quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Dois velhos amigos
No Caminho, acompanhando o caixão do Juvenal, conversávamos sobre os próximos enterros.
_Não sei não, Careca, mas o Juarez está meio abatido.
_Que nada Alencar, o Juarez está firme como uma rocha.
_Rocha nada. Só se for rocha pedra-pomes. Outro dia mesmo vi ele babando na hora do banho de sol.
_Eu vi também. Mas eu também babei. Foi por causa da enfermeira nova.
_A Sandrinha? Quero dizer, a Sandra?
_A Sandrinha, sim. E você também estava babando.
_Estava sim. É só o que me resta. Babei e babarei até o último fio de saliva...
_Fala sério, ô Careca.
_Tá bom. Na minha opinião, modesta, o próximo é o Vandir.
_O Vandir? Mas o Vandir já morreu, ô Careca.
_Se morreu, ninguém disse isso pra ele. Olha lá ele jogando flores no caixão do Juvenal.
_É mesmo, rapaz!
_...
_Pra quem tinha diabetes ele está muito bem, olha só. Sem bengala, sem muletas, sem cadeira de rodas...
_Sem pernas. Ele está no colo do enfermeiro, ô Alencar.
_Mas está longe de partir...
_ Inteiro. O Vandir está indo a prestações. Olha lá, a mão esquerda também já foi.
_E quem é aquele ali?
_Ali onde?
_Ali, do lado daquele sujeito parecido com você. Virgem Maria! Aquele está mal. Olha só, as olheiras, a cara encovada, o cabelo embaçado...Não dou mais nem uma semana para o infeliz.
_Mas é você Alencar! Aquilo é um espelho...
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