sexta-feira, 31 de julho de 2009

Abraço de pai

Eu me considero um pai amador. Tenho dois filhos, um casal. E pai profissional tem, no mínimo, três. Eu conheço uns caras que têm três filhos. E um ou outro que têm quatro. Admiro muito. Se usasse chapéu, eu tiraria para esses caras. É preciso muita coordenação. Também é preciso ter uma certa disciplina, que reconheço faltar em mim. É muita responsabilidade.

Também é preciso ter auto-controle, coisa que às vezes me escapa. Sou meio explosivo. Criança observa tudo e com dois filhos já é difícil, é difícil. Principalmente manter a pose de durão e sabichão. Até os dez anos de idade, é muito importante manter essa pose, dizem os especialistas em paternidade. Os pais profissionais que eu conheço assinam embaixo. Eles também explicam que o bom exemplo de dureza e sabidice só dura até essa idade, depois os meninos desandam a desafiar a autoridade, viram comunistas rebeldes revolucionários e colam poster do Che Guevara na parede. Sem falar que exigem aumento de mesada.

Por tudo isso, eu sei que eu sou um pai amador. Especialmente se vamos todos ao cinema. Manter a pose de durão e sabichão é fogo. Porque aí eu preciso tomar cuidados redobrados, ler a sinopse do filme. É que eu não posso ver abraço de pai e filho em filme de Hollywood. É uma fraqueza minha, tenho de admitir. É bem verdade que os americanos capricham demais nessas cenas. A música fica exultante, no melhor estilo "Jesus-alegria-dos-homens". Os olhos dos atores brilham, a fotografia fica mais tenra que alface recém-tirada da horta. É uma beleza. Nessa hora eu procuro disfarçar com uns espirros, mas a minha mulher já me conhece e sempre aperta a minha mão no cinema, numa espécie de afago de consolo. Não adianta nada, é claro. Mas no escuro do cinema, os meninos não vêm e tudo passa despercebido, graças. Daí a pouco eu tiro os óculos e fico esfregando os olhos.

_Esses meus óculos não valem nada - eu digo para minha mulher.

_É, eles sempre te fazem lacrimejar no cinema - ela diz, como se me avisasse que é melhor eu ficar por aí, senão o gato sobe no telhado.

E eu fico. Cena de abraço de pai e filho no cinema é demais. É demais.



(Feliz Dia dos Pais a todos os pais e ao Meu Pai e ao Meu Irmão, profissionais com mais de três)

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