domingo, 9 de novembro de 2008

Café da manhã

O convite para a festa de aniversário do amigo do meu filho dizia para cada um levar um skate para radicalizar. O resto era uma imagem de um skatista e o endereço. E a imagem era de um video-game 3D onde um garoto equipado de capacete, joelheiras e cotoveleiras fazia uma manobra esperta. Meu filho tem cinco anos e estuda numa escola alternativa. E eu pensei que ele havia esquecido desse aniversário, que foi nesse sábado. Mas ele não esqueceu. Na verdade, foi a primeira coisa de que se lembrou quando acordou, às seis horas e trinta e dois segundos.
No convite, dizia que a festa seria um café da manhã. Caramba, esses alternativos inventam cada uma! Ô povo chato para dar festa! Aliás, café da manhã é pretexto para não dar festa nenhuma! Onde já se viu! Chegar de manhã, às nove horas de sábado na casa dos outros, para um café da manhã. Ai, saco! Ultimamente só me enfio em roubadas! Enquanto eu me esfalfaria numa festinha de crianças a Patroa iria ficar numa boa, total, dando aulas tranqüilamente para um bando de marmanjos numa faculdade. O paraíso na Terra. E eu teria que levar as crianças para uma festinha metida a alternativa de aniversário. Tudo bem.
_Pai, podemos ir?
_Ainda falta um pouco, filho. Primeiro nós precisaremos nos arrumar.
_Quanto falta, pai?
_Umas três horas e meia, filhote.
_Passa rápido.
_É verdade.
E nesse meio tempo, minha filha também já acordou e agora temos duas crianças acordadas e um pai semi-desperto.
_Pai?
_Diga lá.
_Já está na hora?
_Quase, só faltam três horas e vinte e nove minutos.
_Isso passa num instante.
_É verdade.
E é mesmo. Num instante já havíamos feito tudo o que deveríamos ter feito. Estávamos prontos e lépidos, e com um monte de equipamentos preparados para a festa. Cada um levava a sunga, um skate, um patinete, e duas dúzias de brinquedos para a piscina. Cada um com sua mochila.
_Pai, já está na hora?
_Sim, podemos sair. Só faltam três horas e dezenove minutos. Que tal a gente tomar café da manhã antes?
E assim foi. Com a maior calma do mundo, consegui controlar a ansiedade do meu filho até as nove e quinze. E como a casa do colega era distante, pensei que daria tempo para chegar mais gente.
Em vão. Eu estou tão careta que não consigo nem chegar atrasado em festa de criança. Cheguei às dez e cinco, na tal casa. Estranhei a ausência de barulho. Estranhei a ausência de decoração. Estranhei a ausência de gente. Mas havia um monte de automóveis estacionados. Para minha sorte, ou falta dela, um casal de idosos acabava de entrar na tal residência. Confirmei o endereço. Confirmei a realização da festa. Confirmei que estava certo. Fui o primeiro a chegar. E esquecemos as mochilas com as tranqueiras de piscina e as sungas e maiôs. E eu me cansei.
E o pior de tudo foi, de repente, me pegar conversando sobre um monte de coisas que eu não ligo a mínima. Com um monte de gente com quem eu não tenho a menor vinculação. Me sinto cada vez mais estrangeiro da escola alternativa e sua gente. Café da manhã!E o "parabéns" foi chocho, chocho.
_Pai, não tem lembrancinha?
_Acho que não, filho. Torraram a grana toda em presunto.

4 comentários:

Anônimo disse...

Coisa chata isso, né? Tudo hoje tem de ter conteúdo, tem de ser politicamente correto, tem de ser inovador, tem de ser criativo... Ai que saquinho! Espero que tenha melhorado da gripe. Juro que não falei pra Patroa te botar pra dormir na varanda, eu não conheço a Patroa. Será que ela leu aqui e aceitou a dica??? Se foi, desculpa aí, Careca, não era a intenção. Manda a conta do Doril aqui pra Sampa! rsrsrs Abração!

Careca disse...

Janaína, acho que foi só coincidência mesmo. Além disso, a varanda é bem agradável nessa época do ano. O problema são os pernilongos...

franka disse...

ahahahahahahahahahhaha.
dimais essa festa. praticamente uma festa do pijama do papai. adorei o micão.

Careca disse...

Franka, alguém tinha que ser o primeiro. Dancei feio.

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