domingo, 9 de março de 2008

Olho por dente, dente por olho




Fiquei chateado com a história do menino de oito anos que desistiu de cursar direito na Unip. Tá certo. Existem pais que expõem os próprios filhos a situações vexatórias. Existem cursos fajutos. Existem faculdades fuleiras que aceitam qualquer um que pague a mensalidade. E existem instituições que entregam diplomas que não servem nem para segurar a moldura. É preciso moralizar e coisa e tal.
Mas nada disso tem importância para aquele menino. Ele foi sincero em todas as etapas. Fez inscrição, estudou, passou, comemorou e até vestiu terno para foto. Foi prodígio na própria cabeça por alguns dias, talvez semanas. E depois barraram o menino na porta da escola, digo, da faculdade. Disseram para o pequeno gênio que tudo não passava de um engano. Ele não era gênio. O curso e a faculdade é que não prestavam. Coisa de doido. Quando tudo poderia ter sido muito diferente.
Imagino ele chegando em casa, voltando da faculdade, naquele dia. Desce do carro do pai, que o acompanhou para uma manhã de glória virada em fracasso. Dá de frente com o Juca, o menino do vizinho, que é a cara do Bart Simpson.
_Esse terno. Fezes ou primeira comunhão? – pergunta o Juca.
_Nenhum dos dois. Eles me barraram na faculdade. E você? Por quê não foi para a aula? – pergunta o herói.
_ Tou cum diarréia.
_Comeu sabão de novo? Ou vai alegar inocência?
_ Comi sabão. O que vai fazer agora?
_Entrar com uma petição para requerer a minha maioridade antecipada. Depois vou processar meus pais por exposição traumática, tortura psicológica, paternidade irresponsável, perdas e danos... tanta coisa. Mas de imediato dá para bloquear bens e confiscar passaportes.
_ Podemos brincar amanhã? – pergunta o Juca.
_Não vai dar. Tenho uma pilha de processos pra ler...
Não. Eu estava torcendo de verdade para aquele menino. Queria que no meio do curso ele pedisse transferência para a USP e fosse admitido. Queria que ele concluísse o curso e tivesse se tornado um campeão da justiça. Queria que ele, que nem o menino-prodígio Bob Fischer, inventasse o blitz-direito. Mas acho que não estamos preparados para mitos. Na verdade, não temos o menor saco para mitos, ainda mais mitos mirins. E não temos saco para posts EMOs, franjas e franjolas.
Ou talvez tudo tenha acontecido de uma forma diferente e melhor.
_Esse terno...Fezes ou primeira comunhão? – pergunta o Juca.
_Fezes. Vamos brincar?
_Ué, você não tinha faculdade?
_ Aquilo não é para mim não. É coisa dos meus pais. E você não tinha escola?
_Comi sabão de novo. E o que vai fazer agora?
_Estou pensando em algo mais criativo e dinâmico. Artes, teatro, cinema. Por outro lado, o direito é uma opção de carreira sólida, de futuro...
_Se quiser comer sabão, pode me chamar lá em casa – despede-se o Juca.

6 comentários:

Maína Junqueira disse...

Muito bom Careca!
Foi a melhor coisa que li sobre a tragédia do menininho de oito anos!
Se você me permite, vou mandar esse seu post para alguns amigos.

Careca disse...

Claro, M.J., fique à vontade.
:)

Anunciação disse...

Concordo com você.

Careca disse...

Valeu,
:)

Anônimo disse...

ahahahahahahahaha post EMO, adorei
acho que eu faço um monte hahaha franka ema hahaha

Careca disse...

EMO, OMO,OLA, eu também faço de tudo um pouco.

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