sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A envelhescente meia idade



The Wallflowers - One Headlight

Daqui onde estou posso ver a meia idade se aproximando acelerada. Foi o Mário Prata que escreveu aquela história das espinhas e inventou o termo "envelhescente". Você sabe, as pessoas com mais de 45 e menos de 60. De acordo com o Prata, pessoas nessa faixa de idade têm muita coisa em comum com os adolescentes, que não são crianças e nem são adultos. Espinhas, por exemplo. Os adolescentes têm espinhas na cara. Os envelhescentes têm na bunda, disse o Mário Prata. Na célebre crônica, ele também diz que compartilhamos com os garotos o gosto pelas moças de vinte anos. Eu concordo. Eu concordo com a crônica inteira, googla ela .

Mas saber-me um envelhescente não ajuda em nada. Eu olho pra frente e vejo a meia idade chutar a porta da frente. Eu abro a porta. Pode entrar, é aqui mesmo. Sou eu que você veio encontrar.

Minha meia idade é meio sem graça para quem já viveu metade da sua vida. Ela usa daquelas camisas de correr, um casaco de três listras brancas com capuz de amarrar, moleton, tênis e meia soquete branca. Pelo jeito, é muda. Ou então está sem fôlego. Ela está com pressa, faz sinal para que eu a siga.

_Nem pensar. Não vou sair correndo nem que a vaca tussa - eu digo.

Detesto essa expressão. Sempre uso expressões que eu detesto quando não quero fazer uma coisa. A meia idade coloca a mão na cintura. Ela ameaça chutar a minha barriga. Eu não gosto de violência. E não gosto que chutem a minha barriga. Então eu digo que vou correr.

_Só preciso encontrar o meu tênis - eu digo.

Enquanto eu subo as escadas, tento bolar um plano para fugir da meia idade. Mas a minha escada é curta e num instante já estou calçando o tênis. Se eu tivesse pelo menos uns trinta degraus, teria bolado alguma coisa, tenho certeza. Ou talvez não. Afinal basta estar vivo para que a meia idade nos alcance. Mas agora já não dá mais tempo de pensar em nada, a meia idade trota à minha frente. Corre de costas, a danada. Ela não precisa olhar o caminho. E desse modo não tira os olhos de mim.

Não tenho como fugir. Por outro lado, percebo que a meia idade também não está lá com essa pressa toda. Olhando assim, é até simpática essa meia idade. Não está em grande forma, a gente percebe que já teve dias melhores, assim como eu. Mas não é um caso perdido.

_Vem cá, meia idade, depois dessa corrida, que tal uma gelada? - eu pergunto.

Ela responde com um grande sorriso.

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