Antes que eu me esqueça, corro para anotar a conversa com a minha filha na manhã de hoje, indo para a escola:
_Paiê, olha lá aquela nuvem!
_Não posso, filha, tenho que prestar atenção no trânsito.
_Mas é uma nuvem Ursinhos Carinhosos, paiê!
_Caramba, é o meu tipo de nuvem predileto, filhota. Mas não dá para olhar agora, tenho que prestar atenção na pista. Olha só aquele ônibus ali. O motorista deveria ser algemado a um gorila no cio, que horror!
_Paiê, agora a nuvem virou Ursinhos Carinhosos Bêibis. Está muito mais bonita.
Nuvem bêibi é sempre mais bonita mesmo, mas não posso tirar os olhos da pista. Um motoqueiro vem fazendo zigue-zague nos espelhos retrovisores, o que me deixa um pouco confuso.
_Cadê aquela moto?
_Puxa, paiê, você não presta atenção em mim – reclama a minha filha.
_Presto, filhota, mas não quando estou dirigindo.
_Você nem viu a nuvem. Nem a bêibi nuvem.
_Quando a gente parar eu vejo, filha.
_Aí ela não vai ser mais Ursinhos Carinhosos.
_É só fingir um pouco.
_Não. Não funciona. As nuvens Ursinhos Carinhosos não são fingíveis. Nem as bêibis.
E o resto do caminho ela ficou calada e séria. Acho que nem olhou mais pela janela.
Quando paramos eu sabia que já não havia mais nenhuma nuvem no céu.
2 comentários:
É como eu relatei em um de meus textos... Nos preocupamos tanto com o mundo a nossa volta que acabamos não reparando nos pequenos detalhes que poderiam nos trazer belos sorrisos e histórias a serem contadas.
Srta B, sim, você tem razão.
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