Um dia alguém me falou que os meus pais faziam aquilo.
_Aquilo o quê, ô Vlamir?
O Vlamir era um poste bossal meio valentão que morava na quadra de baixo.
_Aquilo ué. Aquilo que o macaco faz no pé de côco.
Teria levado um socão na hora, se não fosse a turma do deixa disso. E olha que o Vlamir era o dobro no tamanho e quase o triplo no peso. Não queria nem saber. Teria bordoado de primeira, sem pestanejar.
Um outro menino, o Leônidas, também quis dar pitaco.
_ È isso mesmo, ô Careca! Todos os pais fazem aquilo.
_Os seus podem fazer. Os meus não. Nem a quilo, nem a grama.
_Deixa de bobeira, cara.
_Nem vem, Léo. Pópará.
Cheguei em casa e contei para o mano.
_O Vlamir falou que o papai e a mamãe fazem aquilo.
_Falou, é?
_Falou.
_E o quê cê fez?
_Ia dar uma nele, mas os caras me seguraram.
_ Deixa pra lá.
_Mas mano...
_ O pai e a mãe fazem mesmo aquilo.
_Nem brinca.
_É verdade. Todos os pais fazem. Ou você acha que o pai casou para ficar na mão, feito você.
_Mas a mãe é tão religiosa.
_Deixa de ser besta, ô Mané. Sexo é uma coisa natural entre adultos que se amam.
Meu irmão, além de ser o campeão da frase feita, também já tinha lido a enciclopédia e me falou tudo o que eu desejava saber sobre aquilo e não tinha coragem de perguntar para ninguém. Eu já sabia de quase tudo, só não imaginava que aquilo também acontecesse lá em casa. E ainda por cima com os meus pais. E o pior de tudo, com a minha mãe. Naquela noite, no jantar, eu não consegui olhar direito para os dois. (Continua)
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