terça-feira, 25 de março de 2008

Humildade na montanha dos gorilas



Aprendi muito sobre humildade com aquele filme “Na montanha com os gorilas”, com a Sigourney Weaver. Mas antes desse filme, foi um professor de educação física da escola, chamado Sidão, que me ensinou os fundamentos da humildade.

O professor Sid era um ruivo alto e fortão, que gostava de mandar em caras pouco afeitos a fazer ginástica, como eu e um monte de gente. Ele separava a turma em dois grupos. Os que tinham potencial para atleta e os que não poderiam passar da condição de auxiliares técnicos ou torcedores animados. Eu e alguns outros preenchíamos todos os requisitos da última categoria, mas ainda poderíamos ser um pouco mais animado se nos esforçássemos um pouco. Para isso, o Sidão achava que eu, o Joka, o Rodrigão e o Cabeça tínhamos que ser mais humildes. E por isso, ele fazia discursos dignos do Fidel Castro sobre a humildade e as virtudes de oferecer a outra face.

Eu até acreditava no Sidão. Mas, com meu irmão mais velho, eu já tinha tido alguma experiência em oferecer a outra face. Levei cada tapão! E sempre doeu pacas. Por isso, embora de coração eu acreditasse que o Sidão tinha razão, as minhas duas bochechas não queriam saber de palmatória. Mesmo assim, com sua vocação para instrutor da SS, o Sidão não esmorecia. Tenho de tirar o chapéu. O cara era um sádico profissional.

O Sidão achava, por exemplo, que se eu fizesse flexões de braço toda vez que ele mandasse eu seria um excelente torcedor. Acabei concordando, humildemente, com ele. Eu estava cansado de manter a minha opinião própria sobre detestar jogar basquete e handebol. E além disso, eu estava cansado de fazer flexões de braço. Então, quando chegava a hora da aula de educação física eu já preparava um sorriso ambivalente e tratava de obedecer o Sidão. E até ria das piadas dele. Há, he, há, há. Era uma risada bem sem graça e adequada para aquele mala. Com hipocrisia e pretensa humildade, eu consegui sobreviver sem dores musculares. (Sidão, se você algum dia ler isso aqui, saiba que apesar de detestar cada segundo daquelas suas palestras educativas sobre humildade, salvei os pneus do seu Maverick. É fui eu que não deixei que o Rodrigão, o Joka e o Cabeça furassem os quatro pneus. Depois os quatro pneus apareceram furados, mas não tive nada a ver com aquilo)

Depois eu vi o filme dos gorilas. E aí aprendi muito, mas muito mais sobre humildade. Aprendi que a respiração é super-importante se você quiser demonstrar que está sendo humilde de verdade. Ééééé. Não pode fungar. Não pode olhar no olho, diretamente. Não pode rosnar. Não pode grunhir. Não pode bater no peito. Não pode soltar pelo. Não pode comer piolho do outro. Não pode um monte de coisas.

Depois que você vê o filme é que percebe porque a humildade é tão importante. A mensagem é bem clara. Se você for humilde o bastante poderá ficar sozinho numa montanha cheia de gorilas, fugindo de caçadores.

6 comentários:

macost disse...

Careca,
estou sem respirar ha mais de 2 segundos, to aprendendo! :)
Sério, Careca (se é que vc nos leva a sério...rs), eu tbem acho que a performance de sobrevivência na selva é tudo (acabei de ver uma simia passar...afe... to sentada na minha sala, com a porta aberta, monitor de costas pra macacada)!!
um abraço
PS: ando ocupada mas sempre leio seus escritos. Deixo de comentar por falta de tempo, pelos trabalhos, por conta da vida e pela falta de paciência e de humildade com os demais...:))

Careca disse...

Maria,
no dia em que você enjoar dos trabalhos, eu e os gorilas ficaremos felizes em receber você, aqui, nessa montanha...
:)

macost disse...

Obrigada Careca. vc sempre tão gentil!
Então tá: eu levo uns bolinhos e vc traz o café e os amigos ok?
;)

Careca disse...

Maria,
tem certeza que posso levar aqueles gorilas?

Anônimo disse...

os gorilas são uns caras meio tristes. já olhou para eles bem no fundo do olho? já viu algum rir?

Careca disse...

Franka,
tenho medo de me torcerem o pescoço, por isso eu evito olho no olho com os gorilas. E eu sempre acho que eles estão, secretamente, rindo de mim.

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