A escola nem-tão-alternativa-assim onde meus filhos estudam adota uma sistemática interessante para a definição dos nomes das turmas das crianças: o voto direto com o braço levantado. Vence o nome que tiver mais braços levantados. Foi assim que no ano passado, a sala da minha filha se chamou “Jardim Pato”. Foi unanimidade. Todo mundo quis pato. E todo mundo levantou os dois braços. Por causa disso, a turma Pato ganhou até um pato de verdade de presente. A escola considerou a iniciativa didática, embora eu tivesse dúvidas sobre os ensinamentos que pudessem vir a ser transmitidos pelo animal. Mas os meninos e meninas aprenderam muito com ele. Por exemplo? Aprenderam o que é pé chato. Seja como for, o bicho cresceu e está enorme, outro dia vi atrás de uma grade. Suspeito que em breve vai virar um prato ao tucupi, ou com laranja.
A sala ao lado da sala da minha filha tinha uma borboleta grande grudada na parede, bem perto da porta. Sim, você adivinhou. Era o Jardim Borboleta. Após a escolha do nome, as crianças adotaram diversas lagartas. Não. É mentira. Um dos pais teve a paciência de recolher lagartas no jardim de casa e levar para a escola. Foram tantas lagartas que a escola resolveu dividir entre as turmas do jardim para as aulas de "metamorfose".
Uma das coisas mais sensacionais do jardim da infância é aprender sobre metamorfose. Esse conhecimento é muito estimulante. A feiúra da lagarta pode se transformar numa bela borboleta. Então, tudo é possível. Certo. Tirante a calvície.
A turma do meu filho também tinha nome ecológico. Era Primeiro Ano Planta. Meu filho me disse isso entredentes, mas eu percebi que ele não estava entusiasmado pela maneira como olhava para o próprio umbigo. Não pedi para repetir. Durante uns dez meses, nós evitamos falar do nome da turma. O ano passou rápido. Eu também não me liguei muito na temática, eu confesso.
Às vezes, os assuntos e temas mais deliciosos estão debaixo do meu nariz, mas a minha empáfia faz com que eu não perceba. No meu tempo, os meninos não escolhiam o nome da turma. Era tudo número e letra. Primeiro A. Segundo Ano B. Terceiro E. Tudo muito cartesiano, eixo x, eixo y. Uma chatice total. É lógico que é muito melhor crescer numa turma em que você participa da escolha do nome. Ainda que você não tenha levantado o braço para o nome vencedor.
Neste ano, minha filha está no Pré Arco-Íris.
_Eu queria Rosa, paiê, mas só eu levantei os braços.
_Ué, e o seu primo? Ele está sempre do seu lado. Pensei que ele ia levantar o braço junto com você.
_ Ah, paiê, ele agora só anda com os meninos, nem brinca mais comigo. E ele gosta mais de roxo.
_Roxo é uma cor legal. E você, filho, como chama a sua turma.
_Segundo Verde - diz o menino. Mais uma vez, percebo que ele não está satisfeito com o nome da turma. A antiga primeira série é o atual segundo ano. O menino já está alfabetizado, mas só agora começa a ter provas e avaliação de verdade. Embora no ano passado ele também já fizesse dever de casa. Assim, se ele tivesse entrado no ano passado no atual segundo ano ele estaria adiantado, embora estivesse apenas na primeira série. Mas como ele entrou na primeira série, ele passou para o segundo ano, o que equivale à série seguinte ao jardim de infância. Ao que parece, a alteração é o sonho orgiástico de um burocrata, pois melhora as estatísticas e ao mesmo tempo provoca uma confusão dos infernos na cabeça da gente.
_Verde é um nome bacana, filho.
_É pai, mas eu queria outro nome.
_Qual?
_"Rock". Queria que a minha turma chamasse Segundo Ano "Rock".
_Rock é bem radical, filho.
_É bem manêro.
_Se eu estivesse lá eu teria levantado os dois braços - eu disse.
E teria mesmo. O garoto é antenado. Quer ritmo e música para nome da turma. Por mim, eu teria achado ótimo ter estudado no Segundo Ano Feijoada.
4 comentários:
Ah paiê.....
na minha época de colégio de freira era simplesmente prézinho da TIA LUCIA!
Nunca fui com a cara da sujeita...
Mas era melhor que prézinho da MADRE JOAQUINA... aquela era o cao!!!
Emanuele, minha mãe conta que eu era apaixonado por uma Irmã do Pré. Eu era tímido e me escondia quando ela passava na rua. Não lembro o nome dela.
O sensacional é que nesse tempo a gente realmente acredita que aquela eleição é a coisa mais importante, que a garotinha ruiva é a coisa mais importante, que o time da escola é a coisa mais importante.
abração
Bono, pra mim o mais super-mega-legal é que essas coisas são as mais importantes até hoje.
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