sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Um maremoto de palavras

Às vezes eu me pego voltando a ser o que eu já decidi que não quero mais ser. O idiota sobressaltado com o tempo dos outros, sem hora para nada, nem para si mesmo. O imbecil que tamborila a própria cabeça e se atormenta com perguntas que não vai conseguir responder.

Sou só mais uma peça num tabuleiro intricado demais. Jamais vou conseguir descobrir o sentido da floresta. Mas posso enxergar um sentido, ainda que chinfrim, numa árvore ou noutra. E, na verdade, são poucos os destinados a serem brilhantes.

Existem algumas imagens que não me saem da cabeça. O amargurado, que arranca os próprios cabelos e esfrega terra no peito. O menino, sentado na calçada, que observa o barquinho de papel se esgueirar inevitavelmente para o bueiro. A mulher que pede uma bofetada para o amante. O arrependido, que chora lágrimas amargas em copos de chopp. Nunca sairão da minha cachola, essas imagens tristes e tolas, dos dias em que eu pisava o chão com os meus pés de barro.

Houve um tempo diferente. Eu achava que poderia voar a qualquer momento. Para alçar um vôo rápido, eu só precisaria fechar os olhos com força e me concentrar bastante nas pessoas que eu amava. E num instante eu estaria planando feito pedaço de plástico soprado pelo vento.

Agora já não é mais assim. Parece que me perdi de um mundo e estou suspenso de outros. Não encontro o foco para levitar. Eu desmorono avalanches. Desespero. Carrego um maremoto no peito.

Em outro tempo, já fui o rei de umas guerras sutis. Brilhei num dia frio, bem rápido. Quase ninguém viu. Flutuei alguns segundos breves, antes de naufragar tempestades. Se eu tivesse tido bom senso, ainda teria aquele par de asas roubadas.

É tarde. Tenho os sentidos centrifugados. Só furacões me comovem.

6 comentários:

Tatiara Costa ; ) disse...

Oi tudo bem?Muito lindo e profundo o que escreveu :) eu sou bem assim às vezes me pego a lembrar de coisas tristes , às vezes me lembro de como podia ir mais longe, melhor como eu ia longe, mas tudo mudou? Onde estão nossos sonhos?
Bj

Careca disse...

Tatiara, voltou a blogar! Que bom, estamos aí, procurando quimeras.:)

Mwho disse...

Careca,
Bem-vindo ao mundo do esfarelando...
Abraço,
Mwho.

Careca disse...

Mwho, esfarelemos-nos todos.

Anônimo disse...

Careca, será que perder asas e ficar suspenso entre mundos é o destino de todos na vida adulta? Me sinto da mesma forma, só não sabia como me expressar de forma tão bonita. Sinto tanta falta das minhas asas... Abraços.

Careca disse...

Janaína, :)

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