De vez em quando, somos expostos a ele. Ao horror! Assim mesmo, com ponto de exclamação. E ele nos paralisa e emudece. Mas é por pouco tempo.
Houve uma época em que eu acreditava em mobilização pós-horror. E eu acreditava que as outras pessoas também acreditavam nisso. Eu vi fotos de gente abraçando baleia na praia, de multidões de mãos dadas, em volta de lagoas, às margens dos rios. Mas isso já acabou. Depois do 11 de setembro nós ainda nos irmanamos. Mas só até ver alguns episódios de uma guerra cirúrgica iniciada em seguida. E depois tudo desandou.
A natureza costumava nos irmanar.
Mas agora isso já não acontece mais. Ou se acontece, nem fico sabendo. O destino do boto cor-de-rosa e da ariranha não nos aflige. E muito menos desse outro animal, o ser humano. Já não nos solidarizamos com a desgraça alheia. Tudo o que fazemos é dar de ombros, felizes por não termos sido atingidos. De não ser com alguém conhecido. O câncer não nos sensibiliza. A pobreza não compadece. A fome não nos angustia. Somente a curiosidade mórbida não esmorece.
O que nos fascina são os espetáculos de sangue, suor, lágrimas e morte, tal como dizia Aristóteles.
7 comentários:
é. o horrível a gente não espalha, na minha humilde opinião.
Por isso que quero morar longe!! De horror já basta eu me olhando no espelho ahhaha
Franka, você está coberta de razão. O horrível devia ficar num cantinho, pronto para ser colocado num contêiner.
Rodrigo, a Bahia é longe, até para os baianos.
Quando a coisa fica cotidiana, vira algo banal, Careca. No primeiro dia em Sampa, vc se assusta com tanta criança em semáforo pedindo algo. No terceiro, você nem as vê. Tá todo dia ali. Acho que o organismo tenta nos proteger, sei lá. Igual policial: no primeiro homicídio, ele vê a vítima e fica com pena. No décimo, ele só quer se livrar do cheiro de sangue. Ou os oncologistas: no primeiro paciente que perdem, choram. No décimo, já estão pensando no décimo-primeiro. Soma isso aos tempos de hiperindividualismo e da espetacularização de tudo, em que muitos querem ser BBBs, a gente vê o que a gente vê, ninguém unido a nada, ou unido em torno de algo enquanto a TV tem câmera ali. Depois tentam me convencer que o ser humano tem jeito... Sou pessimista quanto ao futuro da espécie humana. A natureza vai acabar com a gente igual acabou com os dinossauros. Abraços!
Janaína, os dinos pareciam legais em comparação, né? Mas a idéia de vingança da natureza não é o mote de "Os Pássaros", de Hitchcock?
Exatamente! Putiz (diria Franca) filme esse! Adoro o baixinho. Os dinos são muito mais legais, com certeza. Duvido que eles sairiam de Brasilândia, na Zona Norte de SP, e atravessariam a "capitar" pra ir num longínquo cemitério na cidade de Santo André, ficar trocentas horas numa fila e ainda tirar foto com seu bregafone (o celular) de um corpo de uma moça de 15 anos que quase ninguém sabia que existia há duas semanas atrás. Me questiono onde tá a tal inteligência que nos faz ser superior aos mosquitos e invertebrados, por exemplo. É, sou mais os dinos, Careca! Abração!
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