domingo, 2 de março de 2008

Encontrei o Mário Salimon




Encontrei o Mário Salimon, um dos meus grandes amigos dos tempos da universidade. Foi neste sábado, no supermercado. Eu, a Patroa, as crianças e todos os seres humanos que começam o mês com grana na conta fomos para o super. Estava lotado. E choveu a cântaros.
Foi legal encontrar o Mário. Amigo da universidade. Acho que todos os meus amigos daquele tempo me associam a confusão, desentendimento e bagunça. Mas talvez fossem os tempos. Eu mesmo tenho lembranças bem desordenadas daquela época.
O Mário era o cantor da turma. Todos nós sonhávamos em sermos heróis do rock´n´roll. O Mário era o líder da banda. Todos nós queríamos virar os ídolos da galera. O Mário tinha uma torcida feminina. Todos nós queríamos ser amados. O Mário tinha um fã clube de moçoilas que queriam rasgar a roupa dele. Todos nós queríamos cantar uma versão de La Bamba. O Mário cantava essa e fechava com Born to be wild. E a torcida feminina vibrava. O Mário cantava Love me Tender. E o fã clube ia à loucura. O Mário piscava. E aquela chusma de mulheres queria arrancar pedaços dele.
_Mário, qual é a sensação de ter um fã clube? - uma vez eu perguntei para ele.
_É melhor do que não ter, Careca – ele me respondeu, enigmático.
_Pô, Mário. Fala aí? – insisti.
_Aí? – revidou.
Todos nós queríamos aparecer na TV. O Mário aparecia direto, se apresentava no Teatro. Ele era artista quando todos nós éramos apenas estudantes pretensiosos. Ele pagava o aluguel com o couvert de uma noite fraca. Nós tentávamos juntar grana para ir aos restaurantes onde ele ia se apresentar. Só para você ter uma idéia, o Mário cantou diversas vezes com a Cássia Eller. A Cássia abriu shows para ele num barzinho chamado... pô, tinha uma dona muitcho louca, “Bom Demais”, isso no “Bom Demais”, um pé-sujo horroroso mas onde muitos excelentes cantores se apresentaram. Teve o Mário. Teve a Cássia Heller. Teve...bom, já não sei. Mas a Cássia cantava “Ne me quitte pas” só por causa dele, do Mário. E o Mário tomava cerveja com o Renato Russo. E o Renato Russo pagava, platonicamente.
Pois o Mário está super bem. Casado com a Tina, feliz com a sua casa que construiu e com seus filhos (o mais velho tem treze anos). E o Mário enfrentou uma fila de caixa gigantesca, junto comigo, só para que pudéssemos conversar um pouco. E teríamos conseguido, mas a Caixa saiu lá do caixa, chegou perto de nós dois e falou assim:
_ Vocês estão juntos?
_Não – disse o Mário.
_ Fazia tempo que nem nos víamos – eu confirmei.
A Caixa olhou para mim como se eu fosse um louco.
_Esse carrinho é de vocês? – ela disse, apontando para o carrinho do Mário.
_Esse é meu – ele disse.
_É dele – eu confirmei.
A Caixa olhou para mim como se eu fosse um imbecil.
_Por favor, avise a quem chegar depois que o senhor é o último da fila que eu vou atender – falou a moça do Caixa.
_Como é? – me intrometi.
A Caixa olhou para mim como se eu fosse surdo.
_Vou fechar o caixa depois dele – explicou a moça do Caixa.
A Caixa subiu a construção como se fosse um sólido (eita, Chico Buarque que gruda nas frases da gente).
A Caixa voltou para o caixa. E nós dois tentamos voltar a conversar. Mas toda hora chegava uma pessoa e o Mário explicava, na maior polidez e gentileza possível:
_ A moça do caixa pediu para avisar que a fila acaba no meu carrinho.
E é lógico que o ser humano não gosta disso. Mas nas primeiras cinco vezes, nenhum problema. Depois, um ou outro começou a querer fazer careta para o Mário. Que não deixou de dar o recado pedido pela moça. Conversamos e o Mário deu o recado pelo menos vinte vezes. E aí chegou a minha vez e eu fui para a esteirinha, descarregar carrinho, gerenciar o empacotamento, etc. Para ajudar, levantei a plaquinha de CAIXA FECHADO e mostrei para uns três sujeitos que insistiam em entrar na fila, atrás do Mário.
Quando as minhas compras estavam nos carrinhos, as crianças estavam acomodadas, a Patroa já tinha pagado e tudo estava pronto, fui lá e despedi do Mário. Que iniciou o processo de descarregar o próprio carrinho.
Mas enquanto ainda estava ali e a Patroa despedia do Mário, veio um sujeito criar caso com a moça do caixa.
_É um absurdo! Não vai mais atender?! É um absurdo!!!!O lugar está lotado e o caixa diz que vai fechar!!! Vou chamar o gerente! Gerente! Gerente!!!
E por um instante, eu fiquei feliz de não estar associado àquela confusão. Mas na cabeça da gente, daqui a dez anos, será que não vou lembrar de tudo de maneira diferente?

6 comentários:

Anônimo disse...

mário? que mário, careca?
famoso pra mim é você.
(esse mário tem blog?)

Maína Junqueira disse...

Com certeza vai Careca. Tudo diferente. Acho que podemos chamar isso de memória fluida...eu já estou pra lá da fluidez...acho que agora adentrei o estágio 'diáfano'.

Hum, você deve estar por volta dos 40 anos, errei? Algo assim como 42-43... (desculpe mas essa é uma mania minha, tentar descobrir a idade do outro a partir das histórias que conta). Ou será mais jovem, uns 35-38?

Careca disse...

Acertou a idade. E diáfano é uma definição excelente. Vou adotar.

Careca disse...

Franka, famoso é o Mário. Acho que ele não tem blog, vou perguntar. Você, além de famosa, é modesta. Comigo, modéstia chegou aqui passou longe...

Maína Junqueira disse...

Olha aqui o Mário, com site e cara de mau. Se eu não conhecesse a cadeira da foto, juraria que ele estava apoiado num carrinho de supermercado!

http://web.mac.com/mariosalimon/
MarioSalimon/Principal.html

Careca disse...

Ele mesmo. E aí não tem nem um quinto do CV do cara...

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