quarta-feira, 24 de abril de 2013

Fala, Barão!



CeeLo Green feat. Christina Aguilera - Baby It's Cold Outside

Ainda tenho alguns amigos do tempo da universidade. Não nos frequentamos, nem nada, apenas mantemos aquele silêncio respeitoso de quem se entende, sem descartar o risinho irônico preso no canto da boca como quem diz: eu te conheço de outros carnavais. Penso pouco nesses amigos, sou um sujeito meio arredio, tenho uma memória muito curta e ultimamente tenho evitado despesas ao máximo, o que inclui gasolina e dinheiro pro café. Mas a internet está aí, o celular é uma facilidade e de vez em quando (raramente) encontro algumas pessoas. Hoje, para minha surpresa, ligou o Molina.

Aqui eu preciso abrir um parênteses para tentar descrever o Molina. De uma maneira rápida, na universidade havia ingênuos, revolucionários, reacionários, otários, gente boa, alienados, bocós e manés como eu. Mas só havia um frasista realmente demolidor, o Molina. Naquela época nós adorávamos discutir e argumentar. Algumas pessoas eram realmente muito boas nisso. Posso me lembrar de pelo menos duas pessoas que eram realmente muito boas em discussões sobre qualquer coisa, mas só posso me lembrar do Molina como o único capaz de encerrar uma disputa verbal com uma frase acachapante e demolidora.

Também é preciso dizer que ele gostava de fazer isso, de ser irônico, mordaz e ferino de um jeito que deixava o interlocutor se sentindo um idiota gaguejante. Mas ao mesmo tempo, não havia nada de ameaçador ou de atemorizante no Molina. Ele sabia como ridicularizar uma pessoa sem deixá-la magoada. Era como se te chamasse de imbecil e ao mesmo tempo lhe desse um tapinha nas costas: tudo bem, você é um trouxa, mas vamos tomar um chopp e falar de alguma outra coisa que você entenda. Ou algo assim. Na minha percepção, e sempre posso estar equivocado, o Molina era o mais próximo do que poderia ser definido como um duelista verbal sacaneta, mas gentil.

Fiquei contente com a ligação dele, nos cumprimentamos, trocamos as gentilezas telefônicas de praxe e fiquei esperando. Bom, acontece que o Molina também ficou esperando.

_Pode falar - eu disse.

_Sim, tudo bem, manda bala - ele disse.

_Hã?

_Mas foi você que me ligou. Eu só apertei o botão de retornar - ele disse.

_Putz! Me desculpe, Molina. Devo ter apertado o número errado.

_Pô, nunca liga pra mim e quando liga foi por engano - disse Molina.

_Foi mal. Eu liguei para o meu cunhado, o Moa, era sobre o imposto de renda.

_Ih, nem me fala, também preciso fazer a declaração.

_Mas quais são as novidades?

_Tudo na mesma.

E enveredamos pela sucessão de lugares comuns que finalizam uma conversa de telefone.

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