O mundo está que é só uma grande aldeia. E já começamos a imitar hábitos de outras tribos. Pois não é que outro dia eu estava numa festa de aniversário de menino com Piñatas. Os meninos todos em círculo, um indiozinho com venda, um porrete na mão e ali, pendurado no galho de uma árvore, uma piñata. Tinha a forma de um pássaro, com um bico fino e estreito. Depois vim a saber que era uma representação estilizada de um colibri mexicano, de mais ou menos 50 centímetros de comprimento.
Si, pero que si, pero que no. Jamais poderia adivinhar pelos restos mortais da tal piñata. Seguramente, se fosse um ser vivo, seria necessário um exame de DNA para descobrir que bicho era. Isso porque o moleque que estava com a venda não demorou dois segundos para acertar uma tremenda porretada no tal do colibri. Embalado, o colibri de papel rachou ao meio e derramou uma chuva de balas e doces sobre as crianças. Em um milésimo de segundo foi puxado pelo bico e disputado a tapas e chutaços pelos pimpolhos. Foi triturado, estilhaçado e espicaçado nos escassos segundos que uma Ferrari leva para trocar os quatro pneus no Box de uma corrida. Depois disso, não restou nada da piñata, a não ser alguns minúsculos pedacinhos de papel, menores do que confete.
Fiquei surpreso pela tal piñata. Mas depois um dos pais ali presentes me informou que agora é comum ter festa com piñata. Ele mesmo já tinha ido numas três ou quatro só naquele mês. Fiquei surpreso pela enorme quantidade de festas de aniversários a que meu interlocutor comparecia. Mas era lógico. Em setembro, nove meses depois das férias, os aniversários abundam. Aquela, no entanto, era a minha primeira festa com piñata.
No sábado seguinte, eu estive em outra festa. E lá também teve piñata. Era enorme. Uma grande cabeça cinza de elefante em papel machê, com muitas fitas coloridas e um belo par de presas forradas com papel camurça. Os indiozinhos estavam todos ali, em círculo. Um bastão de beisebol foi entregue para o aniversariante. Dessa vez fizeram a coisa direito. Rodaram o menino vendado até que perdesse um pouco o equilíbrio e o soltaram. Ele não sabia que estava longe do alvo. De verdade. Tentou olhar por baixo da venda. Não deu. Tentou umas três porretadas e desistiu. Em seguida, outros meninos tentaram a sorte. Meu filho foi um dos últimos. E acertou de leve na cabeça de elefante, com grande torcida da meninada. Até que o aniversariante voltou e acabou com a brincadeira. Como da outra vez, sobraram apenas confetes.
Então eu encontrei o mesmo pai da última festa.
_ Não falei. Piñata agora é moda, comentou, como se tivéssemos conversado há apenas dois parágrafos.
_É, bacana, eu disse.
_Você é mexicano?
_Não, eu sou brasileiro.
_Eu também.
_ E gosta de piñatas?
_Esta é a segunda que eu vejo.
_Eu já estou cansando.
_ Podia ser pior...
_ Pior como?
_Podia ser aquela dança caribenha, com bastão...
_Calypso.
_Ispso, você tem que passar debaixo da barra, sem perder o ritmo, joelhos pra frente, dobrar o corpo até o ombro quase tocar o calcanhar...
_Calypso, ele repetiu. É terrível. Já estive em duas festas com isso. Em geral, são os pais que dançam o calypso depois dos cumplyanos.
Um calafrio tomou conta da minha espinha.
_Cumplyaños?
_Parabéns. Depois dos parabéns.
E no sábado seguinte, eu chego para mais um aniversário. Depois dos cumplyaños e das guacamoles e de uma ou duas tequilas, uma barra é equilibrada sobre dois apoios, as marimbas, os chocalhos e as castanholas são preparadas e os mariachis e os ritmistas caribenhos botam para quebrar. Fico pensando nessa aldeia global e não deixo de dar uma risada ao imaginar um monte de mexicanos comendo feijoada, enchendo os cornos de caipirinha e dançando pagode depois de cantar parabéns.
2 comentários:
:-))))
M.J., eu sou muito ruim com mímica e emos. Vamos ver se consigo:
:_@--!
Se você conseguiu ver um cachorrinho abanando o rabo... você tem uma imaginação e tanto!
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