segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Careca treina para a Crise



Eu sempre chego atrasado aos grandes momentos da história. E sempre tomo prejuízo. Eu cheguei atrasado na revolução psicodélica. Peguei o Diretas Já no finalzinho. Não sabia de nada e mesmo assim quase levei porrada. Vi o muro cair de longe. E quando os cara-pintadas pintaram a cara eu já estava em outra. De agora em diante, estarei sempre de olho no relógio, não vou me atrasar mais. Só preciso comprar um relógio legal, o que pretendo fazer amanhã, logo que tiver um tempinho extra. Preciso achar um relógio que evite que eu marque bobeira. Que me dê uns eletrochoques de advertência, quando eu estiver próximo, quase na hora, de fazer uma besteira. Ou quando alguma coisa importante estiver acontecendo e eu não perceber.

Antes de começar mais uma “magical mistery tour” com vocês todos, ó minha Kombi de leitores, devo dizer que estou assustado. É verdade. Essa crise afeta o humor das pessoas. E dá medo.

Mas vamos começar pelas regras de segurança. Eu posso ver pelo retrovisor dessa Kombi que alguns de vocês ainda não apertaram o cinto de segurança. Eu também não. E isso não é desleixo. É só que não faz diferença. O mais extraordinário dos grandes momentos históricos é que você percebe que é um pontinho minúsculo de uma partícula ínfima de um trocinho infinitesimal.

A globalização é um troço complexo. Mas também é simples. É complexo se você acha que pode se dar bem de alguma maneira. Aí, veja bem, é super-complicado pra dedéu. Mas ao mesmo tempo é super-simples porque a possibilidade de se dar bem não existe.

Quando globalizaram essa coisa toda, certamente ninguém pensou em você. Por isso, se você espirrar, não acontece nada. Mas basta alguém lá na ponta do infinito dar um chute no bumbum incauto de um indiano, de um chinês, ou mesmo de um birmanês, que você, aqui, perderá o emprego. Entendeu?

Não entendeu? Eu vou tentar desenhar. Mas já adianto que não sei nada de economia, só entendo aritmética básica. Desse modo, vamos aos conceitos essenciais. A globalização é um concerto cruel de ocorrências fúnebres. Você só faz parte dela quando a barra pesa. Só te chamam na hora de dividir os prejuízos. Enquanto os suspeitos de sempre ganham rios e tubos, você amarga o desconforto de estar fora dessa onda. Quando a marola virar tsunami, tudo o que você poderá fazer será cavar um buraco na areia. Viu?

Outro conceito básico: não tendo como pagar, ninguém emprestará nenhuma grana para o spic latino. Ainda que os Ninjas – No income, no job, no assets - dos EUA tenham abandonado os treilers onde viviam e passado a habitar mansões milionárias tenho certeza de que não foi isso que provocou a débâcle dos últimos dias. Foi uma borboleta qualquer.

É, minha querida Kombi, estamos aqui, no meio do gigantesco cíclotrons da economia, esperando um choque de partículas que irá desintegrar anos de trabalho e a tranqüilidade das aposentadorias que não conseguimos garantir. Daqui a alguns anos, estaremos todos na praia, ralando, tentando arrumar algum para inteirar as meias pensões da terceira idade dos velhinhos de alguma parte de cima do Equador. Isso, se tivermos sorte.

Portanto, caros amigos, é melhor treinar desde já:
_Hei, Mister, do you want a hot-dog?

8 comentários:

franka disse...

Será que nesse fim de mundo tão horrível que se descortina a gente vai poder fumar em paz ao menos?

Rodrigo Carreiro disse...

Eu tava lendo sobre economia, macroeconomia, etc... Mas não entendo porra nenhuma, Careca. Essa parada é muito filosófica.

Anônimo disse...

Putz, Careca, a gente fica anos lá na Geografia da USP ouvindo professor falar de globalização e não entende nada. Acho que você devia ir lá, dar umas aulinhas. Foi muito didático! Em tempo: na Geografia diz-se, entre as vinte mil definições que eles adotam, que globalização é a arte de "privatizar os lucros e socializar os prejuízos". Mas eu acho que isso é princípio do capitalismo, apenas com a globalização mudamos a escala. Abraços! PS - Ah, adorei o pulo que mistura o pedala com o casório sandinista. E do detalhe do dedão esquerdo topar na pedra!!! rsrs O dedão é um importante protagonista desse blog!

anna disse...

será mesmo, que tudo vai dismilingüir assim?

sei não, mas acho que ainda nãoo é dessa vez.

acelera a kimbi e vamos já prá praia, antes da terceira idade chegar!

Careca disse...

Franka, com certeza haverá fogo.

Careca disse...

Rodrigo, as finanças atingem a metafísica enquanto esvaziam o cofre.

Careca disse...

Janaína, absolutamente certa! É esse dedão que me move!

Careca disse...

Anna, estarei lá no ano que vem. Nesse ano, nem recesso.

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