Minha mulher escolheu belos lustres aqui pra casa. E também já instalamos os rodapés. Eles não são de madeira. Parecem à beça com os de madeira, mas não são. São de uma espécie de plástico. Uma máquina enorme e barulhenta instalou todos os rodapés numa tarde dessas. A máquina parecia daquelas máquinas que fazem rosca em PVC. Era verde. Fez um barulho infernal, mas eu não estava em casa.
Com essas duas coisas, terminou a reforma. Quando começou, parecia que não ia ter mais fim. Mas acabou bem antes do meu pessimismo admitir.
E agora eu estou na varanda, onde montei uma nova mesa de trabalho, super bonita. E eu olho para os lustres, que são lindos. Quer dizer, não são lustres. São luminárias. Têm o formato de uma mesa de dois pés, de cabeça para baixo. E iluminam bem. Mas não são lustres, eu acho.
Aí eu reparo na mesinha. Tem uma mesinha aqui em casa que, na verdade, é uma espécie de um mistura de um revisteiro com um carrinho de bebidas. Tem rodinhas, essa coisa. E embaixo dela tinha um monte de jornais. Eu só compro jornal na quinta-feira. Então presumi que os jornais eram do vizinho de frente, que está viajando.
_Mulher, você pegou os jornais do vizinho? - eu pergunto, só para puxar conversa.
_Ele está viajando. E a pilha estava tão grande que não dava para abrir a porta do elevador.
_Hum, hum. Sei. Mas os jornais são dele.
_Depois a gente devolve.
_Mas ele vai achar que eu peguei para ler.
_Então não devolve.
_Aí, é pior. Ele vai achar que eu roubei mesmo.
_Deixa disso. É só devolver.
_Não senhora. Vai parecer que eu fico roubando jornal o vizinho.
_Não seja bobo. Não é você que vive dizendo que jornal velho só serve para embrulhar peixe.
_Eu digo isso a você e não ao vizinho. Vai ver, ele nem conhece esse dito.
_Até parece!
_Já posso ver ele conversando com o porteiro. Comentando com os outros vizinhos, com as empregadas e babás. Falando que eu sou um "careca e ladrão de jornais".
_Ai, Careca, não complica. Os jornais estavam entulhando o corredor. Não dava para abrir a porta do elevador. Eu peguei e coloquei aqui em casa, em segurança. Ninguém mexeu nos jornais.
_ Ah, mas vai parecer que isso tudo é desculpa. E das mais furadas. É melhor prevenir do que remediar. Vou lá devolver tudo, agora mesmo.
E é lógico que assim que abri a porta, com o monte de jornais nas mãos, o elevador chegou com o vizinho de volta das férias.
3 comentários:
eu voto em devolver o jornal.
abraço.
* Carecone, deois dê uma conferida nesse cara http://www.estuario.com.br/
ele é um jornalista pernambucando que escreve pra caramba. boas crônicas.
bem feito
Bono, o pernambuco é bom mesmo.
Leila, obrigado pela solidariedade.
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