terça-feira, 2 de abril de 2013

Sobre fé



AC/DC - Sin City


Sempre tive dúvidas sobre o que é a fé verdadeira. Não estou falando de Deus e nem de religião. Estou só falando de fé. Existem pessoas que acreditam que ela move montanhas e está alojada no mais profundo lugar dos nossos corações. Isso me impressionava muito quando era criança. Em primeiro lugar, eu não conseguia acreditar com tanta força. Isso fazia de mim um não removedor de montanhas logo de cara, o que combinava com o meu tipo físico. Aliás, combina até hoje. Também achava que tinha um coração pouco profundo, do tipo raso. Pensando bem, mesmo acreditando com muita força, não consigo nem ao menos remover esmalte de unhas. Não que eu use esmalte. Meu coração, por sua vez, está um pouco envelhecido.

Talvez por ser um tema muito abstrato, as metáforas e comparações sobre o significado da fé sejam tão fantásticas. Algumas pessoas me diziam que a fé era a mesma coisa que fazia Peter Pan voar e Papai Noel presentear as crianças boas. Essas pessoas eram bem intencionadas, mas eu já sabia quem era o bom velhinho e achava que o alucinógeno que o Peter cheirava um dia chegaria ao mercado. Talvez já esteja mesmo por aí. E alguns conhecidos realmente bateram asas.

Uma vez alguém me disse que ter fé era como torcer por um bom resultado do time mesmo se o técnico viesse de uma equipe rebaixada para a segunda divisão e o craque se jogasse no chão toda vez que recebesse a bola. Eu deveria ter prestado mais atenção nesse sujeito e não só porque ele tinha um jeitão de profeta. Se estiver vivo, tenho certeza de que ele deve estar em algum lugar da arquibancada entusiasmado com a seleção brasileira e apostando alto em alguma outra.

_É cam-pe-ão! É cam-pe-ão! – ele deve estar gritando.

Fé, me disseram depois, é uma mistura do mais profundo e puro desejo que somos capazes de ter, com uma confiança de entrega imediata sem necessidade de garantias. Gostei dessa definição por um bom tempo. Depois percebi que o mesmo se aplica a olhar vitrines e fazer compras pela Internet.

Fé é desejar o impossível, resumiram outros. Gosto de definições curtas. E essa é realmente muito boa, especialmente no que se refere à Scarlett Johansson. De acordo com essa definição, tenho muita fé em Scarlett e uma dúzia de outras estrelas de cinema. Ou talvez não tenha tanta fé assim, já que trocaria todas por Scarlett.

Agora que estou me aproximando da minha quarta grande crise da pré-meia-idade, também percebi que estou em mais uma crise de fé. As pessoas possuem catalisadores diferentes para uma grande crise da meia-idade. Eu conheço um sujeito, é mais um conhecido do que um amigo, que já percebeu que entra em crise todas as vezes que vê um boneco, um papagaio-boneco, num programa de televisão de grande audiência. Em geral isso ocorre quando ele está distraído, correndo na esteira da academia e, sem querer, olha para a televisão. O problema é que ele fica agressivo quando entra em crise e começa a destruir coisas. Ele já está endividado por causa do papagaio. Ele começou uma terapia e a psicóloga optou por uma solução catártica. Estimulou esse cara a criar pássaros. Ele escolheu uma calopsita e tentou estrangular a psicóloga. Está preso.

Por causa desse conhecido eu comecei a prestar muita atenção para descobrir o que pode ser o catalisador das minhas crises de meia idade. Primeiramente pensei que era a visão de um extrato bancário todo pintado de vermelho. Mas talvez tenha criado resistência a saldos negativos, hoje em dia isso só provoca um tique nervoso, que não vou dizer qual é. Depois pensei que eram filmes novos com Bruce Willys. Assisto aos filmes com ele desde a época em que ainda não fazia filmes, só televisão. Aí percebi que chorava muito depois de ver os filmes com o Bruce não porque ele é um bom ator. Ou porque ele é um mau ator. Mas porque ele também é careca, possui milhões de dólares e continua careca. O que prova que mesmo se você for uma celebridade famosa, ter milhões de dólares e acesso ao que há de melhor em todo mundo, nada do que você fizer fará com que seus cabelos nasçam novamente. Nem mesmo um punhado deles. E estamos falando só de cabelo, poxa, perdemos centenas de fios todas as semanas. Só então, quando penso nisso, é que tenho uma crise de fé.

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