sábado, 1 de março de 2008
Por quê eu não sou milionário?
Por quê eu não sou milionário? E por quê não sou uma estrela de cinema?
A primeira é fácil.
A última vez que ganhei dinheiro tive que dar um duro danado, quase dez horas por dia. E nem recebi hora extra. O cara para quem eu trabalhava era um milionário. Um dia eu perguntei, de forma direta, o que eu deveria fazer para eu também me tornar um milionário. Ele me olhou com uma cara de quem já tinha pisado naquela pergunta uma vez, passeando com o seu dog alemão entre os pálidos e os famintos.
_Pombas, Careca, você tem que ralar muito – e olhou para a sola do sapato italiano. Parecia estar procurando alguma coisa.
_Ah, eu pensei que você tinha herdado – eu disse, roendo um pedaço de unha. Eu também sei ser esnobe.
_Só a menor parte – ele retrucou, balançando o Rolex de forma a exibir o brilho dos seus doze diamantes.
_ A parte baixa? – finalizei.
Uma frase tão lapidar quanto uma estocada fulminante de habilidoso espadachim. Acho que foi por isso que eu não recebi as horas extras.
Voltando à pergunta, a resposta é simples. É só escolher uma aí debaixo:
Eu não ralo o bastante.
Eu não ganho o bastante.
Eu falo demais.
Eu pergunto demais.
Eu não tenho dog alemão.
E eu acabo de perder o CPF e a conta que eu tinha no banco.
Mas não perdi a esperança. Não, senhor. Não, senhora. Não, crianças. E você aí, fingindo que não é com você. É. Você mesmo. Ainda não perdi a esperança. Ela está por aqui, em algum lugar.
Já ouvi falar de muitos carecas que juntaram fortunas em colchões de espuma. Pessoas que dormiram, sonharam e acordaram sobre dinheiro. Por isso, ontem eu tentei fazer o famoso teste no colchão daqui de casa. Coloquei o dinheiro num buraco que eu fiz, no meu lado de dormir do colchão. O dinheiro eu pedi emprestado para a Rosenereide, a Rose, que trabalha aqui em casa. A Rose recebeu o salário pela manhã, bem cedo, antes da Patroa sair para o trabalho. Depois do almoço, com o dinheiro ainda enfiado no colchão, eu tentei tirar uma soneca. E consegui. Teria sonecado o sono dos justos se não fosse o latido incessante do síndico, o poodle do sexto andar. Fui latir um pouco na porta do apê do síndico, só para passar a raiva. Quando eu voltei, a Rose já tinha ido embora. E levado a grana. De modo que ainda não deu para fazer o teste completo do colchão.
À noite, desisti por completo do projeto colchão porque a Patroa descobriu o buraco que eu tinha feito. Para evitar um buraco na cabeça, fui dormir na sala. O síndico latiu a noite toda. Desse jeito, não vou conseguir virar milionário.
Já ouvi falar de sujeitos que escondiam notas de cem dólares entre as páginas dos livros da biblioteca. E eu já tenho os livros da biblioteca. Mas tenho que devolver para a biblioteca. E eu não tenho cem dólares. É difícil.
Não, senhor. Não, senhora. Não, crianças. Cadê aquele cara? E a esperança?
E por quê eu não sou uma estrela de cinema?
Oras, porque eu não quero fazer sempre o mesmo papel de careca.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Coisa difícil esse ser ou não ser milionário.
São tantas questões...
tava pensando.
você conhece algum milionário que tem blog?
E eu nunca encontro as respostas. Esse é o meu problema.
Franka, tirante você, só conheço o milionário do dog alemão. E milionário não tem blog mesmo. Tem portal de interatividade.
ahahahaha
Postar um comentário