quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Vidal e o sonho de voar



Chromeo - 'Hot Mess'

Gore Vidal está morto, mas alguns de seus livros estão nas minhas estantes e algumas de suas histórias ficaram gravadas na minha cabeça. A primeira coisa de que me lembrei ao saber de sua morte foi da sua paixão por voar. Lembrei, sobretudo, de um texto publicado numa antologia dos 30 anos do The New York Review of Books. Nesse texto, Gore Vidal conta como, aos quatro anos de idade, teve os tímpanos estourados durante o vôo inaugural do avião de passageiros realizado entre Nova York e Los Angeles com algumas personalidades célebres do final dos anos vinte nos EUA. Pilotando a máquina estavam Charles Lindberg, Amelia Earheart e o pai de Gore Vidal, Eugene.

Nesse texto, Gore comentava que seu pai era um empreendedor e visionário, um homem que queria que todo homem pudesse ter seu próprio avião para andar de lá para cá nos Estados Unidos da América. "O sonho de meu pai era por todo mundo no ar, como Henry Ford colocou todo mundo na estrada", ele dizia, mais ou menos assim, no meio do texto. Em outro momento, Vidal conta que no início dos anos 30 o governo americano decidiu lançar um projeto para a criação do avião de pobre. Por 700 dólares, o cidadão poderia comprar o seu próprio avião particular. Bom, é assim que eu lembro.

Eu corro para a estante para encontrar o livro, mas devo ter deixado essa antologia na minha outra estante, a da juventude, que ainda hoje deixo intacta na casa dos meus pais. Não importa. Lembro que era um texto longo e envolvente, em que ele contava parte da história do desaparecimento de Amélia Earheart e de como o sonho de um avião para cada americano foi se desfazendo aos poucos, depois de uma série de acidentes. Havia também algum tipo de insinuação sobre um romance entre Amelia Earheart e Gene Vidal.

Uma descrição de seu pai empurrando o presidente Roosevelt numa cadeira de rodas também me vem à cabeça, mas já não lembro mais porque isso acontecia. Lembro apenas que Gene Vidal tinha sido nomeado bambambam da aviação comercial dos EUA e que Charles Lindberg de alguma maneira havia contribuído para a ruína dos sonhos de seu pai.

Foi por causa do texto de Vidal nessa antologia que um dia comecei a procurar seus livros. Em muitos deles encontrei a mesma paixão, um jeito de contar histórias e estórias que me fazia mergulhar de cabeça e permanecer submerso. Vidal é tão inteligente e sofisticado que o leitor também se sente inteligente e sofisticado ao ler seus livros. Uma grande perda.

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