sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A parte que eu não canto

Onde eu trabalho não tem muita gente. Mas tem muito aniversário. Praticamente toda semana tem parabéns. E às vezes é mais de um que faz aniversário. A solução para todos, de qualquer forma, é igual. Vaca. Um fulano passa a lista, faz a vaca e estamos todos dentro.

Tem os aniversários “pébas” em que todo mundo colabora com o que quiser. Tem os aniversários poderosos, em que o fazedor de vaca passa lista em que você anota o valor da contribuição e faz um chamegão. Tem os aniversários de chefes e chefões, em que o fazedor de vaca põe até valor mínimo, avaliando o seu contra-cheque pela cor da sua gravata.

As duas últimas modalidades são bem chatas, mas existem. Em geral, nas de chamegão eu coloco um número acompanhado de um monte de zeros a mais, só para impressionar. E nos de chefes e chefões eu vou pela média, sem chamar a atenção.

Bom mesmo é quando ninguém anota nada e um J.C. sai correndo para comprar uns salgados e um bolo de última hora. Esses é que são legais, pois não rola puxa-saquismo. O cara aniversariante é um ser humano igual a você e eu, que esquece os aniversários e não tem nenhum sub-fazedor de média que presta atenção na data em que ele faz anos. Em geral, o J.C. é o chapa mais chegado, que acaba no prejuízo, sem coragem de fazer vaca nenhuma, quanto mais de passar lista.

Já trabalhei em alguns lugares onde no dia do aniversário de alguém todo mundo se encontrava num boteco. Ou numa boite. Ou num lugar chique qualquer. Hoje em dia as pessoas se reúnem em pistas de kart. Em clubes de paintball. Em salas de alpinismo. Em passeios ciclísticos noturnos.

Eu estou ficando cada vez mais velho e embarangado. Não vou a nada disso. Tenho preguiça de boteco. Boite me dá dor de cabeça. Lugares chiques não costumam aceitar pessoas como eu. Além disso, eu me recuso a andar a 80 quilômetros por hora com o meu reto distante apenas cinco centímetros do asfalto. Desisti de paintball depois de levar uma saraivada de balas e colecionar hematomas. Não curto alpinismo de salão. Aliás, não tenho a menor vocação para lagartixa. Não sou de subir pelas paredes. Mas eu me perco.

Aniversários. Falava de aniversários no trabalho. Pois então. Lá pelas cinco e meia, numa sala de reunião, todos se apertam para comer um bolinho e apertar a mão do felizardo. Ou da felizarda. Eu me amarro em parabéns. Canto com energia, batendo as palmas das mãos com força. Eu enfatizo o “muitos anos de vida”. Vou com alegria no coro do “é pique, é pique”. Mas não entro na parte do “Com quem será?”. Isso dá confusão, já vi, em outros lugares em que trabalhei. Essa parte eu não canto.

2 comentários:

franka disse...

no meu escritório só tem eu e a M., mas a gente também faz vaquinha e canta parabéns.

Careca disse...

Franka, com esse tanto de gente no seu escritório, acho que deviam fazer amigo oculto nos aniversários...

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