Foi aniversário na casa do Niltão. E eu fui com a Patroa, é lógico. Nós já estávamos com um compromisso assumido com a Princesa para as seis da tarde. Mas dava tempo de almoçar com os amigos e levar os filhos no circo, é lógico. Acho Circo um programa totalmente Cheyenne, mas é difícil dizer não para a Princesa por mais de seis meses. E então combinamos de ficar no Niltão até as cinco da tarde. E de lá, nós zarparíamos para o Circo.
O Niltão é um super-cozinheiro. Heavy Metal, é claro. Quando vamos almoçar por lá, sempre comemos até cansar. E bebemos também. Mas a Lei Seca e a minha velhice precoce já acabaram com os meus porres. Então fomos preparados para comer muito.
O Niltão estava preparando um camarão na moranga. Esse prato é uma das poucas coisas que me fazem chorar de satisfação. É verdade. Já acordei algumas vezes à noite pensando em camarão na moranga, emocionado. Em geral, é um sonho que termina de repente, logo depois de umas trezentas garfadas numa porção de camarões estupidamente deliciosos dentro de uma moranga. Gosto muitcho.
Chegamos chez Niltão depois das duas, porque aos sábados a Patroa dá aula na faculdade até uma e meia. O Niltão estava cercado de panelas e morangas e o cheiro da comida já estava maravilhoso. Cumprimentamos a aniversariante, que estava radiante, e partimos, cada um para o seu lado, para o convívio social. Nós sabíamos que o rango iria sair depois das quatro, então estávamos psicologicamente preparados. Obviamente, eu fiquei conversando com a rapaziada, que fazia tempo que eu não encontrava. Conversa amena, sobre coisas novas e velhas. Conversa desbocada. E conversa esquisita, depois que um sujeito resolveu distribuir perguntas a torto e a direito para os meus bons amigos.
E o tempo passou voando, como sempre passa, quando estamos nos divertindo. E saímos às pressas, sem provar o camarão na moranga. É bem verdade que já havíamos nos empanturrado de outras coisas. Na saída ainda vimos rapidamente El Grande Mamma, um dos sujeitos mais engraçados que já tive o prazer de conhecer.
Chegamos em casa e a Rose, nossa babá-governanta-cozinheira-faz-tudo-gente-fina já havia preparado as crianças para sair. Estávamos na porta do Circo às seis e quinze. O Circo Moscou. E sem querer fazer trocadilho idiota, o Circo estava às moscas. Era um Circo peba, mas bem arrumadinho. Estava chovendo, é verdade, mas só isso não explica um estacionamento gigantesco com apenas oito carros. A Patroa desceu e foi conversar com um sujeito que estava na porta do Circo. Era o sujeito da bilheteria, com uma estranha calça preta brilhante. A Patroa fez sinal para eu descer com as crianças. Ela havia arrumado um descontão nos ingressos. A Princesinha estava radiante. Meu filho não disfarçava a má vontade em nos acompanhar.
Lá dentro tudo ficou diferente. Era um Circo conforme eu me lembrava dos pobres circos da minha infância. O bilheteiro era o malabarista, trapezista e atirador de facas. O mágico era também o ventríloquo boca-suja e o vendedor de pipocas, no intervalo. O velho vendedor de badulaques de papel e guloseimas era o apresentador do Circo, palhaço, dono do Circo Moscou e motoqueiro do globo da morte. E a menina bailarina, era também a menina que era levantada pelos cabelos e fazia um número de dez minutos girando no ar. A ajudante e mãe da menina fazia par com o malabarista, que também era o eletricista, sonoplasta e pai daquela menina. E o último número, o terrível globo da morte, demorou para começar porque os dois contra-regras, que eram o eletricista-bilheteiro e o mágico-ventríloquo, estavam um bocado cansados. Eles se atrapalharam com o tapete do picadeiro.
E o próprio velhinho dono do Circo foi tentar ajudar. Não conseguiram e perderam a paciência. O motoqueiro fez uma rápida exibição, sem abusar, porque o globo começou a vibrar muito.
E meus filhos, os dois, ficaram encantados com o Circo, mesmo ele sendo tão peba, coitado.
2 comentários:
no passado eu fazia igualzinho. agora, que sou boba com filho grande, não largo a moranga por nada.
Franka, daqui a pouco os filhos vão estar grandes e eu vou poder ser um bobo mais à vontade. E grudar na moranga.
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