quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Causou-me espécie!
AC/DC - Highway To Hell
Começou mal. O nosso superior tribunal, assim como a nossa justiça, tem o vício do barroco empolado, do palavrório castiço, do juridiquês nauseabundo. E assim como nossos parlamentares, nossos juízes também adoram uma manobra regimental de última hora para adiar qualquer coisa. Por isso não me espantei quando dois ministros disseram um ao outro, bem olhos nos olhos, que o que um dizia causava espécie ao outro. Nessa hora, liguei o meu tradutor de empolês: um disse pro outro que sentia repulsa e vontade de vomitar com o que o outro falava. Eu também.
Foi preciso que o presidente do tribunal acalmasse os meninos alterados, enquanto seus coleguinhas faziam cara de paisagem e limpassem as unhas. O mal-estar entre eles foi provocado por uma questão de ordem levantada em função do pedido de desmembramento feito pelo ex-ministro que cobra 15 milhões para advogar para bicheiros. Não se sabe quanto cobra de mensaleiros, acho que é mais. De imediato, foi amparado por um longo voto lido pelo outro ministro, o decantado Levanduísque, aquele que chegou lá por causa da mulher do vizinho. Achei lindo. O advogado pede uma coisa e um dos juízes já saca do bolso um imenso calhamaço pronto para apoiar o pedido. Caramba, que juiz mais prestativo, sô! Se continuar se esforçando chegará a estafeta do advogado de defesa, é uma beleza.
Aí eu lembrei de um artigo que diz que o Levanduísque fez das tripas coração e demorou oito meses para escrever um parecer de revisor sobre um relatório de 122 páginas. Por causa disso, pessoas vulgares o chamaram de Enrolanduísque, de Embromanduísque e até de Levianuísque. Parece que só para desmentir esses detratores, Levadinho foi capaz de se antecipar e escrever umas 50 páginas sobre uma questão de ordem antes mesmo dela ter sido levantada no julgamento. O homem é um prestidigitador! Ou só sabe escrever ditado, pois foi o único a ler conteúdo. Foi soprado, disseram. Os outros falaram de improviso, cada qual na sua medida.
Como não poderia deixar de ser, pessoas baixas chamaram Levanduíski de ventríloquo de bravateiro. Esses críticos disseram que em sua arenga o ministro preferiu recitar o palavrório orquestrado e encomendado pelos inimigos do processo, incluindo aí referências partidárias.
Para superar a questão de ordem, Nossas Excelências falaram, falaram, falaram, falaram, e muito mais teriam falado se a mesma coisa já não tivesse sido dita em duas ocasiões, sobre o mesmo mensalão, nos últimos anos. Por nove votos a dois, mantiveram então a decisão de não desmembrar o processo. Nessa hora, confesso que até a minha data vênia já havia cochilado.
Mesmo entediado ao extremo, consegui perceber que aquele ministro que já deveria ter se declarado impedido também votou na questão, o que me dá a impressão de que participará do julgamento. Não é à toa que em alguns círculos esse bacharel está sendo chamado de ministro Tofu, porque ele não parece um queijo, não tem cheiro de queijo e não passou nem em concurso para juiz do trabalho. Duas vezes.
Fica para esta sexta-feira o aguardado falatório do procurador geral. Espero que tenha sucesso em sua peça acusatória. Seja como for, a melhor frase sobre o pré-mensalão já foi cunhada pelo procurador: só haverá justiça se todos forem condenados. Ele adiantou que não vai puxar a orelha do ministro Tofu e pedir o seu impedimento, até para não criar um fato que auxilie os chicaneiros a adiar o julgamento. Nesse particular, vale lembrar que vários ministros, o procurador e até a namorada do Tofu já pediram para ele pegar o boné lá no foro íntimo dele e dar o fora do julgamento, pô. Sai fuera, Tofu! Causa-me espécie!!
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