sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Borat na livraria
Uma crônica do Rubem Fonseca me ensinava que a pele é o maior e mais pesado órgão do ser humano. A pele respira, bebe, seca, quebra e morre sem que a gente dê muita pelota para ela. A pele racha, incha, entra em erupção, junta cravos e encrava pêlos. Não era isso nem era assim que estava escrito, mas o livro de crônicas estava muito bom. E eu caminhava para a segunda página dessa crônica que fala sobre pele quando fui interrompido pelo vendedor.
_Gosta do Rubem? – perguntou, melífluo(Gosto muito dessa palavra. Existem parágrafos com entrelinhas. Melífluo é uma palavra com subtextos maldosos entre as sílabas).
_Oh, sim! O Rubem – e lá vou eu para a sacanagem de sempre, que agora eu chamo de “Borat-na-livraria” (Eu ainda não vi o filme mas ri à beça com os treilers).
_Pois é, gosta? – insiste o vendedor.
_Nãaaaaaooo. Do Rubem? Nãnãninininanão. Mas simpatizo. Por quê? É amigo seu?
_Não, mas é que...
_Você gosta dele?
_Gosto, claro, é ...
_Como amigo, é lógico, né?
_Não, eu nem conheço...
_Não conhece o Rubem! – e aqui eu geralmente falo um pouco mais alto.
_Conheço. Conheço. Como escritor, é claro.
_Então você conhece o Rubem?
_Olha, o Senhor está...
_Conhece ou não conhece?
_Conheço, já li uns livros dele.
_Você já visitou? Já esteve com ele?
_Não. Não.
_Telefona para ele?
_Não. Nunca.
_Escreve? Manda e-mails?
_Não. Não. Eu nem sei o e-mail dele.
_E sabe quanto custa esse livro?
_Ânh, aaah, vou ter que olhar no sistema. Só um instante, por favor.
_Ei, onde você vai com esse livro?
_Só vou consultar o preço, senhor.
_Você vai trazer de volta?
_É claro, só um instante, por favor.
_Não, senhor! Me devolve! Ou eu chamo um vendedor!
_Mas eu sou um vendedor!
_Então prove! Me diga quanto custa esse livro? Heim? Quanto custa? Hãm?Hãm?
_Eu não sei de cor, meu senhor. Tenho que olhar no sis-te-ma!
_En-tão ve-ja no sis-te-ma se cus-ta mais de vin-te pra-tas. Se for mais eu não vou le-var.
Eu estava de mau-humor e sarcástico.Obviamente, era mais uma daquelas vezes que você está com o livro certo, na hora certa e com os números errados no saldo do cartão de crédito. Queria deixar o livro no balcão da livraria e, só pela frustração, esquecer o nome dele para sempre. É, daqueles esquecimentos de tomar remédio e continuar esquecido. Daqueles esquecimentos que nem com flash-back você lembra direito. Com imagem meio embaçada, o som enrolado, igual daquela vez em que eu tive flash-back de verdade, no meio de um filme da Disney/Pixar. Eu gritando de pavor entre dezenas de criancinhas gargalhando...
_Olha, moço, custa mais de vinte reais. Vai levar?
E eu levei. Porque contra a humildade, contra a gentileza, contra os puros de coração, não há sarcasmo que resista.
(Franka, não esqueci da crônica de agradecimento não. Eu vou colocar...)
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4 comentários:
(se for o último dele achei bem médio)
agradecimento? ai que vergonha. faz não. depois você é daqueles que inventa de fazer poesia rimada, já pensou? franka - branka - tranka - manka?
Pô Franka, você já usou as melhores rimas! Vou ter que fazer um acróstico:
F azia um sol de rachar moleira
R apaz, era daqueles de fritar
A í eu pensei comigo mesmo,
N ão vai dar para blogar
K aí na besteira de googlar e aí
A chei esse blog sensacional!
A canção está correta. Pelo menos, eu adoro um careca, se for assim como voce!!
Mani, eu também me adoro mas a Patroa não quer que eu cante mais essa canção pro espelho! Um abraço,
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