_O nome é Terceiro Ano Crânio – disse o meu filho.
_Legal, é o nome que você queria, não é filho? – eu disse.
_É. Eu falei Crânio e depois eu disse Guepardo. Mas eu queria mesmo era Crânio – ele disse.
_Puxa vida! Vai ser ótimo estudar no Terceiro Ano Crânio. Seus amigos devem ter achado o máximo – eu disse.
_Não sei, pai. Eles dividiram a turma – ele disse.
_Como assim, dividiram? Não, senhor, isso é i-na-cei-tá-vel. Não se mexe em time que está ganhando. Tudo aí precisando de união, a inflação começando a disparar, o corte de orçamento, o aumento pequetitinho do mínimo e dividem a sua turma!! Pô, isso não vai ficar assim, não. Vamos protestar! – eu disse.
_Mas pai, não cabia todo mundo na mesma sala. E a gente se encontra no recreio – ele disse.
_Não, senhor. Essa turma se conhece desde a mais tenra idade, vocês aprenderam a deixar de usar fraldas praticamente juntos – eu disse.
_Pô, pai, eu não uso fralda desde os dois anos de idade. E não tem problema, acho que vou gostar. Tem um monte de gente nova na sala – ele disse.
_E aqueles seus amigos? Ficaram na sua sala ou na outra? – eu disse.
_Eles ficaram na outra – ele disse.
_Mas isso é um absurdo! É um crime! É in-to-le-rá-vel! Seus amigos de anos! E agora irremediavelmente se-pa-ra-dos! – eu disse.
_Não tem tanto tempo assim, pai. Uma sala fica do lado da outra. E vai ser bom fazer novas amizades – ele disse.
_Acho que eu vou lá na escola conversar com a orientadora pedagógica. Este é um momento crucial da sua formação e é fun-da-men- tal que uma série de variáveis simplesmente não sejam variáveis. Todo mundo sabe disso – eu disse.
_Não, pai, não precisa, não tem problema. Eu estou bem – ele disse.
_Sim, senhor. Vou até lá amanhã para passar essa história a limpo. Quero saber porque eles não fizeram uma sala de novos alunos e deixaram você na sala com os velhos alunos - eu disse.
_Mas pai, não tem ninguém mais velho. A maioria tem sete anos. E não tem tanto aluno novo assim. Não dá para fazer uma sala só para eles - disse meu filho.
_Então eles poderiam misturar os dois grupos, bem misturados - eu disse.
_Tudo bem, pai, eles tentaram - ele disse.
_Mas não conseguiram - eu disse.
_Pô, pai, nada de pagar mico na escola, hein - ele disse.
_Mico? Eu? Estou exercendo um direito fundamental do ser humano. Quero saber porque meu filho ficou sozinho numa sala de aula, com os amigos todos na sala ao lado. Só isso - eu disse.
A minha mulher achou que seria mesmo um mico. E por isso ela é quem foi conversar com a orientadora pedagógica. Não havia uma explicação razoável, é claro. Decidiram que meu filho e outro menino teriam que ficar separados, pois um não deixava o outro se concentrar. Teriam que ficar em salas diferentes. Como só existem duas salas do terceiro ano, calhou do meu filho ficar separado dos outros companheiros de sala.
É uma questão menor, eu digo para mim mesmo. Mas não é, é óbvio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário