sábado, 20 de outubro de 2007
A águia e a coruja
Todo mundo conhece a fábula da águia e da coruja. As duas aves resolvem parar de brigar. Selam as pazes devorando juntas um pombinho distraído. As novas amigas também juram que nunca irão tocar nos filhos uma da outra. E como reconhecê-los? _Se forem três pimpolhos lindos e maravilhosos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em nenhuma outra ave, pode se afastar que são os meus filhos, disse a coruja. E no dia seguinte, a águia encontra os filhotes da outra. _Horríveis bichos!, disse ela. Vê-se logo que não são os filhos da coruja.E come os filhotes. A coruja retorna e encontra só umas peninhas manchadas de sangue. Acha também uma pena de águia e resolve tomar satisfações._O quêêê? Aqueles monstrengos eram seus filhos?E a moral da fábula é: quem o feio ama, bonito lhe parece.Portanto, só para resumir, eu não tinha motivo nenhum para duvidar da minha amiga Maira sobre os atributos da namorada do Francisco Natalício, um amigo nosso, que foi morar no Rio de Janeiro. A Maira é bem casada, feliz e sorridente e não teria motivos para exageros ou mentiras. Ela descreveu a namorada do Francisco como “carioca descolada”, “uma mulher linda de morrer”, “maravilhosa”, ¨tentação”, “pedaço de mau caminho”, “artista de cinema” e “carne de primeira”, para acrescentar que o nosso amigo estava mais feliz que pinto no lixo. Acreditei. O Francisco é um cara muito legal e merece toda a felicidade do mundo, ainda mais se for no Rio, ao lado de uma beldade encarnada que deveria estar fazendo sucesso ao lado de Nicole Kidman. A descrição da namorada aconteceu há uns dois anos, mas ficou entranhada na minha cabeça. A cada vez que um dos amigos mencionava o Chico, das saudades dele e do seu bom humor, do seu jeito goiano de ser, eu me lembrava dos adjetivos citados acima entre aspas. A eles, por conta própria do passar do tempo, acrescentei outros: “diva da Barra”, “gata”, “leoa de Copa”, “felina carioca”, “magnífica”, “madona” e “Afrodite do Leblon”.E assim, num dia desses fui para mais um almoço entre amigos e quem abriu a porta foi a namorada do Francisco._ Você só pode ser o Careca, o Chico falou muito de você, é o único que não tem cabelo, só pode ser, é o Careca não é, e cadê a Patroa ?, o Chico falou que você é o único que chama a mulher de patroa sem apanhar, cadê ela?, trouxe cerveja?, pode entrar, quase ninguém chegou ainda...Meu Deus, o que era aquilo? Imagine a Catherine Zeta Jones sem botão de pausa e com o botão de avançar apertado. Era ela. Espetacular. Mas só se você estivesse de fone de ouvidos. A mulher do Chico era uma beleza acelerada, uma Ferrari faltando apenas uma volta com a Mclaren na cola. Bonita de se ver, mas fazia um barulho danado.Consegui balbuciar algumas exclamações e fui me esconder próximo à geladeira, sob o pretexto de guardar as cervejas. O Chico não estava, ainda tinha pouca gente, de forma que não tive alternativa a não ser sentar ao lado e ouvir a saraivada de palavras da namorada do meu amigo. Entre 10 perguntas, eu conseguia encaixar meia resposta em uma breve pausa para respirar. Estávamos assim, num monólogo entrecortado por onomatopéias, igualzinho ao Galvão Bueno pedindo comentários para o Romário, quando a Maira chegou._Puxa, Maira, o Careca é muito legal, mas não é o conversador que você tinha falado, aliás ele quase não fala, e você disse que ele gostava de contar histórias, e não me contou nenhuma, aliás, Maira, ele é mais careca do que você tinha avisado, puxa, ele é totalmente careca...E então eu me lembrei da coruja e da águia.
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