sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O dragão vermelho da Hot Zone



Durante duas semanas meu filho de cinco anos ficou insistindo em ir para a Hot Zone, no shopping.
_Me leva, pai? Ah, me leva? Puxa, pai! Eu ia ficar tão feliz!
Vista com olhos inocentes, a Hot Zone é uma área de divertimento, cheia de brinquedos e máquinas para as crianças. Vista com os olhos do caça-níquel travestido de humano que inventou aquele negócio, trata-se de um campo minado cuidadosamente planejado para arrancar o máximo de dinheiro do ser humano por segundo, de acordo com uma cuidadosa equação que relaciona espaço, tempo e a grana da sua modesta conta bancária.
_ Puxa, pai! Eu ia ficar tão feliz! Me leva, vai? Eu quero ir no dragão vermelho!!!
Depois de duas semanas com essas frases marteladas a cada segundo na cachola você começa a pensar seriamente em políticas públicas de adoção. Você pensa em controle de natalidade também. Mas no final, você está pensando em extermínio puro e simples. Por isso, hoje eu e a Patroa resolvemos fazer a vontade do primogênito, que já havia arrebanhado a irmã mais nova para a campanha Hot Zone.
_Paiê, sabe, eu estava pensando... você leva eu e o irmão para a Rózone? – ela gosta de começar frases com “sabe”.
E de vez em quando, os dois faziam corinho.
_Paiê, você leva a gente para a Rózone? Leva, pai? Eu quero ir no dragão vermelho.
Foi uma boa idéia ter levado, pois o shopping não estava muito cheio. Estava apenas absurdamente cheio e lotado. Entretanto, é preciso reconhecer que qualquer coisa era melhor do que ter duas crianças falando a cada trinta segundos que seria ótimo ir para a Hot Zone e brincar com aquele monte de brinquedos, especialmente com o dragão vermelho.
Entramos. E logo de cara, o enorme dragão vermelho brilhou nas pupilas do meu filho mais velho. Eu tratei de me aproximar para o reconhecimento visual. O dragão é uma mini montanha-russa montada no centro da Hot Zone, que serpenteia em curvas fechadas e abruptas em alta velocidade. Procurei as placas de sinalização e as instruções de uso. Descobri que era preciso ter um metro e trinta para entrar sem acompanhante. E mais: crianças de cinco anos precisam, obrigatoriamente, devem entrar com um acompanhante adulto.
Com as informações devidamente registradas e catalogadas, passamos a gastar dinheiro a rodo com os brinquedos. O ser humano é bobo. E os caras da Hot Zone são tão espertos quanto os lagartos que formam a turma dos cassinos. Eles utilizam o princípio do cartão de crédito. Você não sente que está gastando quando passa um cartão num sensor magnético. E lá todas as máquinas funcionam na base do cartão magnético. Gastamos o dinheiro dos cartões até o limite e fomos, pai e filho, para a fila do Dragão Vermelho.
Depois da primeira descida, numa curva de cento e oitenta graus a alguns quilômetros por hora, terminando com outra curva de 180, com uma retinha guinchada e rangida e sacolejos desestruturadores, pensei que iria precisar de um transplante de medula. Olhei para o meu filho e vi que ele estava mais branco que a camisa da prova da janela. Perguntei se ele queria parar e ele não respondeu. Na segunda descida, percebi que ele estava em estado de choque, não conseguia falar nada diferente de “aaaaahhhhhhh”. Na terceira passagem pelo controlador da montanha, eu gritei para parar, mas o cara não me ouviu. E só na quarta vez que passamos é que eu me lembrei do gesto que deveria ser feito para a parada imediata.
Foi tão imediata que bati o quadril numa barra metálica.
Daí a alguns minutos, ele me disse que não havia gostado de nada da Hot Zone, especialmente do dragão vermelho.
_Pai, você grita muito!
Ele tem razão. Estou até meio rouco.

4 comentários:

Rodrigo Carreiro disse...

eu nunca gostei de montanha russa =/

Careca disse...

Rodrigo, vale uma revisitação. Montanha-russa é muito bom.

Anônimo disse...

Será que foi essa a festa-surpresa de aniversário dos seus filhos? Uma voltinha no dragão? Hilário seu menininho dizer que vc grita muito. Vê se não amarela demais da próxima vez, ou o menino ficará com vergonha e nunca mais que te chama pra andar com ele! rsrsrsrs Abraços!

Careca disse...

Janaína, a festa-surpresa foi mesmo uma supresa, me pegaram desprevenido. Eu tento ser valente, mas ninguém ganha da coragem das crianças...

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