quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Ping pong



The Dandy Warhols - Plan A

Meu pai e eu jogamos ping pong durante muitos anos. Começamos a jogar na cozinha do apartamento. Eu tinha uns nove ou dez anos. Era uma cozinha pequena, mal havia espaço para a mesa improvisada. Jogávamos sobre a mesa de fórmica em que fazíamos as refeições. A mesa tinha os cantos arredondados, mas jogávamos mesmo assim. Quem jogasse do lado em que havia uma geladeira tinha um espaço menor ainda, por isso era muito importante acontecer uma troca de lado durante as disputas. Eram partidas de 21 pontos, com vantagem e melhor de três no caso de empate no vigésimo ponto. Caso houvesse novo empate, haveria nova rodada de três pontos. Por causa disso, às vezes uma única partida demorava meia hora ou até mais. Isso era problemático porque sempre havia alguém esperando a próxima. Em geral, era o meu irmão mais velho. Jogamos durante anos naquela mesinha. Um dia fizemos uma pequena revolução e convencemos minha mãe a nos deixar usar a mesa da sala. Era bem maior a mesa da sala, era de vidro quase do tamanho oficial e com os cantos bem menos arrendondados. Também tínhamos mais espaço para mover as pernas. Na cozinha, o melhor era jogar com os pés bem plantados no chão, só era preciso ter jogo de cintura. Na sala, era possível dar até dois passos para o lado e um passo para trás. O problema é que minha mãe tinha muito ciúme da mesa e então só jogávamos na sala em ocasiões especiais. Um dia ficou simplesmente impossível jogar ping pong na cozinha. E logo em seguida, a sala também ficou pequena. Depois já não tínhamos mais tempo.

Uma das coisas mais legais de jogar ping pong é que você pode falar o tempo todo. Não é tênis de mesa. É ping pong. Meu pai também inventava algumas regras.

_Choro vale dois - ele dizia.

_O saque reverte quando queima.

_Não pode prender a bola para dar o saque.

_Vale saque-cortada.

_Casquinha conta ponto em dobro.

Às vezes a regra era criada na hora, para por um fim a uma partida interminável.

_Opa, colocou a mão na mesa, perde um ponto - ele dizia.

_Sacar do mesmo lado não vale.

_Cortada de bola de efeito conta quatro.

Eu me empolgava com aquilo. Era divertido.

Meu irmão também achava um barato. E um dia ele inventou um saque que acreditava infalível.

_É o saque meia-volta!

O saque era meio estranho. Ele batia a bota na diagonal, mas com efeito. Pareciam bolas fáceis, mas bastava tocar na raquete para que a bola fizesse um movimento muito estranho.






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