Está uma manhã muito fria e eu cansei um pouco de escutar rock´n´roll dentro do carro, com as crianças. A chuva fina deixa o trânsito muito mais lento na capital do país. Todo mundo tem medo de escorregar nessa cidade. E a pista molhada dá mesmo essa impressão, de que tudo está mais liso do que antes, que um pequeno erro pode virar mais que um deslize.
Presto atenção numa história que meu filho conta. É uma história sobre a Maria Sangrenta, o fantasma do banheiro do galpão da escola alternativa.
_Maria Sangrenta? – eu pergunto, lembrando da Bloody Mary.
_É pai, ela aparece no banheiro.
_É, no banheiro – se intromete a minha filha, de quatro anos.
_E você já viu?
_Já. Não. Mas o Pedro de Freitas viu, uma vez.
_Eu também vi – diz a menina.
_E o que ela fez com o Pedro de Freitas?
_Nada. Só ficou olhando.
_É, ela fica olhando – repete a princesa.
_E por quê ela é sangrenta?
_Ué, porque ela chora sangue – ele me informa.
_É, e o sangue é vermelho, oras.
_E porque ela chora?
_Para fazer medo na gente, ué.
_Eu também choro – diz a menina.
_Ai, que medo! Se eu visse a Maria Sangrenta chorar eu também morreria de medo.
_Eu também choro – repete a menina.
_Você já viu, filhota?
_Não, paiê. Eu vou no banheiro da minha sala.
_E você, filho, também vai no banheiro da sua sala?
_Eu vou, pai, mas lá não tem fantasma.
_É paiê, só tem fantasma no galpão.
_Você queria ver fantasma, filho?
_Não, só a Maria Sangrenta.
_Só ela, paiê.
_E pra quê?
_Porque eu ainda não vi, oras.
_Eu também, oras.
_ Você não vai ficar com medo?
_Só se ela chorar. Não pode deixar ela triste.
_Tem que fazer ela rir, paiê.
Tentei pensar em coisas engraçadas para dizer a um fantasma. É difícil.
10 comentários:
Nossa, as crianças pioraram muito a história da Loira do Banheiro, hein? E eu que achava que a nossa já era aterrorizante só porque ela tinha algodão no nariz... Abraços.
com certeza seus filhotes falariam algo que ela iria se esburrachar de rir!
porra, careca.
me fez lembrar da terrível Maria das Trouxas, que pegava os meninos que estivesse na rua depois da meia noite. era foda, meu irmão.
abraço
Janaína, senti um arrepio na espinha ao ouvir falar em Loira do Banheiro. Quase escrevi sobre ela também, os dois falaram dela, mas achei a história da Maria mais esquisita. Quer dizer então que você já foi da escola alternativa, quem diria...
Anna, tem razão, eles arrumariam um jeito dela gargalhar e se divertir:)
Bono, meu terror de infância se chamava Joaquim Paroba, que vinha a ser somente um morador de rua, pobre e amalucado.
nossa, que medo. nunca mais vou em nenhum banheiro de olho aberto.
Eu nunca encontrei a loira do banheiro na escola. Por isso, eu tinha pavor que ela aparecesse no banheiro de casa. Eu cobria os ralos antes de fazer xixi.
A gente cresce e esses medos se vão. Hoje eu até vejo o amigo imaginário do meu filho. O problema é que meu filho não enxerga essas coisas. Então sou eu que tenho que ficar conversando com o amiguinho dele...
Franka, quando o assunto é banheiro, o melhor é ir de olhos bem abertos.
Nina, tampa no ralo barra fantasma? Legal, uma tampa ghostbuster!
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