quinta-feira, 18 de abril de 2013

A fisgada



Phantogram - "When I'm Small"


Leio uma entrevista em que John Irving - um dos escritores que mais admiro - revela que escreve seus livros de trás pra frente. "Podem ser os últimos parágrafos ou umas duas ou três páginas do final, escrevo ao contrário até que eu tenha uma sensação mais sólida sobre o sentido daquilo, se está soando da maneira certa. Você tem que saber como é a sua voz ao final da história para saber como ela vai soar quando você começar". Penso em usar esta revelação para aprimorar o meu método de seleção de livros, que consiste em ler o primeiro parágrafo do livro e esperar pela fisgada. Às vezes ela não acontece no primeiro parágrafo e então dou mais uma chance para o livro com a leitura do segundo parágrafo.

Venho lendo livros desde que mandaram o homem à lua, então percebi que os editores dos bons livros já descobriram que uma das melhores maneiras de se convencer alguém a comprar a publicação é fazer com que o segundo parágrafo seja grande o bastante para terminar na página seguinte. Virar a página é um momento crucial para mim, se eu fizer isso acabo levando aquele volume para o caixa. Isso explica porque o parágrafo inicial de um livro está sempre um pouco acima da metade da primeira página, mais ou menos na linha dos 3/4. Mas, depois da declaração do J. Irving talvez eu devesse começar a ler também a última das páginas e começar a comparar o tom de voz do narrador.

Minha mulher já está completamente adaptada à modernidade e tem lido livros e mais livros eletrônicos. Eu ia dizer "montes e montes de livros", mas não se aplica. Aliás, para mim esse é o grande problema do livro-e, ele exige que você repense coisas tão banais quanto o hábito de virar páginas. Eu, por exemplo, me acostumei a virar páginas de livros sem tocar o interior da página, faço isso com cuidado, usando as laterais. Sou cuidadoso. Não gosto de deixar muitas marcas no livro, até abro pouco para não forçar a cola e garantir que as páginas continuem bem presas à lombada da capa. Houve uma época em que eu escrevia meu nome e data de aquisição na primeira ou na última página. Mas deixei de fazer isso. Hoje em dia não sou mais tão possessivo com os meus livros e não faço muita restrição a empréstimos, a pessoa só precisa assinar um termo de responsabilidade.

Tudo isso é pra dizer que ainda não fui fisgado por um livro eletrônico. Já reli uma porção de livros-e e até comprei alguns. É bem verdade que é muito mais fácil passar uma página eletrônica do que folheando um livro, mas talvez eu tenha restrições de outro tipo, ou goste de papel, ou simplesmente não goste de livros-e.





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