terça-feira, 7 de julho de 2009

Ainda antes que cresçam

Ainda antes que as crianças cresçam, sinto falta de quando eram pequenas. É uma ausência sentida das mesmas coisas que, de vez em quando, também me deixam cansado. Acordar de noite por causa de menino, por exemplo, é meio chato. Mas também é muito bom ajeitar o cobertor até a medida do ombro do seu filho e observá-lo dormir novamente, com um sorriso nascendo no canto da boca.

A mesma coisa quando um deles vem dormir na cama de casal. Estava tão confortável e quentinho antes da menina chegar e mudar a geografia dos corpos na cama. Mas sentir o perfume do cabelo encaracolado é um sonífero dos mais gostosos. Ou então prestar atenção na respiração e perceber que o nariz não está mais entupido ou que agora ela está tendo bons sonhos, só pode ser, porque agora ela parece brilhar no escuro.
Da época em que eram bebês, tenho saudades de dar banho, de cuidar do umbigo, de tomar cuidado com a moleira e de cortar as unhas, para evitar que se ferissem com as mãos desajeitadas. Unhas finíssimas e tão afiadas quanto papel.

Embora não sinta muita saudade de trocar fraldas, até mesmo disso guardo boas lembranças, boas risadas e até uma pequena vingança. Lembro daquela vez em que troquei a fralda do meu filho na poltrona do avião lotado, só porque os caras da frente fizeram careta quando viram as crianças. Foi uma vingança barata, é verdade, mas não quis esperar a fila do banheiro. Em todas as viagens as crianças se comportaram super-bem, nem dor de ouvido tiveram, porque a minha mulher sempre usou os macetes para evitar dor de ouvido.

De todos os banhos dados na banheira, tenho saudades. De embrulhar o bebê, com o fraldão em triângulo, fazendo um pacotinho que só deixava o rosto de fora. Tento recordar como é mesmo que se dobra a fralda e no filme da minha memória vem a lição da enfermeira, repassada na voz da minha mãe.

_Olha, é assim que se faz, tem que ficar um “xarutinho”, para que o nenê se sinta aquecido e seguro – e era isso mesmo, porque se fizesse errado, se ficasse bambo, o bebê disparava a chorar.

Também gosto muito de lembrar dos banhos de luz, dos bebês ainda de olhos puxados se esticando para absorver o sol. Toda aquela luz do início dos dias, na varanda. Era tão bacana apoiar os calcanhares para que se arrastassem e esticassem. Era o prenúncio de um engatinhar. Era tão gostoso.

E ainda é, com as pequenas coisas de agora. Vejo o entusiasmo do meu filho, que lê tudo o que se coloca na frente, empolgado por ter conseguido ler as placas dos nomes dos bichos do zoológico. E também a menina, com sua tagarelice fantástica. Ela emenda as frases uma na outra para chamar a atenção até se esquecer do que está falando. É puro nonsense, mas os olhos brilham inteligentes e ela abre um sorriso lindo, deliciada de perceber que eu presto atenção e a vejo, só a ela, naquele instante. E ela se orgulha de si mesma, eu noto. Eu também me orgulho.

Não é verdade que ter filhos encha as pessoas de amor e que isso transborda e se espalha e torna as pessoas mais humanas e, de alguma maneira, melhores, mais gente e mais transcendentais. Mas quero acreditar que isso um dia poderá acontecer comigo.

2 comentários:

Vivi disse...

Ai careca ... assim eu fico triste ... minha bebê vai fazer 5 meses, mas já fiquei nostálgica e deprê ...
cheguei aqui pela Anna V. e adorei - parabéns !!!

Shirley de Queiroz disse...

Meu filho tem apenas 1 ano e dois meses e eu já sinto saudade de algumas coisas. Colocar pra tomar sol, quando ele tinha só alguns dias... Do pacotinho para deixxar seguro... Ai, que delícia...

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