vida... Morro de rir! Abraços.

Careca disse...

Mwho, concordo integralmente. Na escola alternativa, quase todo mundo se conhece. É bem legal.

Careca disse...

Rodrigo, ela não é muito modernosa não. Mas busca um maior envolvimento e cumplicidade dos pais.

Careca disse...

Janaína, o sobrinho leva a fantasia a sério mesmo. O desenho de sol vira sol de verdade...Daqui a pouco ele percebe que esses encantamentos só existem dentro da cabeça. Um abraço,

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