segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Polias blindadas para o cortador de grama



Charlie Chaplin, o gênio.


Quase consegui terminar de pintar a cerca da casa na manhã de hoje. Mas começou a chover e tive que parar tudo. Eu já havia conseguido pintar metade da cerca até meados de setembro, mas uma série de coisas urgentes provocou a postergação do trabalho. Hoje resolvi encarar. Mas acabou não dando tempo. O principal motivo foi a chuva, mas também tive que sair para encontrar uma peça da máquina de cortar grama.

Descobri que a substituição de peças de máquinas é uma das atividades mais corriqueiras de quem mora em uma casa. Na minha época de apartamento, era raro ter que sair para consertar uma máquina. Em casa, rara é a semana que não quebra alguma coisa. Torneira, máquina de cortar grama, roçadeira, lavadora, geladeira, motor do portão, filtro da piscina, máquina de lavar louça, máquina de lavar roupa, bomba da caixa dágua, bomba do filtro da piscina, filtro da piscina, foram algumas das coisas que tive que trocar ou mandar trocar recentemente.

Meu gramado não é grande, agora, por causa das chuvas, uma vez por semana o jardineiro faz a manutenção com uma cortadora elétrica, daquelas de empurrar, e uma roçadeira a gasolina. Descobri que não vale a pena ter uma roçadeira a gasolina, é preciso muito cuidado no uso. Não basta instruir o jardineiro. Se a sua máquina quebrar ele vai dar de ombros e deixar o serviço para a semana seguinte. O melhor é ter uma roçadeira elétrica média, de 700w. É leve, fácil de controlar, permite acertos mais acurados sem problemas. A máquina a gasolina é mais potente e o jardineiro imagina que pode podar qualquer coisa com aquilo. Além disso, o recipiente de combustível deve ser totalmente gasto, não se pode deixar restos. É um cuidado simples, mas se você não vigiar o jardineiro, ele vai se esquecer desse detalhe e na próxima vez, sua máquina estará mais próxima da pane.

Os equipamentos também não são muito robustos. Mesmo as máquinas que ostentam PROFISSIONAL em letras maiúsculas, deixam muito a desejar em qualidade. A substituição de peças custa um absurdo, em geral não fica menos de um quarto do valor da máquina. Se houver danos no motor elétrico da coisa, então não fica por menos da metade. Mas tudo fica para a próxima, porque estou em Contenção de Despesas Nível Cinco, não comprarei máquinas novas tão cedo.

Então saí para ver se arrumava um rolamento para a polia da correia da cortadora de grama. Na loja de rolamentos o sujeito me explicou que a polia que eu levei é blindada e que a mera substituição do rolamento seria um paliativo de pouca duração. As polias blindadas blá, blá, blá e me indicou uma outra oficina de máquinas, um quarteirão adiante. Fui. Entrei na loja, o outro sujeito me repetiu a aula sobre as polias blindadas. Recomendou outra loja. Agradeci. Fui na outra loja, a terceira. Lá chegando, com a minha polia na mão, suja, as bilhas saindo, fui olhado com comiseração. Só não me chamaram de coitado.

_Ih, aqui não tem polia blindada desse tamanho. De que máquina é essa? É do cortador de grama, não é? Já te explicaram que não vale a pena trocar o rolamento? Mas se você quiser, a gente troca o rolamento. Vai querer? Não faça isso. Não vale a pena. Mas se você quiser, a gente troca. Quer?

_Não, muito obrigado. Não quero, estou de saída, tchau - eu disse.

Fui na outra loja que o sujeito da segunda loja também havia indicado. As oficinas do lugar são todas bem parecidas. As lojas possuem balcões simples, com prateleiras onde estão as peças novas. Na parte de trás das prateleiras funcionam as oficinas. Em todas as que entrei, o chão é quase preto de graxa, óleo, gasolina e sujeira. Sujeitos de macacão falam de futebol sem parar. Os mecânicos procuram identificar a peça na sua mão com uma única olhadela. Depois do diagnóstico, sempre feito em voz alta, eles voltam ao que estavam falando.

Nessa não foi diferente. O mecânico identificou a polia blindada e recitou a ladainha do manual.

_Olha, essa é uma peça blindada, não vale a pena trocar o rolamento...

_Sei, sei, vocês têm uma nova? - eu disse.

_Xii, vou verificar, mas acho que não tem. Zé, vem ver se tem dessa polia, faz favor - disse o sujeito.

E veio o Zé. Era corcunda, esse Zé. Magro, magro, e corcunda, corcunda. Não sei porque sempre associei corcunda a excesso de peso e cabeça grande. O Zé era magro, baixo e não tinha a cabeça grande. Ele também confirmou que não tinha daquela polia. Devo ter feito cara de desânimo nessa hora.

_Mas eu acho que devo ter uma usada - disse o Zé.

_Legal, pode verificar, por favor? - eu disse.

_Num instante.

Esperei dez minutos e o Zé voltou com uma polia igual à que eu tinha, mas com rolamento perfeito.

Ele não me cobrou nada.

Depois, quando já havia voltado e estava novamente pintando a cerca, eu fiquei pensando naquele orgulho dos mecânicos. No fundo, todos nós temos a mesma mania.


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