terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Natal já bate os sinos




Esse meu calendário está cada vez mais curto. O ano acaba cada vez mais rápido. Ainda outro dia estávamos em outubro. E tenho ainda boa lembrança de setembro. Agosto já está meio esquecido, é verdade. E também não me recordo muito bem do meio do ano. O primeiro semestre, nem preciso falar, já fez um milênio. É por isso que estou tão chocado. Antigamente, no semestre passado, o tempo passava depressa. Mas agora está demais.

No final de semana atrasado, fui almoçar num shopping e quase caí de costas. O Natal já havia chegado. Com música e tudo. Os sinos já batiam pequeninos. E eu pensava que estávamos entrando em novembro. Cacilda! Caramba! Estávamos mesmo entrando em novembro! Mas a praça central do shopping já estava repleta de pinheiros e coisas vermelhas e brancas. Neve falsa já enfeitava os galhos falsos. Renas falsas piscavam narizes vermelhos e falsos. Muito brilho dourado de estrelas gordas e falsas enfeiavam uma paisagem que parecia uma cabana do Pai Thomás, só que sem o Thomás, sem pai e sem mãe. Lantejoulas, tiaras, flânulas e guirlandas prateadas se esticavam por todos os lados. Num instante, eu me vi cercado daquele apelativo e cansativo Natal de veludo vermelho e algodão branco. Aquele Natal sem um mínimo de brasilidade. Sem religiosidade. Sem um pingo de sub-tropical temperado. Aquele Natal importado, de castanhas e nozes. Aquele Natal que todo mundo adora.

As crianças estavam comigo e começaram a gritar que ainda nem tinham escrito as cartas para o Papai Noel. É que todo ano nós escrevemos cartas imaginárias para o velho e bom Santa Claus. Cartas!
_Crianças, não se preocupem. Este ano vamos mandar e-mail. É mais rápido, é de graça e o Papai Noel usa o tradutor automático. Legal demais, né?
_Mas Pai, lá no Pólo Norte não tem computador! – afirma, categórico, o meu primogênito.
_Como você sabe? – eu pergunto.
_Já vi na televisão, Pai. Lá não tem máquina. Só anãozinho. E rena – ele completa.
_E como as cartas chegam até lá? – eu pergunto, franzindo as sobrancelhas.
_É o vento que leva, seu bobo! – explica a minha filhota, de quatro anos.
_Bom, a gente manda o e-mail. Se voltar, a gente sopra o e-mail e o vento que o carregue. Ou então a gente aluga um anãozinho, uma rena. Sei lá, a gente pensa numa coisa.

Mas não dá para pensar em outra coisa. As crianças já estão encurraladas pelo Natal por todos os lados. Serão praticamente dois meses de bombardeio contínuo de compre isso e aquilo. Oito semanas incandescentes de tenha aquilo outro e também aquele treco ali. Quase sessenta dias de não perca a gororoba, seja feliz comprando a churupita e parcele em três vezes a boneca, o boneco, o video-game e a super eletrola. Estoy ferrado.

À noite, o Espírito Natalino fez uma nova vítima. A Patroa chegou com uma nova árvore de Natal e dezenas de enfeites.

_Este ano a gente podia armar a árvore mais cedo. Também comprei um monte de luzinhas pisca-pisca, uma estrela de lâmpadas nova e um monte de coisas. Olha, tem um monte de velas enfeitadas. O que você acha? – ela pergunta.
_É sensacional. Vamos armar a árvore depois do seu aniversário, amor.

Eu adoro Natal. Bate o sino...

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu achei que o Natal começou cedo demais esse ano... Careca, são esses manés do comércio que fizeram isso com medo da famigerada crise. Anteciparam para que a gente sofra a pressão de comprar por mais tempo. Um saco total. Mas tem o tal chocotone/panetone, que é uma importação legal. E montar a árvore também. Agora, neve artificial aqui é de doer! Não dá pra importar tudo! A gente devia usar araucárias no lugar de pinheiros. E frutas no lugar de bolas. Já pensou uma jaca luminosa pendurada numa araucária na sua sala? rsrsrs Abraços!

Careca disse...

Janaína, a jaca está mais para Haloween. Umas mamonas brilhantes seriam bem legais, com goiabas, mangas e cajás.

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