terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Manias de supermercado II



Alicate igual àquele eu nunca tinha visto. Era esquisito. Parecia de pressão, mas tinha uma ponta especial, projetada não sei para quê. Obviamente, comprei e levei para casa. Depois de alguns meses eu estava cheio de alicates em casa, é claro. Embora até hoje eu não saiba para que serve aquele primeiro, de ponta especial. Acho que seria um feliz comprador de alicates até hoje se eu não tivesse cometido um erro crasso. Esqueci uma caixa de alicates onde ela poderia ser vista pela Patroa. E o que tinha de acontecer, aconteceu.

Naquela noite, a Patroa foi muito gentil e até me deixou escolher o filme na locadora.
_Benhê, cê viu o C.R.(apelido do meu controle remoto)? – eu perguntei melífluo e insinuante.
_É só seguir a trilha...
E quando ela disse “trilha” percebi que estava no meio de mais uma lição psicológica da Patroa. Uma trilha de alicates seguia do aparelho de TV até onde eu havia esquecido a caixa de alicates. Lá embaixo da caixa, os restos do C.R. (Rest In Peace, Oh, My Brother) repousavam por todos os lados e entre as bocas metálicas de jacarés-alicates.(Desculpe, eu tento matá-lo, mas às vezes o poeta que há em mim consegue escapar). Às lágrimas, tentei socorrer o C.R. com uma super bonder da minha coleção de colas rápidas, mas foi impossível.
_Levei um susto de ver tanto alicate. Esbarrei e a caixa caiu em cima do C.R., meu bem. Não foi por querer. Mas é melhor assim. Acho que foi para o seu bem. Aliás, tenho certeza, vou te explicar – disse a Patroa, condoída como ela só.
E depois de meia hora de explicações eu saquei.
_Você quer dizer que o C.R. se suicidou debaixo da caixa de alicates para impedir que eu continue a comprar alicates?
_Mais ou menos. Melhor o C.R. debaixo dessa caixa que o meu pé. Aliás, a mamãe ligou e eu já emprestei uns alicates para ela.
_Um alicate? Qual?
_Todos.
Humildemente, eu ainda espero que um dia ela devolva.

A vida continuou. O triste fim do C.R., esmagado e espedaçado, inaugurou em mim uma série de fases puramente consumistas. Não me orgulho nem um pouco do prazer estúpido e inebriante de abrir embalagens. Mas confesso que senti um leve resquício de pura nostalgia romântica de apertar o C.R. ao comprar o primeiro dos meus controles remotos universais. Isso me levou também a outras fases consumistas. Todas terríveis, avassaladoras. A fase da parafernália para automóveis. A fase dos cabos e placas para computador. Das caixas de som e equipamentos sonoros. A fase da bicicleta e seus múltiplos acessórios. A fase das câmaras e memórias digitais. Da minha modesta coleção de pen-drives. Mais recentemente, o MP3, o MP4, o Ipod e sua infinidade de produtos associados.

Mas a lição psicológica do alicate ainda está acesa na minha mente. Antes que a coisa dengrigole, eu sempre penso no C.R.(RIP, O, MB!). E no pé da Patroa. Penso mesmo, de verdade.
Até mesmo agora, que voltei do supermercado. Ali, na seção de brique a braque, vi uma linha nobre e muito interessante de lixas. Em realidade, é extraordinário como as lixas são prolíficas em variedade, cor, textura e utilidade. Como ainda tenho algumas prateleiras escondidas, acho que não haverá problema em comprar algumas...

4 comentários:

Anônimo disse...

voltei.
e vou começar a chamar o meu controle de CR também.
(roubo de idéia total e descarado hahahaha)
aliás, engraçado demais esse seu blog. dia desses farei um post pra você, falando daqui. posso?

Anônimo disse...

e pra que voce precisa "aprovar" esses comentários, careca?
voce é um tipo de professor, isso aqui são provas, alguns passam de ano (de post)?
assinado: franka, a intrometida.

Careca disse...

Franka, volte sempre. Ficarei honrado com um post seu. É claro que pode.

Careca disse...

Franka, esse papo de aprovação na verdade é falta de intimidade com a coisa do blog. Vou ver se tiro esse treco.

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