sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Os zumbis da Patroa




Ele não dá conta de falar “hipnotizar”. Tem só quatro anos. E essa palavra é complicada. Mesmo assim, gosta de fingir que está me hipnotizando.
_Você é um leopardo! Você é um leopardo!
Ele gosta muito de leopardos. E eu finjo que sou um leopardo para que ele fique feliz. Hoje está chovendo muito e todos estamos cansados da TV e do computador. E também estamos cansados de desenhar e de correr pelo apartamento (eu não gosto de incomodar os vizinhos, mas de vez em quando, que se dane!). A irmã já foi devidamente hipnotizada. Ela, se não me engano, é um atum, o peixe que caiu do décimo oitavo andar (aaaaaaaaaaaaaaaatum!).
_Você é uma baleia! Você é uma baleia!
Ou melhor, ela é uma baleia. E agora, leopardo e baleia estão fugindo de um monstro.
_Eu sou o Monstro do Cabide!!Ho,Ho,Hou!
O Monstro do Cabide faz sucesso até hoje. E é fácil de guardar no armário.
_Esse monstro tem risada de Papai Noel?
_Não. Essa é a risada especial de monstro.
_Hoje é Natal? – pergunta a menina.
_Não, o Natal é em dezembro.Agora foge.
E o Monstro do Cabide continua em nosso encalço. Eu, leopardo, e ela, baleia, corremos lado a lado. Se o monstro nos alcançar, ficaremos presos no armário. Até ele contar até vinte. E isso é terrível. Não podemos admitir. Mas o monstro é veloz. E num instante nos alcança. Somos fechados no armário. E ela senta sobre os meus pés.
Depois de cumprirmos a nossa pena, saímos do armário. Mas o monstro está cansado.
_Vamos brincar de outra coisa?
_De quê? – pergunta a menina.
E uma dúzia de alternativas são apresentadas pelo menino. Mas nenhuma delas agrada a irmã.
_Bom, vocês me chamam quando decidirem.
Começo a fazer uma coisa e depois outra. Puro Yak shaving. E depois agarro um livro. E eu já li um bom pedaço das Crônicas Marcianas (Ray Bradbury) quando estranho o silêncio. Encontro os dois na varandinha, que virou quarto de brinquedos.
_E aí? Vamos brincar de quê?
_Zumbi – respondem os dois.
_Zumbi? E como é que se brinca disso?
E os dois estendem os braços para a frente. Ensaiam passos com as pernas duras, como se não dobrassem os joelhos.
_Juntem-se a nós! Juntem-se a nós! – os dois dizem, fazendo caretas.

E quando a Patroa abriu a porta, os três zumbis a perseguiram até que ela também andasse com os braços esticados para a frente e fizesse caretas.

4 comentários:

Maína Junqueira disse...

Ah, Zumbi. De onde eles tiraram a palavra, o nome?

Quando minha filha fez 5 anos, ganhou um cachorro da tia. Eramos só nos duas e então, o cachorrinho, um daschund de 1 mês e meio. Foram 3 semanas para ela escolher o nome (ela tinha alguma 'coisa' com nomes). Um após outro até que o bichinho ficou sem nome por mais uns 4 dias.
Aí ela entra no meu quarto e comunica: - mãe, o nome dele é Zumbi.

E foi Zumbi, adorável Zumbizinho, por 13 anos.

Bom final de semana para você e seus zumbizinhos!

Anônimo disse...

hahahaha, aqui sempre foi ao contrário. quem incentivava as brincadeiras sempre fui eu, a mãe-infantiloide-em-casa (excelente zumbi), e não os filhos. até hoje eu adoro me fingir de sonâmbula feito um desenho do pato donald. faz muito suceso, tente.

Careca disse...

Obrigado, M.J.. Aqui em casa aprenderam a palavra com um desenho animado do Scooby-Doo. O DVD teria furado, se ele não tivesse se auto-destruído (levaram ele para o carro, onde foi lixado, lascado e quebrado).

Bom final de semana procê também!

Careca disse...

Franka, quando eu finjo de sonâmbulo acabo com vontade de dormir. Mas vou tentar.

Frase do dia