sábado, 11 de julho de 2009

Ao vencedor, as buzinas II

Ali, na lojinha, uma multidão de sujeitos de capacetes, luvas, óculos escuros e tênis especiais foram se juntando dentro da loja para acompanhar, ao vivo, o grande prêmio de ciclismo da França ou seja lá o que fosse aquilo. Isso também complicou a aquisição da bicicleta da minha filha, porque o dono da loja era um torcedor fanático de alguém chamado Latour, ou Latourfe, não entendi direito. Então a coisa ficava assim:
_Vai Latour! E o CPF?
_Meu?
_Latour!Latourfe, cést lê melhér! É o seu.
_Meu o quê?
_CPF! Latour, olha a frente!É à vista?
_Já falei o CPF.
_Pode repetir? Latour, Latourfe! Vai! Pode?
E assim por diante. Demoramos duas horas para adquirir a primeira bicicleta. E isso só ocorreu porque a corrida acabou e a malta de ciclistas torcedores saiu da loja. Afinal de contas, estava ficando tarde e a turma da bicicleta gosta muito de pedalar ao sol. Quando estávamos saindo, minha mulher fez uma pergunta ao vendedor.
_Cadê a fita que parece o cinto de segurança da cadeira de boneca?
_Não tem isso, senhora.
_Tem, sim. Pega lá o manual que eu mostro.
E lá se foi o vendedor e dono da loja a buscar o manual. Ele não sabia com quem estava se metendo. Minha mulher desenvolveu naquele coitado os famosos golpes secretos ninjas que humilham o oponente, derrubam o moral e fazem o ser humano desejar ser um mero roedor de queijo. Basta dizer que, no final, ele pediu desculpas balbuciantes e babuínas sob o olhar triunfante da minha mulher e da minha filha. As duas sabiam tudo o que havia na bicicleta, no manual e na caixa do manual e da bicicleta.
Já eram onze e meia e quando eu achava que tudo estava resolvido, minha filha faz uma pergunta ao vendedor.
_Não tem buzina?
Dessa vez, já vacinado, o vendedor e dono da loja correu a buscar uma buzina linda, colorida e bem feminina na prateleira da loja. Custava uma grana, a danada da buzina.
_É um brinde.
Ao vencedor, as buzinas, eu pensei comigo mesmo. Mal sabia eu que ainda era muito cedo para cantar vitória, embora já fosse tarde pra dedéu. Na verdade, já havia meia hora que a luz do sol já não era recomendável para camelos e beduínos e eu não havia saído de boné. Mesmo assim, enfrentando os riscos de uma insolação, resolvemos estender os trabalhos até a próxima loja de bicicletas, onde já havíamos feito o mapeamento do terreno e descoberto uma bicicleta considerada perfeita para o meu filho.
Felizmente, eu pensei, as duas horas de aprendizado intensivo de como funcionam as lojas de bicicletas já haviam me preparado para o que me aguardava.
_Vou querer aquela aro 20 ali, para o meu filho. Nem precisa embrulhar, nem nada. Ele vai pedalar daqui pra casa. Vou pagar em três vezes neste cartão e aqui está a minha carteira de motorista com o meu endereço, identidade e todas as informações necessárias.
_E qual é mesmo o seu CPF, senhor?
Mas antes que eu respondesse, escutei as vozes atrás de mim.
_Ei, você tem capacete cor-de-rosa?
_Tem câmbio shimano?
_Freios...

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