quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Niver nos olhos dos outros

Meu aniversário está chegando e a verdade é que eu gostaria de adiar um pouco a ocasião. Talvez uns dois ou três anos. Só o adiamento necessário para eu me recompor e me sentir melhor comigo mesmo. Agora, definitivamente, não estou pronto.

Em geral eu gosto muito de aniversários. Bolo. Parabéns. Com quem será. É pic. Balão em forma de coração. Curto mesmo. Eu entro no coro, bato palmas, ajudo a soprar vela e até língua de sogra, se precisar. Isso no aniversário dos outros. Nos das crianças e dos adultos.

Mas nos meus próprios aniversários a coisa é diferente.

Isso é recente. Deve ter menos de um lustro. Desde então, a tendência pró-adiamento de aniversário vem crescendo. No ano passado eu já não queria nenhuma comemoração, nada, mas fizemos um jantar para a família no velho apê. Neste ano já avisei que não quero nada, que vai ser ótimo ficar quieto. Minha mulher concordou. Mas vai saber. No ano passado ela também tinha concordado em não fazer nada e organizou aquele jantar fabuloso.

Na conversa do almoço de domingo, onde todo mundo dá palpite sobre qualquer coisa, alguém consultou a tabela de aniversários da minha mãe, que é super completa, e o meu aniversário acabou virando assunto.

Minha irmã falou assim:

_Tem mais é que curtir, fazer um festão. Aniversário é pra se comemorar! É a celebração da vida, da alegria de se estar vivo! Se fosse o meu aniversário eu faria uma megafesta para umas cem pessoas, com música ao vivo e tudo.

Mas no seu aniversário você não fez nada, ficou trabalhando até tarde, eu só consegui falar contigo por telefone - tive vontade de dizer. Mas não disse. Porque de repente me veio que aniversário nos olhos dos outros é sempre refresco. É só no da gente que dá apreensão, essa vontade de fugir correndo de um bolo com velinhas.

_Eu também acho que você deveria comemorar - disse a minha mãe.

_Não sei, mãe, acho que vou estar gripado - eu disse.

_Deixe disso, anime-se - disse ela.

_Estou me sentindo esquisito, mãe. Eu já tive catapora? - eu disse.

_Não fuja da raia - eles disseram.

_É sério, galera, acho que vou ficar com soluços. É um perigo - eu disse.

_Festa!Festa!Festa! - gritaram em coro.

_Talvez eu faça uma viagem - eu disse.

_Festa!Festa!Festa! - gritaram.

Minha família é muito festeira.

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