Uma vez tentei fazer meu filho acreditar que eu possuía minha própria nuvem particular. Disse que era uma nuvem difícil de ver, mas que me acompanhava onde eu fosse. Era uma nuvem muito educada, que não entrava na minha casa a não ser que eu a convidasse. E eu não fazia isso porque as nuvens gostam de liberdade. Além disso, elas molham muito. E não gostam de tetos e paredes, choram à tôa.
Expliquei a ele que nuvens eram muito fiéis aos donos. Estão sempre com você, enquanto você estiver pensando nelas. Expliquei também que as nuvens selvagens viviam brigando e produzindo chuvas, raios e trovões. Também disse que as nuvens domesticadas, que viviam em cima da cabeça dos donos, acabavam chovendo de tristeza. Então, o bom senso mandava ter uma nuvem de estimação para você criar solta, longe da cabeça, longe de lugares fechados. As nuvens ficavam felizes com isso. E você também.
A minha nuvem, por exemplo, estava comigo há muito tempo. Eu chamava ela de Blanca, embora ela fosse um pouco cinza. Quando ela estava triste, o cinza ficava mais forte. E nessas horas, nem ela e nem eu queríamos saber de muita conversa. Cada um ia para o seu canto. Eu ficava com os meus cadernos, rabiscando. E a Blanca ficava na dela, lá em cima, silenciosa como só as nuvens sabem ser. Eu acabava me esquecendo do que me fazia ter ficado chateado e depois voltava dos cadernos, de bom humor. A Blanca não. Ela só voltava com o tempo certo. Com o vento adequado. E quando eu a percebia, lá em cima, às vezes já era mesmo hora de voltar para casa, de dormir.
Um dia, eu disse para o meu filho, eu me esqueci da minha nuvem. Isso é uma coisa muito comum. Todo mundo que já teve uma nuvem acaba fazendo isso. A gente esquece da nuvem. E as nuvens não ficam chateadas por conta disso. Elas simplesmente vão para um canto do céu que está cheio de nuvens esquecidas. Ficam lá até que chovam ou sejam adotadas. Blanca mesmo tinha sido adotada por mim num dia de sol e chuva. Eu estava olhando para o céu quando vi uma nuvem pequena, parecida com um chumaço de algodão, só que muito maior. Naquele instante, eu percebi que aquela tinha que ser a minha nuvem de estimação. Ela deve ter sentido alguma coisa parecida, porque desde aquele dia não me deixou mais sozinho. Quero dizer, até que o dia em que a esqueci.
Depois tive que passar uma tarde inteira olhando para o céu para encontrar a minha nuvem de volta. Agora eu tomo o maior cuidado com ela. É a minha nuvem de estimação.
_E uma nuvem serve pra quê? – perguntou o filhote.
_Elas fazem ótimas sombras em dias de sol – eu respondi.
_E nos dias de chuva? – ele disse, espertalhão.
_Não ajudam, mas também não atrapalham.
_Pai, você é maluco.
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