sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Estóico



Sempre tive, a minha vida inteira, vontade de ser mais estóico. De ter mais força de ânimo. De suportar, sem queixas, as coisas que é preciso suportar. De superar adversidades sem piscar os olhos, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Sem soltar foguetes. Acho que é isso que admiramos nos heróis, desde crianças. A capacidade de suportar e superar, sem queixas, os piores obstáculos imagináveis. Eu admiro o estoicismo dos outros.

Aprendi sobre estoicismo há muito tempo, criança, lendo os livros de Monteiro Lobato. Para mim, os espartanos eram mais estóicos que os atenienses, embora não existam evidências históricas de que isso seja verdade. Seja como for, sempre imaginei os seres estóicos calçados com sandálias romanas. Mas isso é só uma digressão.

É pelo estoicismo que admiro os caras como o Muhamad Ali, Bruce Lee e o... sei lá, Batman. Nem mesmo Bruce Wayne seria um décimo do que é se ficasse o tempo inteiro lamentando as perdas provocadas pelo Coringa e outros agentes do mal. Ali não teria sido quem foi se não fizesse piadinhas mesmo debaixo de pancada braba. Acho até que foi por isso que escolheram Will Smith para interpretá-lo no cinema. Não podia ser só alto, bonitão e forte. Tinha que ser tudo isso, além de parecer inteligente e bem humorado. Vi um vídeo antigo do Ali no You Tube e fiquei impressionado. E o Bruce Lee? Pô, o cara era demais. E isso é um monte de digressão.

Ronaldo Fenômeno e Herbert Vianna são pessoas que eu admiro pelo estoicismo já demonstrado. Ambos superaram coisas terríveis e continuaram a fazer o que sempre fizeram. Estoicamente. E também com alegria.

Este é o ponto fundamental, que mina um pouco a minha vontade de ser estóico. Os estóicos, como você pode bem conferir no google, também são apontados como indiferentes, impassíveis, imperturbáveis e austeros. E convenhamos que nenhuma dessas características prima pelo bom humor. Aliás, eu acho que os estóicos nunca nem tiveram primas. E eu acho ótimo ter bom humor. Embora às vezes eu seja bem estóico em termos de humor.

Mas não dá para ser estóico em blog. Aliás, são muito raros os estóicos que escrevem. Em geral, as pessoas que ficam numa boa, sem reclamar ou sem achar as coisas boas ou ruins, não se dão ao trabalho de escrever. E os estóicos, puxa vida, ficam na deles. Via de regra, se um estóico se dá ao trabalho de escrever um blog, é coisa curta. Um estóico de verdade escreve pouco, sei lá, umas três, quatro linhas por dia. Aí, você vai olhar a frase e fica o resto do dia pensando nela.

“O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use o abandono por dentro e por fora.”

Manuel de Barros , In O livro sobre nada, Rio de Janeiro: Record, 3a. ed., 1997, p. 7

Manuel de Barros é estóico e tem bom humor. Os estóicos de bom humor são quase todos poetas. Mas poucos, muito poucos, são bons poetas como Manuel de Barros. E é verdade, fiquei muito tempo pensando nessas frases, estoicamente.

2 comentários:

Rodrigo Carreiro disse...

As vezes a dita fraqueza é um sinal forte de um caráter humanizado. É importante em muitos casos. Eu acho.

Careca disse...

Rodrigo, pode até ser. Mas quem amarela, não tem jeito, amarelou.

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