terça-feira, 4 de novembro de 2008
Pô, vê se não esquece!
Eu recebo poucos e-mails familiares. Meus irmãos raramente mandam mensagens. Dos sobrinhos, conto nos dedos os e-mails recebidos. A Patroa escreve pouquíssimo para mim. Aliás, quando recebo e-mail da Patroa já sei que vai sobrar alguma coisa para o meu lado. É pedido para fazer alguma coisa ou reclamação por eu não ter feito outra coisa. De qualquer modo, eu sinto logo um arrepio, pois estarei sendo condenado ao final da mensagem com algo gentil como “Pô, vê se dessa vez você não esquece, hein?”. E na verdade eu não me esqueço. A Patroa tem uma sintonia tão grande comigo que ela às vezes acredita que eu sou capaz de ler a mente dela. E, talvez por isso, ela não se dê ao trabalho de me dizer as coisas.
É super legal. De verdade. Eu me sinto como se estivesse participando de um espetáculo de mágica, como auxiliar do truque do coelho e o mágico me pedisse o serrote.
Outro dia mesmo, era sábado, ela me deu uma cotovelada às seis da manhã e disse assim:
_Hoje é sua vez.
_Vez de quê? – eu balbuciei, ainda de olhos fechados por uma tonelada e meia de sono.
_De ficar com as crianças. Levanta.
_Hum-hum – eu disse, claramente em concordância.
_Levanta, benhê, é sua vez. Você combinou.
_Hummmmm – insisti.
_PÔ, CARECA, QUER LEVANTAR E FICAR COM AS CRIANÇAS PARA EU DORMIR!!!!
E no meio da frase eu já estava de pé e tinha corrido para junto das crianças. É, minha querida Kombi, comigo é assim, eu sou rápido à beça quando as pessoas começam a falar comigo em letras maiúsculas. Abraçado às crianças, enquanto recuperava o fôlego e um pouquinho de dignidade e amor próprio, eu inspirei e expirei até que o meu coração recuperasse o seu ritmo neurastênico de todos os dias. E durante esse processo de retomada, fiz uma retrospectiva mental do dia anterior, da semana, do mês e do ano e não me lembrei de ter combinado nadinha com a Patroa.
No entanto, como eu já estava de pé, eu não iria iniciar uma discussão por travesseiros e espaços no colchão. Tratei logo de ir brincar de brinquedos calmos com as crianças, brincadeiras inocentes e lúdicas, ideais para madrugadas de sábado tranqüilas e infalíveis como Bruce Lee: o xilofone, a bateria rítmica e o tecladinho chinês da feira dos importados.
Sim, minha querida Kombi de leitores argutos e circunspectos. O xilofone alcança apenas 140 decibéis na escala Richter, o que não chega a ser um verdadeiro incômodo. A bateria rítmica é um Olodum portátil sem Carlinhos Brown, mas não é nenhuma avalanche. Agora, até mesmo eu tenho que admitir que aquele tecladinho Hong Kong Fu foi uma provocação deliberada. Mesmo assim, não dou o braço a torcer. Desde então tenho insistido com a Patroa para que ela faça um curso rápido de “Controle da Raiva e Manutenção do Bom Humor em Manhãs de Sábado”.
Agora mesmo vou mandar uma mensagem para ela, lembrando que eles oferecem o dinheiro de volta em dobro para as pessoas que fizerem o curso e não conseguirem controlar a raiva. Eles nem falam do bom-humor. Ou seja, é investimento garantido. E o teclado Made In Último Imperador é imbatível como Bruce Lee. E só para chatear um pouquinho eu vou escrever assim, no final: “Pô, vê se não esquece, hein?”.
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7 comentários:
Isso tudo foi sono? ehheheh
kakakakaka... Você aprendeu a ser assim com seu irmão, foi? kakakaka Deixa a Patroa ler isso, você vai dormir na varanda... ou no jardim! Adorei o post, Careca! Abraços.
Caraca....kkk
Aliás, careca...kkk
mto bom!!
Vc me fez lembrar os meus pais...
Minha mãe é a segunda filha d uma família de 11 filhos...e meu pai é o caçula de 4... ou seja.. minha mãe criou irmãos a beça.. e meu pai sempre foi bajulado.. Ele qria filhos e ela não... aí eles fizeram um trato: minha mãe carregaria 9 meses, amamentaria... mas qm acordaria td noite (seja lá pelo motivo q fosse) meu pai teria q levantar... e adivinha??? eu tenho 25 anos e até hj se algo acontece qm levanta é ele... hahaha
E o pior, nem amamentar minha mãe pode pq nem eu e nem minha irmã quisemos mamar... só mamadeira msm! Acho q meu pai saiu na desvantagem... ele fala q é por isso q não tem um fio d cabelo na cabeça... rs
amei o post e o blog
Rodrigo, é um acumulado de coisas, mas o sono prepondera...
Janaína, você adivinhou. Dormi na varanda e agora estou com uma gripe medonha.
Josy, meus cabelos caíram por causa da lei da gravidade mesmo. Seja bem-vinda à Kombi de leitores do blog!
um amigo costuma dizer que a melhor tática pra lidar com a patroa é se fingir de maluco.
abraço, careca.
*nunca mais li porra nenhuma, mas vou me atualizar.
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