segunda-feira, 17 de março de 2008
Mercedez na manhã de letras
Sábado teve manhã de letras na escola alternativa dos meninos. Foi super legal. Manhã de letras é o dia de doar livros infantis para a escola. Eu, a Patroa e as crianças fizemos questão de comparecer em bloco. Livro é coisa importante.
E o povo alternativo é sempre muito legal de se observar. Eu estava no meio de um devaneio sobre o padrão das tatuagens do povo alternativo quando passou uma senhora. Estilo Janis Joplin estivadora, mesmo sorriso, mesmo cabelo, pescoço de Mike Tyson, voz de sargento.
_Ôu, ôu, me ajuda ali, por favor?
_Mas é claro, minha senhoura.
Ela arrebanhou mais dois marmanjos e fomos seguindo a figura.
_O que foi, Careca? – perguntou um sujeito, tatuado até o pescoço, na maior intimidade.
_Sei não, só tou seguindo a senhoura para uma ajuda.
_Ah. Vou tumbém – o povo alternativo é solidário pra dedéu.
_Rapêize, fiz um estrago no carro. Olha só – disse a nossa Summertime.
No estacionamento, uma Mercedes Benz estava com um risco gigantesco atravessando uma porta e terminando num contêiner de material de construção. Nós quatro, especialmente o tatuado, quase choramos. É triste ver uma máquina bonita ser estragada dessa forma. O acidente era fruto de uma barbeiragem tão grande que é até difícil de explicar. A senhoura havia simplesmente raspado a lateral do carro na quina do contêiner até enfiar. Não tinha jeito de dar ré ou ir para frente. Qualquer uma dessas alternativas resultaria em um rasgão estraçalhado da porta. Coisa que nenhum funileiro é capaz de consertar. Sem dizer uma palavra, nós quatro, os heróis, empurramos o carro para o lado e desfisgamos a Mercedez. O tatuado, que quase não tinha feito força, falou para a nossa Janis.
_Dona, o que é que a senhora vai dizer para o seguro?
_Ué, tem que dizer alguma coisa?
_É que barbeiragem o seguro não costuma pagar – disse o tatuado.
A Janis fuzilou o cara com os olhos.
_Está escrito em letras pequenas, bem miudinhas – ele disse, para arrefecer os ânimos. Nada como um diminutivo para ajudar a apaziguar o ser humano.
Mas a Janis não quis nem saber. Esculachou o tatuado. Xingou o rapaz em português, inglês e alemão.
_Dona, diz que um raio caiu de lado e acertou a porta – tentei ajudar.
_Dona, diz que a Mercedez foi vítima do Bin Lado – tentou outro cara.
_Olha Dona, a franquia cobre essa barbeirada, pode ficar tranqüila – disse um sujeito com pinta de advogado.
_Não, senhora. Diz a verdade. Diz que um contêiner atropelou a Mercedez. – fechou o tatuado.
E eu voltei para a manhã de letras. Ultimamente, evito confusão.
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11 comentários:
putz...quer dizer que dá certo, i.e., se a gente pedir muito, mas muito assim tipo "oh lord w´ont you buy a mercedes benz?" a gente ganha uma?
ô careca, que demais! :))
mas tem que se vestir de Janis?
Maria, acho que vale a pena se vestir de Janis, afinal de contas é uma Mercedez!
:)
ô sapientíssimo careca, vê se compra um tônico capilar ou quem sabe um implante, e deixe de boiolice. Sua aspiração, nada a ver com a neve do Kilimanjaro dos alternativos dos anos noventa, de ser o Woddy Allen permanece patente em suas elocubrações.
Véi, não sabia que tinha Internet no teu asilo. Vou levar um fraldão pra você na próxima visita. Do Mickey.
Dê uma olhada: http://welldiniz.blogspot.com
Com relação à fralda devo dizer o seguinte: é melhor trazer um caminhão basculante cheio, pois o merdel tá supimpa e fresquinho. O pessoal do asilo tá vibrando com a zabumba, já que o triângulo anda escasso. E haja vibração.
Véi, é você mesmo!! Sarou? Consertaram a sua radiola? Quando estiver podendo sentar aparece para uma cerva...
Véi, liga para o Feijó e pega. Fica com inveja não, é feio.
:)
Não é que o Velho é cabeludo e alternativo?
ô Careca, vai de bicicleta, que Mercedez, tá louco. O negócio é andar a pé.
Tai,
o Velho Tom escolheu uma foto beeeeeem antiga e assim mesmo escondeu o testão com um chapéu.
Bicicleta? Ir a pé? Carrinho de mão?
um dia rasguei o teto da van que o zé comprou numa braçadeira da garagem.
tipo com um abridor de latas. não imaginava que era tão fácil abrir carros.
Franka, o Zé deve ter ficado muito feliz. Você abriu o carro e nem precisou de um chaveiro...
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